sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

AINDA SOBRE A FALÊNCIA DE NOSSA CULTURA, MAIL DA PROFESSORA LISSI BENDER DA UNISC


Esta preocupante realidade de que tu, bem a propósito, falas  foi historicamente construída. Para a maioria dos brasileiros educação não tem um fim em si mesmo, falta-lhe a compreensão de que educação deve formar integralmente o ser humano. Educação aqui no Brasil é antes vista como um sacrifício, como um meio para se atingir um fim, como um emprego, por exemplo. Se este fim não é alcançado, costuma-se compreender que todo o “sacrifício” foi em vão. Ouço muito: “tudo que gastei com o curso foi pra nada”. Ah, educação é gasto que se faz, não investimento em si próprio.

 

A isso se agrega a  reforma de ensino de 1971, promovida pelo regime militar. Lembras  de quando nós frequentamos a escola? Havia Admissão ao Ginásio, havia Ginásio técnico e Ginásio científico, Segundo grau técnico e científico. Nós ainda somos frutos desse processo educacional anterior à derrocada iniciada em 1971. Com a reforma foram excluídos o latim e a filosofia dos currículos. O aprendizado de Línguas estrangeiras foi considerado supérfluo (até hoje recebe este tratamento nas escolas). Leitura foi considerada desnecessária, tanto que a redação foi excluída do vestibular (reintroduzida mais tarde quando perceberam o estrago feito). Desestimulando a leitura,  não mais foi promovido o  saudável hábito da reflexão,  a formação do  juízo crítico. Com aquela reforma, toda a formação humanística foi colocada no lixo;  desaprendemos o valor da vida, desaprendemos a ser éticos, desaprendemos tantos outros valores substanciais para a vida em coletividade. Cidadania virou sinônimo de direito, o sentido de dever foi se esvaecendo. E ainda há governos municipais que promovem eventos para a formação cidadã que servem muito mais ao lazer (com esportes e shows), do que à promoção da consciência cidadã, isto pude ainda hoje constatar em meu jornal local.

Louvo também as palavras de nossa confrade Laís. Não sabemos, nem queremos saber nada de Latim,  nem nos importamos com nossa língua oficial, que se dirá, então, de nossa diversidade linguística (uma das maiores no planeta)! Simplesmente fazemos de conta que não existe.

 

P.S.: quanto à afirmação de Chico, de que a Bossa Nova teria sido imposição das elites e o Funk seria fruto da democracia. Pergunto:  não seria antes fruto da televisão brasileira, formatadora de manadas?