segunda-feira, 24 de setembro de 2018

VISITANDO MEU AMIGO EDSON NO RIO DE JANEIRO

Conheço o Edson, dono de uma Barraca de caipirinhas, cervejas, aluguel de cadeiras de praia e guarda-sol há uns 20 anos. Toda vez que vou ao Rio, onde me encontro agora, visito Edson, bem ao lado do Posto 5 em Copacabana. Eu me hospedava no Miramar que fica na Atlântica e bem na frente, na praia, o glorioso Edson com sua barraca e  rede de vôlei. Funciona assim: ele monta tudo pra ti e vai anotando tuas despesas num caderninho. No dia de tua partida tu acertas tudo com ele. Se estás com celular, dinheiro e queres dar uma caminhada, entrega para ele que está seguro. Quando meu filho Rudolf era criança, o Edson tinha uns gurizinhos também. Deixávamos o Rudolf brincar com os guris e íamos caminhar. Edson mora na favela e é um cara de fé. Toda vez que o encontro lhe dou uma bandeira do RGS e uma camiseta do Inter.
Quanto a jogar vôlei na rede dele, só com sua aquiescência. Se não , nada feito. Edson me deu todas as dicas sobre o que fazer e o que é perigoso no Rio.
Os anos passaram, Rudolf está com 22 anos e os piás de Edson já são papais.
Deem uma olhada nas fotos deste meu querido amigo.










quarta-feira, 19 de setembro de 2018

IMPORTANTE ARTIGO DE ASTOR WARTCHOW


Sob o domínio da incerteza

 

A adolescência e a juventude são períodos no qual a convivência pública toma o lugar - ainda que não totalmente - das relações familiares. São os novos grupos de relacionamento, experiências e descobertas. Além de ampliar as perspectivas pessoais, trata-se essencialmente da constituição do sujeito e sua aceitação social.

Entretanto, não é o que estamos vendo. Um número cada vez maior de jovens promove um estreitamento de suas relações e dos espaços passíveis de ocupação e circulação.

Os mais frágeis e suscetíveis à “competição social” desenvolvem formas de isolamento, gerando preocupações clínicas aos pais. Trata-se de uma resposta racional e biológica ao “mundo” herdado, “um mundo” decadente, onde não é (mais) possível viver (mais).  

Pesquisas confirmam o que já sabíamos no dia-a-dia, nas notícias de jornal, nas filas do desemprego, etc..., isto é, a dificuldade de ascensão social. A mobilidade social – ascender(subir) de uma classe social para outra de nível superior – está relacionada à questão educacional e ao (des)emprego.

O quadro é perturbador porque está associado à incerteza que recai sobre o futuro da juventude. O desemprego provoca o que os cientistas sociais chama de “transversalidade”: a experiência com a polícia/trabalho/desemprego.

Somos uma sociedade gravemente doente. Criminalidade, violência e desorganização social são as evidências. Proliferam novas formas de dominação, há um crescimento dos sentimentos de medo e insegurança, há o estímulo de uma “cultura do excesso”, etc...

São fatores que afetam negativamente a organização social e comprometem a comunidade. Consequentemente, alimentamos conflitos e discriminações assentadas em classes sociais, em questões de gênero, raciais, religiosas, tocante à opção sexual, ao estilo de vida, às idéias regionais e ao comportamento. 

Não é à toa que crescem certas seitas e religiões que oferecem aos jovens uma nova ideologia, uma espiritualidade, uma identidade, uma opção de inclusão social.

E como tudo pode piorar, aqui estamos em meio a um processo político-eleitoral completamente contaminado e doentio, sob circunstâncias em que qualquer afirmação e tentativa de diálogo é distorcida. Até mesmo por históricos amigos!

O que deveria ser uma oportunidade e “janela” para reflexões positivas, construtivas e esperançosas têm-se transformado num vendaval de infâmias e ofensas.  

O momento faz lembrar o querido e saudoso professor Oscar Hentscke que seguidamente repetia em sala de aula o popular ditado: em casa que falta pão e educação, todo mundo grita e ninguém tem razão!

terça-feira, 18 de setembro de 2018

SAUDADE DA UNISTALDA TERRA BUENA


DESFILE GAUCHESCO EM UNISTALDA - ISSO SIM É AUTÊNTICO ! ( fotos do blog unistaldense)

Muito falam em Alegrete ou Livramento com maior número de cavaleiros. Para mim quero ver se acham um povo mais gaúcho do que o da Unistalda campeira. E mais! quero ver se encontram um Município em que os assistentes ao desfile são em número quase menor do que os que desfilam. Só não participa do desfile quem está doente ou quem ainda não nasceu. 































terça-feira, 11 de setembro de 2018

AINDA SOBRE O ATENTADO


TITO GUARNIERE

OREMOS

O atentado contra Bolsonaro era, de certo modo, previsível. No grau de radicalização em que está lançada a política brasileira, alguma coisa tinha de acontecer. Os sinais estavam dados há bastante tempo, diante dos nossos olhos. Foi Bolsonaro a vítima, poderia ser Haddad ou Ciro ou outro qualquer.

O gravíssimo incidente até que tardou, na espiral de violência verbal, intolerância e ódio, que vem se espalhando insidiosamente em todas as instâncias da vida política nacional, nos últimos anos, nos últimos meses. Não há uma única voz no cenário conturbado que suavize o discurso, que desfralde a bandeira branca, que interrompa a marcha da insensatez.

Cada personagem da luta – agora sangrenta - eleva o tom de voz, berra mais alto, pousa de valentão, puxa briga. No combate sem fim e sem medida não há turma do deixa disso. As labaredas sobem aos céus, e ao lado só estão aqueles que jogam mais gasolina no fogo.

Os militantes de facções e partidos, armados até os dentes de raciocínios obtusos, passam ao largo do debate civilizado e necessário, na hora crucial. O embate político é um palco obscuro de impropérios, de clichês ofensivos, e ao mais leve pretexto os atores da tragédia perdem limites e estribeiras, partem para o ataque selvagem.

A mídia faz a sua parte. Está sempre em guarda para obter alguma declaração dos personagens do jogo estridente, mas só para os efeitos de colher a manchete do dia, dando preferência a alguma injúria lançada contra o inimigo. O eleitor aturdido imagina que os políticos vivem assim, e apenas assim, às turras, aos contrafeitos, no embate primitivo de quem xinga mais e melhor. Os programas de governo, os projetos para o país, de onde virão os recursos para as promessas sempre renovadas, nenhuma tevê, emissora de rádio ou jornal se incomoda em esmiuçar. O que vale é a contenda, a briga de cachorros loucos.

A mídia, quando entrevista um candidato, como no Jornal Nacional, age como implacável acusadora. Interrompem a fala, lembrando o pobre entrevistado de quantos pecados ele ou os seus aliados (possivelmente) cometeram e de quantos ainda vão cometer. É (o candidato) como um bandoleiro no banco dos réus, e não um candidato presidencial em uma bancada de tevê. Não há espaço para um único, miserável e piedoso reconhecimento de mérito. Não é entrevista, é interrogatório policial. A população, em estupor, é levada a crer que ninguém presta.

Nas redes sociais o clima é de guerra civil. As vozes cavernosas que dali ressoam, tecem loas fanatizadas às virtudes reais ou imaginárias dos seus candidatos, na mesma medida em que detonam os inimigos, vociferando, em termos raivosos e chulos. Desnudam por escrito a própria inconsequência e pobreza mental, o primarismo dos seus argumentos, logo a partir das agressões que cometem contra o vernáculo e o idioma pátrio.

O atentado a Bolsonaro só escancara, mais uma vez, que fracassamos como país, como nação e como povo. Não há uma única voz lúcida que nos dê um sinal, um só sinal. Este país, do jeito que está não pode fazer nada por nós. E, bem pior, nós também – perplexos, impotentes – nada podemos fazer por ele, a não ser orar.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

HINO EXCELSO DE AMOR À VIDA - TEXTO DE TITO GUARNIERI


TITO GUARNIERE

BEM VINDA, ANA ALICE!

Nasceu Ana Alice. Esperamos ansiosos por ela. Veio formosinha, saudável, perfeita. Deveríamos tê-la recebido com mais pompa e circunstância. Tão pequenina a rainha! Nossos corações estão jubilosos.

Sim, a vida vale a pena, no milagre da concepção, no pequenino ser que se acomoda no ventre da mãe, no parto. A testinha franziu diante do primeiro raio de luz. Ana Alice deu sinal de vida e chorou a plenos pulmões. Depois sossegou e guiada pelo instinto atávico, sorveu gulosa o leite materno e dormiu suavemente o sono dos anjos.

Muitas vezes ela irá ao seio da mãe e muitos sonos profundos – lembrança do útero materno – se sucederão em muitas luas. E logo cedo se tornará a protagonista, o centro do pequeno universo ao seu redor, das atenções, das exclamações de encantamento.

Quando se sentir confortável e feliz, iluminará o rostinho com um sorriso. E abrirá o choro quando a fome ou a dor incomodar – linguagem binária desde a época imemorial - e que pelo resto dos tempos permanecerá igual.

Ana Alice irradiará luz, alegria e amor. Receberá o carinho e a proteção dos circunstantes. Fará bem às pessoas, elevará o astral, fará o mundo mais habitável.

Se arrastará pelo chão, ensaiará passos indecisos, vasculhará os espaços próximos, descobrindo formas, cores e sabores. O cérebro em breve produzirá ligeiras correntes elétricas, e a nova habitante adquirirá noções de lugar e distância, reconhecerá vozes e perfis.

Seja bem vinda, querida! É assim que lhe chamaremos – querida. Todos os dias repetiremos, sem enjoar, que você é linda, que nós amamos você.

Você crescerá no amor e nos cuidados dos seus, e a cada passo, tropeço, e queda, estaremos ao seu lado, pressurosos, para ajudá-la e consolá-la. Cresceremos juntos, querida, você em tamanho, peso e inteligência. E nós, no seu convívio, pelo amor que nos inspira, cresceremos como seres humanos: seremos mais honestos, bondosos e tolerantes.

Sabemos desde sempre que você amará e respeitará a Mãe-Terra, o planeta, os seus habitantes de todas as espécies. Entre os homens e as mulheres, não fará distinção de gênero, cor, classe social, orientação sexual. Você crescerá sem abrir mão dos seus direitos, mas em igual medida, levará a sério as obrigações e responsabilidades.

Na escola, ingressará no mundo fascinante do saber e do conhecimento. Nos livros, entenderá melhor a grande aventura, apreenderá as ferramentas para a vida e (um pouco) os mistérios da alma e do espírito.

Você celebrará a vida em alegria, mas a tempo e hora saberá que nosso caminho é feito de contratempos, que a vida nos cobra suor e sacrifício. Você terá têmpera e força interior para vencer a bruma e a intempérie.

Por você mesma, descobrirá que sorte e talento existem, mas quem tem mais sorte e mais talento é quem aposta no esforço pessoal, no trabalho duro, na perseverança.

Não se dobrará diante da mentira e da força bruta. Você veio ao mundo para a existência comum e solidária com os que partilham da jornada. Você veio ao mundo para fazer o bem e defender a paz e a liberdade.

Bem vinda, Ana Alice!

sábado, 1 de setembro de 2018

BELO TEXTO DA ESCRITORA LISSI BENDER

Vida que te quero viva
 Lissi Bender*
As pombas, que habitam nossas áreas urbanas, são animais de estimação, amansadas há muitos séculos. De maneira que se tornaram aves muito distantes de sua condição silvestre original. Diferentemente de seus ancestrais, não mais chocam duas vezes por ano, mas durante todo o ano. Isto se deve ao fato de terem sido domesticadas e criadas com vistas à reprodução para serem usadas como pombos correio, por exemplo. Nessa conformidade, a proliferação de pomba(o)s é consequência da intervenção humana.
Também em nossa cidade elas se multiplicam e se ouve queixas: estariam sujando a praça, trazendo piolhos, transformando-se em pragas. Junto com as reclamações, crescem os debates acerca de formas para seu controle. Não raro, me deparo com sugestões nada pacíficas para a diminuição da população de pombas. Há quem defenda a ideia de eliminação por meio de envenenamento. Outros acham que se deva deixa-las passar fome ou construir arapucas para as aprisionar e depois matar. Todas estas alternativas seguem um movimento contrário ao desenvolvimento de um mundo mais pacífico entre nós humanos e as de outras espécies com as quais compartilhamos vida.
Em Basel, na Suíça, foram feitos experimentos científicos para o controle da população de pombas já no final dos anos 80. Lá pôde ser comprovada uma maneira eficaz e, ao mesmo tempo, voltada para a dignidade de vida da espécie:  a construção de pombais, pois as pombas não fazem ninho em árvore. Junto aos pombais deve haver orientações à população sobre as consequências negativas da alimentação aleatória das aves.
Na contemporaneidade cresce a consciência para artgerechte Tierhaltung – a manutenção e manejo de animais com vistas à vida digna de acordo à espécie. Em Tübingen, onde fiz meu doutorado, pude conhecer como funciona o controle de multiplicação de pombas por meio da instalação de pombais. Quando se reúne as pombas em torno de um local provido de alimento e água fresca, com condições adequadas para nele fazerem seus ninhos, torna-se fácil trocar a cada semana os ovos por outros similares de gesso, com o mesmo formato e peso dos originais. As pombas os aceitam como seus e os chocam. Não vale apenas subtrair os ovos, pois a pomba ficaria muito estressada e passaria a pôr mais ovos.
O manejo desses pombais é, via de regra, assumido por voluntários de diferentes associações. O governo municipal entra com a edificação da casa e com o custo da alimentação. Os ovos arrecadados passam a ser incorporados a alimentos de outros animais. Esses procedimentos oferecem às crianças, e à população, exemplo edificante de como se pode cuidar humanamente da vida.
·        Doutora em Ciências Sociais, vice-Presidente da Academia de Letras de Santa Cruz    
 lissi.bender@gmail.com