quarta-feira, 25 de novembro de 2020

DIEGO ARMANDO MARADONA

“El pibe de oro”. Era assim que os argentinos o chamavam: o garoto de ouro.Genial, rápido, um cérebro privilegiado para encontrar os caminhos sinuosos do futebol. Tinha tudo que precisava para não ser jogador de futebol.Pequeno, sem impulsão para enfrentar um zagueirão. Mas se colocava de tal jeito que, com sua altura que deixava a desejar, encontrava uma saída escondida e de lá cabeceava num cantinho milimétrico onde o goleiro não estava. Perigoso como uma cobra da India , passava em ziguezague, sem se dar ao luxo de uma trombada. Desculpem, trombada era comigo quando eu jogava futebol. Mais de 1,90 de altura, sem muita ou nenhuma velocidade. Eu fazia o seguinte: tinha força e, portanto, passava a bola para quem sabia, pois eu não tinha habilidade. “El pibe”, no entanto, ao meu ver, era mais jogador que o Pelé. No tempo de Pelé havia cada jogador gordo e balofo, que vou te dizer! Aquelas dancinhas contra aqueles suecos, para lá e para cá, no tempo do Pelé, redundariam ,mais tarde, numa voadora no pescoço. Também quero recordar que um dia ouvi de um alemão, muitos anos atrás, a seguinte frase: “vocês, os jogadores brasileiros e sulamericanos, são gente que não foi à escola, não estudou outro idioma, passou treinando noite e dia, são hábeis, mas não tem muita idéia de tática. Mas seu talento é tal que um jogador resolve, num átimo, sozinho, num lampejo, a parada.” “El pibe” era um desses gênios. Como a maioria, jogadores brasileiros e argentinos, incluindo os uruguaios, procedem de famílias pobres. Vou abrir parênteses. Há muitos jovens no Brasil, de famílias mais abastadas, que se dedicam ao tênis, golf, natação, etc. Garanto que, se se dedicassem ao futebol, poderiam ser bons jogadores. O problema é a faculdade, os cursos, os intermináveis estágios. Fazem bem. Melhor uma profissão segura e não uma que um “carrinho” nos joelhos tira o jogador , para sempre, do esporte bretão. O jogador de futebol, como “El Pibe”, maravilhou-se com as luzes dos restaurantes finos, as viagens de avião em primeira classe, as “ marias chuteiras”, prontas para o amor feito entre luxos e perfumes. Nada mais era caro, tudo passava a ser barato. Mulheres com dentes perfeitos, cabelos lindíssimos, saradas. Que belíssimo novo mundo. Surgem ambientes em que, além da champagne, se servem passagens para um outro mundo cheio de prazer: a cocaína, lsd e outros caminhos para o céu da felicidade. O problema , mais que a mente, é nossa carcaça. O corpo, bem ou mal, tem problemas, como hepatite, câncer, coração , etc. “Se equivocó la paloma, se equivocaba…”

BOULOS - TITO GUARNIERE

TITO GUARNIERE BOULOS Espero estar errado, mas acho que o futuro prefeito de São Paulo será Guilherme Boulos. O homem não regateia nas promessas de campanha: inclusão social, auxílio emergencial, concurso para substituir terceirizados, milagres de mobilidade urbana – passagem gratuita para gestantes, mulheres com criança de colo e estudantes – etc. e tal. Olhando na câmera, com o ar cerimonioso de quem acredita no que está dizendo, Boulos jura que vai inverter a lógica das elites que sempre governaram a capital de São Paulo – à exceção, é claro, do período em que a sua vice Luiza Erundina foi prefeita. No outro lado está o atual prefeito Bruno Covas, contido, avesso a pirotecnias, escolado na prática da responsabilidade fiscal, que tem a cara dos tucanos do PSDB. Em meio às incertezas e angústias da pandemia, é pouco provável que o eleitor paulistano prefira o discurso da seriedade fiscal, de não gastar mais do que a receita, face ao discurso do ganho imediato. Charles de Gaulle, o estadista francês, dizia que "as promessas só comprometem aqueles que as recebem". Se Boulos vencer vai ser o azar de São Paulo. Fiel à tradição dos demagogos convictos, transmite a ideia de que os problemas da metrópole só não são resolvidos por falta de "vontade política". Passa a ideia de que antes dele (à exceção de Erundina) ninguém fez nada que não fosse para servir às elites locais. Apresenta soluções prontas, acabadas, que ditas de certa maneira, parecem fáceis, e só não são adotadas por pura maldade ou desídia dos governantes. De esquerda, o candidato é adepto da crença esotérica de que os recursos públicos são elásticos, que sempre cabe um gasto novo, e que o orçamento é uma peça de decoração. Ignora olimpicamente a dura realidade: o cobertor é curto, as necessidades e demandas são ilimitadas e os recursos, dramaticamente finitos. A solução de Boulos para o déficit colossal da previdência municipal de São Paulo (R$ 163 bilhões de reais) é uma miragem: nomear mais procuradores para cobrar a dívida ativa. Ora, os bilhões da dívida ativa são incobráveis: os devedores, em medida larga, são de empreendimentos que foram à lona, empresas que faliram e acumulam passivos milionários de tributos, obrigações trabalhistas e previdenciárias, e credores de toda ordem. É preciso ser razoavelmente ignorante ou mistificador para passar esse mico adiante. As carteiras de dívidas ativas, impagáveis, só existem no papel, e não apenas em São Paulo, mas na União, estados e municípios. Boulos, levado a crer que viu o que os outros não foram capazes de ver, e que os governantes anteriores são rematados idiotas, não se pergunta porque eles não adotaram o plano, já que os recursos estavam ao alcance da mão. A promessa do candidato de uma "renda cidadã" para os paulistanos pobres, se for cumprida, atrairá para a metrópole já saturada, poluída, caótica e ingovernável, magotes de novos imigrantes. Leva anos para apurar os efeitos de um governo irresponsável do ponto de vista fiscal. E pior do que isso, leva décadas até o eleitor crédulo, que acredita em Papai Noel, descobrir que é ele mesmo quem – ao fim e ao cabo – sofre as consequências e paga a conta. titoguarniere@hotmail.com M

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O VOTO DOS IDOSOS

O VOTO DOS IDOSOS por Percival Puggina. Artigo publicado em 21.11.2020 Entre as tantas contradições do Direito positivo brasileiro, o voto realiza a proeza de ser, ao mesmo tempo, direito e dever. O cidadão tem o direito de votar, concedido à sua cidadania brasileira, e tem a obrigação, na mais tolerante hipótese, de encenar na cabine um arremedo de votação, fazendo-o de modo nulo ou em branco. O mesmo, porém, não vale para os maiores de 70 anos, dispensados do dever. A partir dessa idade o sujeito ganha alforria, está livre da multa por descumprimento do dever. É como se a lei lhe dissesse: “A democracia passa muito bem sem seu voto, senhor”. Convenhamos que tal norma é tão idiota quanto a que torna obrigatório o voto do pior dos eleitores, aquele que vota a contragosto, de qualquer jeito, em qualquer sujeito, sem reconhecer a importância do que faz. A história de sucessivas civilizações contém inúmeros exemplos de valorização da opinião dos idosos. A humanidade entrou pelo século XX incorporando no seio das famílias a tradição do aconselhamento pelos mais velhos, num reconhecimento do valor da experiência e da sabedoria acumulada. Abandonar essa tradição e vencê-la integra a agenda daqueles que querem derrubar, desde seus fundamentos éticos e práticos, a civilização ocidental. Recupere-se, então, uma importante e descuidada noção: o domínio dessas sutilezas que compõem o cotidiano da geração digital, ante as quais tropeçam os dedos e os neurônios dos idosos, está longe de ser sabedoria. Os conselhos dos anciãos incluem-se entre as primeiras formas de organização espontânea das sociedades primitivas, substituindo a razão do mais forte pela dos mais sábios e experientes. No antigo Egito, os anciãos eram honrados e consultados mesmo após a morte. Eles estão mencionados em livros do Antigo Testamento. Integravam a organização política de Esparta, denominados Gerúsias, e daí advêm os atuais Senados. Também em Roma, nos mosteiros medievais, na Revolução Francesa (após a derrota dos jacobinos) os anciãos cumpriram importante papel. Foi nessa natural tradição que se inspiraram os constituintes da Filadélfia para criar o Senado dos EUA e o Brasil para instituir nosso próprio Senado em 1824. Tudo isso sem esquecer algo pitoresco: foi a associação entre idade e sabedoria que fez valer ao judiciário britânico o uso das perucas brancas, vigentes durante séculos, até 2007. Diante de tantas e tais evidências, proporcionada no decurso de milênios, o desinteresse pelo voto dos idosos se revela rematada tolice. No último pleito, talvez em função da pandemia, a abstenção em Porto Alegre chegou a um terço dos votantes. A esses eu digo que no domingo passado, valendo-nos do horário prioritário dos idosos, minha mulher e eu tivemos mais facilidade e agilidade para votar do que em qualquer outra ocasião. Saímos convencidos de que se alguém pode ir ao supermercado, certamente estará mais bem resguardado num rápida chegada à sua seção eleitoral no horário apropriado. Aos que estão dispensados da obrigação, lembro: Vocês são eleitores altamente qualificados por sua experiência, pelo que testemunharam na história vivida, pelo Brasil que conheceram e pelo Brasil que conhecem. Ele precisa de vocês. * Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

POLITICA E O ABRAÇO DO AFOGADO

Esperei deliberadamente o resultado das eleições, ao menos no primeiro turno, para expor minha tese, que até pode estar errada. Desde já vou intitulá-la de “síndrome do abraço do afogado”. Vou fazer uma breve digressão. Sempre tive muito cuidado com os banhos, tanto os do Fingerhut, no Rio Pardinho, como os das praias de mar. Por sinal só fui conhecer o mar aos 18 anos. Morador da Casa da Uesc, no Bom Fim em P. Alegre, certo dia tomei um ônibus e rumei a Tramandaí para conhecer o mar. Chegado, me hospedei num hotelzinho de madeira. Tomei uma queimada tal que saíam bifes dos ombros e da testa. Vi uma guria quase se afogando, alguém a salvou. Sempre me falaram que a pessoa que não tem treinamento vai ao encontro de quem está se afogando e recebe um abraço de terror, de pânico, de medo, de estertor e acaba levando seu salvador para a morte. Vocês devem agora estar com a mão no queixo e se perguntando: “aonde ele quer chegar?”. Na política. Quem nunca se arrependeu após eleger um político? Na campanha tudo são flores, mas com o passar do tempo começam a aflorar , por vezes, as impropriedades. Desnudam-se falta de compostura, situações vexatórias, conflitos desnecessários, falta de noção sobre a liturgia do cargo. Muitas pessoas, mesmo vendo que o político a quem deram seu voto não correspondeu, esbarram nos sofismas. Por causa das brigas que tiveram até dentro da família, com vários amigos resolvem: “agora não posso parar de apoiar meu candidato”. No caso das eleições para presidente, muitos de nós estávamos aflitos para afastar políticos nefastos. Passadas as eleições desvelou-se um quadro preocupante. O nosso vitorioso começou a mostrar um certo desequilíbrio verbal. Ao contrário do que deveria fazer com os que o ajudaram, flechadas de reprovação, demissões imotivadas. Vão correndo dias e meses e perduram certas atitudes incomodando nossa tábua de valores. De repente tu expressas nas redes sociais teu desencanto. Imediatamente começam as censuras por ser um “traíra”. “Como é que passaste para o outro lado?” Mas que lado, cara pálida? Eu acreditei ,de boa fé, num projeto que me agradava. Pegou mal nosso presidente teimar em não parabenizar Biden.O pior foi “ameaçar” os USA com o grito de “ ou é saliva ou é pólvora”. Não tem sentido a teimosia com as vacinas, assunto que cabe aos cientistas. As premissas sobre as quais fundamentei meu apoio estão ruindo.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

PREVIDI LANÇA MAIS UM LIVRO

ESTA É UMA SEMANA ESPECIAL Já tinha decidido que não faria mais livros. Afinal, são duas antologias e 12 individuais. O problema que eu queria escrever a história do Alfredo Octávio. Há uns três anos fiz uma versão que ficou completamente sem lógica, principalmente quanto a datas. Não me restou nada além de colocar pouco mais de 100 mil caracteres no lixo. Nesta versão, que lanço agora, ne preocupei com as datas - até pode ter alguma incorreção, mas acredito que ficou fiel a vida do maior jornalista do Brasil. Quem é ou quem foi Alfredo Octávio? É um personagem que ganhou fôlego nos anos 1980. Um negócio incontrolável! Ao menos três pessoas leram o AO: o editor Paulo Palombo Pruss, o jornalista, professor e escritor Tibério Vargas Ramos e o jornalista e escritor José Antônio Pinheiro Machado, o querido Anonymus Gourmet. Elogio do Paulo "não vale" (mas ele gostou muito) - afinal apostou no projeto. O Tibério escreveu: "Eletrizante novela. Li sem parar 'Alfredo Octávio', em formato de entrevista-depoimento, transformou-se numa novela eletrizante. Honrado por ser dedicada a mim junto com os mestres Renan, González, Flávio Alcaraz, Contursi e Pinheiro." O Pinheiro Machado: Recebi, e logo "devorei" o "Alfredo Octávio". Primeiro fiquei emocionado com a tua generosa leitura d'O Brasileiro que ganhou o Prêmio Nobel. Muito obrigado! Depois, li com deleite o teu livro: muito bom. Divertido, tem uma graça envolvente. Parabéns! Receba o abraço fraterno e a gratidão do José Antonio Pinheiro Machado. Três elogios, mas vocês não queriam que eu colocasse três opiniões desfavoráveis, ok? Um pouco da história: Jamais tinha pensado em fazer uma biografia de uma personalidade, apesar de gostar do gênero. Mas a vida do Alfredo Octávio sempre me fascinou. Desde a década de 1980. Sabia de várias histórias em que foi o protagonista, mas tudo muito disperso. Sempre que pensava na vida do AO eu lembrava do livro "O brasileiro que ganhou o Prêmio Nobel", obra fantástica do jornalista José Antônio Pinheiro Machado. Li e reli o livro do Pinheiro Machado, até que decidi ir visitar o meu "biografado". Tinha certeza de que iria me contar a sua vida, sendo que antes faria uma onda – como qualquer estrela faz. Foi exatamente o que aconteceu. Passada a fase de "desconfiança", ele se abriu. ... Vocês vão conhecer algumas passagens da emocionante vida deste Mestre chamado Alfredo Octávio. Sim, algumas passagens, porque ele tem muitas histórias que não cheguei a gravar. No entanto, tenho a certeza de que os fatos relembrados por ele são extraordinários. Guevara, o líder francês Dani, os contrarrevolucionários brasileiros, a Fundação, sua vida no Burundi, fora a sua paixão por Kris, são suficientes para que todos possam traçar um relato da vida de um grande homem, um grande jornalista. ... Não contei nos 40 capítulos do livro, mas fazer constar do título "o maior jornalista do Brasil" foi uma exigência dele. Só assim autorizaria. Topei, claro, porque além das inúmeras histórias ele tinha mais de um metro e noventa de altura... ... Já tinha até planejado uma homenagem para o dia em que lançasse este livro. Iria reunir as duas personalidades: o maior jornalista do Brasil e o brasileiro que ganhou o Prêmio Nobel. Infelizmente, Alfredo Octávio não resistiu a morte de sua mãe e resolveu acompanhá-la. Uma pena. Ah, acreditem: não tenho foto dele. E nem no Google. - Portanto, no próximo dia 21, sábado, a partir das 17 horas, lanço o meu 15º livro. Sei que não pode ter ajuntamento e eu não posso passar perto desse bicho chinês. Por isso vamos ter até drive-trhu! Passa de carro que alguém te atende. Mas eu vou estar lá, de máscara e com todos os cuidados. Vai ser no Tapa's, na rua da República, 30 - quase esquina com a avenida João Pessoa. Passa lá, toma um chope ou um refri (tem um kibe maravilhoso, feito por egípcios), rapidinho, pega o livro e segue o teu rumo! Te espero!! A partir do dia 21, estará a disposição na Banca da República - na esquina da Rua da República com avenida João Pessoa. Também poderei enviar pelo Correio, sem custo adicional. Quem tiver pressa, posso mandar por Sedex, mas aí tem um custo extra de absurdos 25 reais para a EBCT. Ah, sim, o livro custa 35 reais. ao capa.jpg

terça-feira, 17 de novembro de 2020

O CAPITÃO VAI À GUERRA

TITO GUARNIERE O CAPITÃO VAI À GUERRA Era certo que Jair Bolsonaro ficaria chateado com a derrota de Donald Daqui-Não-Saio-Daqui-Ninguém-Me-Tira Trump. Ele tem por hábito dizer uma bobagem, mentira ou grosseria a cada 24 horas. Há dias que ele está inspirado e ataca em cada uma dessas categorias de intervenção. Quando ficou claro que o amigão de infância Trump tinha ido para o vinagre na eleição americana, simplesmente surtou. Numa só jornada, Bolsonaro comemorou a interrupção no Brasil da pesquisa clínica da vacina chinesa Coronavac, disse que o Brasil é um país de maricas e ameaçou declarar guerra contra os Estados Unidos. O homem estava possuído. A declaração de guerra deu frio na espinha. Não foi uma ameaça contra a Bolívia, o Peru, Trinidad-Tobago. Se uma guerra é necessária, que seja contra a Argentina – temos diferenças históricas com los "hermanos", e ao menos seria mais perto. Mas não – o homem tinha de escolher a maior potência armada do planeta como inimiga. Lembra a velha anedota da republiqueta de banana, em frangalhos, inflação a mil, o povo protestando nas ruas contra a corrupção, pedindo o fim da ditadura. No desespero da situação, os generais da inteligência militar – que, segundo Marx, Groucho, é uma contradição em termos – apresentam um plano: "Nós declaramos guerra aos Estados Unidos, eles vencem, ocupam o país e terão de dar conta do estrago. Virá dinheiro, recursos, investimentos...". O tirano foi até as amplas janelas do palácio, olhou para fora algum tempo, e se voltou para os coleguinhas: "O plano é bom. Mas e se a gente ganhar a guerra?". Se houver guerra, quero antecipar minha posição. Com a licença do meu amigo doutor Rolf, adotarei o lema: ou mato ou morro. Ou me escondo no mato ou fujo para o morro. Só irei para o front levado à força, mais ou menos como o Trump terá de sair da Casa Branca. Não faz sentido sair da quarentena da Covid-19 para entrar na guerra, que é muito mais perigosa. Bolsonaro, se declarar guerra a Biden, que peça socorro a Trump – ele conhece os códigos e segredos do Pentágono, e pode ser muito útil para o nosso lado. Mais: poderá trazer reforços importantes para as nossas tropas – caminhoneiros (a maioria deles votou em Trump nas duas eleições), policiais violentos, supremacistas brancos, uma brigada da Ku-Klux-Klan, marines desempregados, e gente assim. Porque se depender dos nossos soldados, no país de maricas, será um novo 7x1. Se o caso é de mostrar lealdade, que Bolsonaro ofereça asilo político a Trump. Afinal foi amor à primeira vista. Dizem que Trump tem umas contas a ajustar com a Justiça americana – o que vem a calhar. Trump poderia viver sob a proteção de nossa bandeira e Bolsonaro, numa reforma ministerial, poderia nomeá-lo conselheiro especial. É uma vantagem enorme imitar o modelo de perto, em carne e osso. É boa hora também de trazer Olavo de Carvalho para uma antessala do Palácio. Poderia vir no mesmo voo de Trump. Além da economia na passagem, Trump viria batendo um papo cabeça com o filósofo mais influente do regime, e de quebra chegaria ao Brasil familiarizado com os nossos palavrões mais cabeludos. titoguarniere@hotmail.com

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

ARTIGO DE FRANKLIN CUNHA

  

DE TEMPOS VERBAIS E ELEITORAIS

A passagem do homem de um estado natural para o cultural –ato principal de sua história – está intimamente entrelaçada  com a faculdade da fala e da sua posterior organização por meio da  semântica, da sintaxe e dos tempos verbais.  O homem primitivo que vivia da caça e da pesca -  no aqui e agora -provavelmente não possuía o tempo verbal para expressar e pensar o futuro. Com  a agricultura, foi obrigado a cogitar e se preocupar com as épocas de plantar e colher e dessas necessidades surgiu o tempo verbal  futuro . Na ausência da fala, a temporalidade humana era expressa somente pelo tempo verbal presente. Em todas as línguas  há verbos ou formas do discurso que indicam ação. George Steiner afirma que a capacidade do homem  de articular um tempo verbal futuro, sua faculdade  e necessidade de " sonhar à frente ", é um escândalo metafísico e lógico. Este é o poder da linguagem: existir  antes daquilo que designa. E na linguagem dos embates eleitorais, o tempo futuro  é muito mais enunciado   do que a sofisticação verbal do tempo  incondicional. "Farei, darei " todos os candidatos o empregam, " faria, daria  ", poucos. A credibilidade ingênua gerada pela falta de visão crítica dos fatos, faz com que eleitores acreditem em quem diz " farei " do que quem diz " faria ": o "farei " é afirmativo, assertivo  e o " faria " é dubitativo pois  implica em (in)condições inexistentes. Nas tiranias modernas, os tempos verbais, a semântica e o léxico são redefinidos  numa inversão deliberadamente grotesca do significado normal e corrente deles nas democracias . Na gramática da fala totalitária, as conjugações dos verbos ocorrem num presente irreal e num futuro utópico. Desfazer o passado  real, erradicar nomes, atos,  pensamentos dos mortos indesejados  é uma ação  caraterística do horror e do terror infundidos por certos autocratas primitivos e primários  eventualmente no poder. E que – inadvertidamente – são eleitos  pelo voto consensual embora,  possivelmente pensem como aquele escritor inglês do século 19 , precursor do nazismo que disse ser " a democracia um caos povoados de urnas ".

Franklin Cunha

Médico

Membro da Academia Rio-Grandense de Letras

sábado, 14 de novembro de 2020

O GRANDE PREFEITO DE P. ALEGRE , GUILHERME SOCIAS VILELLA COMENTA

 Para minhas netas também.


Construíste uma fábula para também contar para minhas netas. Tenho duas. Uma já está na UFRGS; outra no Farroupilha.

"Tá guria, fica fria, o Brasil ainda é o melhor lugar para se progredir. Mas o vô bonito não vai dar mole para o Brasil. Podes crer."

Resta, a este avô (eu) manifestar concordância quanto ao excerto do belo texto em tela.
Fico com a esperança que estando ocorrendo a tese (com o vô brabo) e a antítese (com o manso) nosso País saiba bem se haver com o que vier ocorrer tal qual a síntese hegeliana (ou mesmo a negação da negação marxista). Dizem os milenares chineses que nas crises aparecem oportunidades!
Ocorre que para que isso aconteça precisamos ter um presidente que não seja tão tolo. Um estadista.
Abraço. Bom fim de semana.
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Guilherme Socias Villela é uma exceção, até hoje, na política. Quiséramos todos haver mais estadistas
no mundo político, como esse homem probo e correto.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

PAPOS COM MINHA NETINHA

 


“Vô, tu votou no vô brabo de cabelo amarelo ou no vô bonito de cabelinho branco?”

Respondi que só podem votar os que moram no império chamado USA. Lá tudo é diferente.

“ E porque essa briga, vô?”

“ Porque quem ganhou vai ser quase  o rei da Terra.”

Convidei então minha perguntadora a ficar quietinha e deixar eu de novo explicar.

 Nosso planeta é um milagre quase incompreensível. Por mais que procuremos nos confins do Universo, ainda não achamos vida tal como a conhecemos na terra.

A natureza foi evoluindo, surgindo todas as formas de vida durante milhões e milhões de anos

 Até que apareceu um mamífero que não tinha o aparato bélico de outros animais. Pior , ele tinha pela frente os enormes homens de Neanderthal. Diz a história que os Sapiens cruzaram com as fêmeas de seus primos mas, ao fim e ao cabo, os exterminaram. Os Sapiens eram mais fracos que quase todos outros mamíferos. Não sabiam correr, nem subir em árvores altas, nem lutar contra os leões. Sentiam frio. As crias custavam a ficar adultas. Um canídeo leva três meses para se desmamar. Um bebê sapiens precisa de ao menos um ano para engatinhar.

Inobstante isso, o criador, colocou uma inteligência diferenciada nos demais seres vivos. Os animais de qualquer espécie nascem com uma memória. Ninguém precisa ajudar uma novilha a parir.Ela sabe o que fazer. Não precisa da parteira ou do médico. 

Começou a faltar comida dada uma multiplicação da população humana em escala geométrica.Optaram pela agricultura, mas as áreas nunca eram suficientes; havia que enxotar os demais humanos  e os escravizar ou exterminar.

“Dá um exemplo, vô”!

Roma foi, durante uma época , a dona do então conhecido mundo.  Todavia com o tempo os “ bárbaros “ suplantaram os romanos e os impérios foram se sucedendo.

Hoje temos um império que pode apagar a luz de qualquer país, quando quiser. Essa potência se deu ao luxo de tomar territórios de seus vizinhos e até de ilhas distantes. Inclusive tem à disposição um presídio extra nacional que é Guantanamo. 

“ Bah vô, tu tá contra os Estados Unidos?”

“ Não , querida ,estou a favor do Brasil onde moramos.”

 Olha só :o Presidente brabo não deu a mínima para nosso presidente. Facilitou o passaporte até para os uruguaios,  mas teu avô , para ter o visto, tem que dar um monte de informações. Só quando eu tiver oitenta anos não precisarei de visto…

“ Bah,vô….”

“ Tá guria, fica fria, o Brasil ainda é o melhor lugar para se progredir.Mas o vô bonito não vai dar mole para o Brasil.Podes crer.  ”.

( Estranhei o silêncio estridente quando da  posse do novo Ministro do STF)  




terça-feira, 10 de novembro de 2020

TRUMP

 TITO GUARNIERE 


TRUMP 


O mundo fica melhor sem Donald Trump. Vamos ter de aturá-lo ainda por algum tempo, mas a ópera bufa está no fim. 


Atrás do personagem e da autossuficiência arrogante, da ignorância tomada como virtude, do desprezo pelas normas mais comezinhas de convívio humano, da compulsão pela mentira, do cabotinismo e da fanfarronice como métodos, está – e esteve o tempo todo – um homem vulgar e um governante obtuso. A sua saída da Casa Branca será pela porta dos fundos, mergulhado na choradeira patética da derrota. 


Trump é mestre na arte de atiçar sentimentos menores, de atrair ressentidos para o seu discurso, de apontar o dedo para os "inimigos do povo" e de atribuir e transferir culpas – a empreitada fácil de viralizar a amargura das massas. É uma marca registrada do populismo. 


Mas nem sempre os astros se alinham a favor de egos superlativos, e de quem se tem na conta de invencível. Oito meses atrás, antes da pandemia, não havia no horizonte político da América nenhum nome que pudesse fazer sombra a Trump – o fenômeno político (quase disse o mito) que, do nada, enfrentando o establishment e contra todas as projeções, se elegeu presidente do país mais poderoso do mundo. 


Veio a pandemia e o seu rastro trágico de dor e luto, na América e no mundo. O acaso, o imponderável, leis fundamentais do destino dos homens, embaralhou as cartas da sucessãoTrump, se comportando como Trump, achou que a doença era passageira e menosprezou a contingência. 


Quando acordou o estrago estava feito, milhões de infectados, milhares de mortos. Em estado febril, da mesma espécie daquele que o faz insistir que ganhou a eleição de lavada, tentou vender aos americanos a ideia de que o governo havia sido eficiente no combate ao mal. Era desmentido todos os dias pela divulgação dos números funéreos de novos contágios e óbitos. 


Trump poderia alinhar algumas conquistas do seu governo. Apesar da pandemia, a economia estava em expansão, com a curva do desemprego em declínio. Foi, além dos eleitores fiéis do trumpismo, o fator mais relevante para o seu respeitável desempenho eleitoral, apesar da derrota. 


Poderia também ter exaltado que, durante o seu período de governo, os EUA não entraram em nenhuma aventura militar. Ao contrário: desenvolveu esforços reais para que os EUA se retirassem do atoleiro do Afeganistão. Mas não lhe cai bem a roupagem de pacificador. 


É caso comum, o de Trump, de empresário que arrisca a sorte na política. O problema é que o espírito animal, o instinto predatório, pode ser (e nem sempre é) uma vantagem no ambiente tóxico da concorrência. Mas os métodos da política não são os mesmos do mercado. 


Na política, trata-se de aglutinar as energias e as vontades da nação, conciliar interesses em vários espaços de atuação, ter na conta as diferentes experiências históricas. Nas democracias o líder não fala nem governa sozinho – ele deve estar aberto e sensível aos clamores dos concidadãos, aos postulados da lei e das instituições, às advertências da mídia e das vozes discordantes. 


Na política ninguém ganha na pose e no grito. Trump nunca compreendeu e nem quis compreender essa verdade elementar. 


titoguarniere@hotmail.com  

 


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

UMA ANTIGA CRONICA POLICIAL

 Quero deixar claro que hoje a polícia é integrada por pessoas de alto gabarito e formação primorosa.

Anos atrás, no entanto, era quase praxe, ante o evento criminoso,  policiais optarem por métodos “ alternativos” para encontrar o autor. Achado o suspeito era por vezes usada a prática de  meios “suasórios” ilegais no interrogatório.

Em 1968, estando  como acadêmico do quarto ano de Direito da UFRGS ,com 21 anos, soube da abertura de Concurso para Delegado de Polícia. Fui aprovado e ingressei na Academia de Polícia, cujas aulas eram diurnas e passei para o turno da noite da Faculdade.

Havia várias matérias interessantes,  como Criminalística, Investigação,   Armamento e Tiro etc.

A maioria dos colegas de Academia era de policiais veteranos que queriam chegar ao cargo de delegado.

Eu era, por assim dizer, um piá. Mas como já tinha uma boa formação na Faculdade acabei me classificando em primeiro lugar e fui orador da turma.

Poderia, então, escolher a cidade que eu quisesse. Como  tinha pouca experiência de rua, achei mais prudente escolher uma cidade bem pequena e ordeira, não muito longínqua para não prejudicar meu último ano de Faculdade. Optei por Triunfo,  uma cidadezinha do outro lado de São Jerônimo. Comprei um Fusca usado, ia até São Jerônimo, pegava a barca e ia trabalhar na delegacia. Lá pelas 5 da tarde voltava a P. Alegre e ia para a Faculdade.

O delegado de São Jerônimo saiu e eu assumi seu lugar.

Certo dia cheguei cedo e havia um tumulto. Um supermercado havia sido arrombado à noite e levado todo o dinheiro do cofre.

Os antigos policiais começaram a conjecturar sobre suspeitos. Notei que havia no chão  um sapato, pé direito, manchado de sangue. Provavelmente o cofre caíra sobre o pé do ladrão. Perto do sapato, um chinelo novo, sem seu par. 

Pronto, tínhamos o ladrão. Bastava vasculhar os hospitais para  procurar quem estava com um pé quebrado. Na região não achamos ninguém. Meus auxiliares davam risadinhas não acreditando na polícia científica.

Liguei para um colega em P. Alegre, que contactou os  hospitais. Pronto, lá num deles  estava o nosso assaltante com a perna enfaixada. Um dos agentes quis entortar “ bem pouquinho” o pé quebrado do suspeito para facilitar o encontro do dinheiro. 

Adverti que bem mais fácil e legal  seria olhar o prontuário médico onde estava o endereço do “elemento”. 

Golaço. Não foi necessária nenhuma violência.

No dia em que me formei na faculdade pedi exoneração. Polícia não era bem minha praia na época. Muito jovem, queria  outros vôos.Só se voa, voando.

Que bom que hoje tudo mudou.


terça-feira, 3 de novembro de 2020

TITO GUARNIERE RIDES AGAIN

 A APNEIA E FREUD 


As coisas estão voltando ao estado normal no governo Bolsonaro. Um governo, no seu todo, não tem como ser melhor do que os seus componentes. O governo, então, se revela como de fato ele é e nunca deixou de ser - sem bússola, sem rumo, com os seus ministros e porta-vozes batendo boca e batendo cabeça, sem saber direito para que lado ir, propondo soluções ajambradas e de vida curta, logo desmentidas e abandonadas. 


A Bolsa está em queda, o dólar não para de subir, o mercado está à beira de um ataque de nervos, e ninguém tem a menor ideia de como será a retomada do crescimento, o que será o Brasil no pós-pandemia. 


O titular do Ministério do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é um notório inimigo da preservação ambiental. Além de incrementar medidas que tendem a fragilizar e anular normas de proteção ambiental, Salles é atrevido e bocudo – chamou o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, de "Maria Fofoca". 


O ministro da Economia, Paulo Guedes, cada vez mais perdido e sem noção, acusou o colega Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, de ser financiado pelo lobby da poderosíssima Febraban-Federação Brasileira de Bancos, para o fim de furar o teto de gastos e promover a gastança oficial. Na saia justa, Bolsonaro apoiou Marinho – mau sinal para o antigo superministro. 


O ex-porta-voz da Presidência, General Rêgo Barros, que tem uma cara boa, depois de meses de fritura em fogo baixo, se despediu do governo com um artigo no Correio Brasiliense, uma dura crítica ao governo Bolsonaro (sem citá-lo). No texto ele diz que o "poder corrompe, inebria e destrói" e que as promessas de campanha são esquecidas, critica os sabujos (que existem em todos os governos) e adverte em latim: memento mori (lembre-se de que você vai morrer). 


E Bolsonaro? Bolsonaro está em campanha, uma vez que, nas palavras de um editorial do jornal O Estado de São Paulo, ele "não perde seu tempo governando, coisa que, de resto, seria incapaz de fazer". 


Em certo dia postou uma foto tomando café da manhã com a filha Laura. Um gaiato qualquer mandou uma mensagem no facebook: "café da manhã com cloroquina!". E a resposta imediata: "Alguém já te mandou tomar Caracu hoje?". 


No Maranhão, em meio ao povaréu, bebeu um copo de guaraná Jesus, uma bebida cor-de-rosa, típica da região. A piada pronta presidencial: "Virei boiola, virei maranhense". 


Em vídeo, mostrando o feliz encontro com o bem-mandado general e ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, após ter ordenado o cancelamento do convênio assinado com o Instituto Butantã, para compra de 46 milhões de vacinas contra a Covid-19, e depois de troca de afagos e elogios, ele gracejou, com a sutileza habitual: "Está pintando um clima!" 


Bolsonaro mudou o estilo, mas volta e meia ele derrapa. Talvez por causa da apneia. Um exame recente mostrou que ele tem 89 alterações de sono por hora: um recorde. Um médico lhe fez a pergunta que aparenta ter uma ponta de ironia: "como é que o senhor consegue raciocinar?". Se não for a apneia, o apelo frequente à vulgaridade só pode ser explicado por Freud. 


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