quinta-feira, 23 de setembro de 2021

MENSAGEM TELEPÁTICA DOS MEUS DOIS CAVALOS PREFERIDOS

 Em sonhos recebi essa mensagem.

“E daí, patrão!

 O senhor tem poderes sobrenaturais como, por exemplo, só   olhando para um cara, já  saber se ele gosta ou não do senhor. Acreditamos que  consiga captar nossa mensagem telepática.

Seu Ruy: aqui falam o Poeta  e o Tiaraju. Se lembra quando dez anos atrás o senhor nos comprou? Não levando a mal, o senhor sempre foi baiano né, gaúcho de apartamento como se diz? Nós dois deixávamos o senhor “amuntar” na passarela da mangueira e  ficávamos  frios até o senhor conseguir se enforquilhar e meter o bico das botas nos “estrivos”. Nós sentíamos sua adrenalina, a égua Macaca vivia nos metendo pilha para atirar o senhor fora ,só para ver o barulho do tombo, mas nunca deixamos. Êta égua maleva, coiceira , mal domada.

Depois que o senhor começou a “entordilhar” as melenas, já notamos que se ressentiu dos tombos que levou. Também! quis montar em “culhudo”!

Seu Ruy, hoje tem rodeio grande lá no Seu Aldonino .  Sempre éramos nós dois que íamos .

Faz tempo que o senhor chega na fazenda - e nem as horas para nós, que somos  seus amigos. O senhor, anos atrás, chegava, nos “amanunciava”, falava conosco, nos  enchia de “balda”.  Pois hoje o capataz  encostou o caminhão e sabe quem ele carregou para o rodeio?

Aquele cavalo que o senhor comprou num remate , louco de cheio , meio se olhando de atravessado, eu acho que até haragano  é. Sabe quem ele  carregou das éguas? Aquelas sem fundamento que o senhor comprou na Expointer num remate depois de ter tomado um pouco demais de vinho. Tudo cavalo caro e de apartamento.

O senhor sabe que somos  nós que fazemos as lidas do campo.Nós é que “campereávamos” de sol a sol ; os finórios  e as  frescas só no bem bom. Na hora de entrar no mato, atrás de uma vaca braba, éramos   nós que nos  ralamos nos espinhos. 

Na hora do frio eles dormem dentro das baias e o nosso cobertor é a geada .

Seu Ruy, o senhor não é mais aquele humilde que nós conhecemos, pois vem nessas caminhonetes grandes, já nem usa mais bota e bombacha, mais parece aqueles branquelas da cidade.

O senhor se lembra de quando saiu sozinho com o Tiaraju , se perdeu nos campos e o baio  o trouxe  de volta para as casas?

Se não gosta mais de andar “de a cavalo” conosco , por favor ,nos solte para o campo, mas não nos venda para salame num matadouro. Prometemos que não daremos despesa, até “mio- mio” a gente come, mas nos deixe numa invernada qualquer, na companhia de uma potranca  novinha , que vamos rezar para o senhor ser abençoado pelo  Deus dos bichos.” 


Dedico a quem gosta de animais.


 


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

TEMPOS DIFÍCEIS

 Gostaria de dizer aos que me leem e têm menos de trinta anos que nosso país já foi diferente, muito diferente.

Pai, mãe, avós, tios eram figuras sacrais, de quem nunca se ouviu uma expressão chula. 

Quando eu ia a Boa Vista com meus pais a mesa era um lugar sagrado. Crianças deviam se manter caladas e comer tudo o que era posto no prato. Iniciava-se com uma oração de graças pelo alimento. O primeiro a se servir era meu avô Rudolf Gessinger, depois a avó e após meus tios, pela ordem de idade. De preferência meu avô ficava silencioso e assim se procedia.

Na hora da sesta as crianças tinham que ficar quietinhas.

Palavrão era algo quase desconhecido. Mas quando uma criança o proferia levava uns laçaços no trazeiro  ou na palma das mãos .Nunca levei “ tunda” de meus pais. Xingão sim. E castigo de rezar um terço, ajoelhado ao lado do fogão.

Incrível, caros jovens que me leem, havia um respeito total para com os padres, os pastores, professores,  as religiosas. Naqueles tempos não era costume proferir palavras bagaceiras, como hoje é quase praxe em muitos círculos.

As autoridades eram muito respeitadas. Não me lembro de nenhum episódio, tanto na infância como na juventude, de menoscabo sistemático às autoridades.

O que houve com nosso país?

Muitos alegam que somos um país jovem. Não é desculpa. 

Desde quando se pensaria num deputado boquirroto, num magistrado sem compostura e numa alta autoridade federal que , ante centenas de pessoas, faz brincadeira de péssimo gosto, referindo-se ao governador do nosso Estado.

 Com que influência abjeta  jovens aprenderam a desrespeitar os mestres?

Com que direito sobrenatural alguns caminhoneiros fecham as estradas causando prejuízos? Com que base jurídica o ocupante  do palácio do planalto deu licença para os caminhoneiros ficarem ainda mais uns “ diazinhos” bloqueando estradas ?

 Pais brigam com filhos; tios com sobrinhos, amizades se desfazem. 

Ululam quase todas as redes portando  mentiras, fake news, usando dos sofismas da falsa analogia, que encantam os  desavisados.

Experimente na Tunísia bancar o espaçoso.

Tente, ao desembarcar no aeroporto de Catar, ser ruidoso.

Discuta sem razão com um guarda nos Estados Unidos.

Entre em altos brados num Tribunal em Londres. Tente algum negócio ilegal com um funcionário público na Alemanha. Atire um lixo no chão  numa cidade do Japão.

Temos que melhorar.

Por que Santa Cruz tem tanto progresso e bom nível de vida?

Por causa da educação “lato sensu” falando.

Em síntese: chega de tanta bobagem nas redes sociais. Afaste-se um pouco. Consulte os veículos sérios.



quinta-feira, 9 de setembro de 2021

SOBRE A VIDA DOS ANIMAIS 3

 Como cavaleiro sofrível  até que caí pouco dos cavalos. Foram quatro vezes. O único problema é que a costela quebrada leva um tempão doendo. É igual a mordida de traíra no dedo da mão.

Eu sempre fui metido, mas não cheguei às raias da imprudência. Só depois fui me dar conta que a maioria dos campeiros e peões têm uma linguagem cifrada que não pode ser levada ao pé da letra.

Por exemplo:  quando a chuva já é boa, mas falta mais, eles dizem que está garoando; quando um cavalo é manso, no entender deles, para um urbano será um fogoso  corcel botando fogo pelas ventas.

Meu primeiro tombo foi assim: eu saí, numa manhã de geada, para ver uns terneiros do cedo que estavam nascendo. O capataz não estava e fui com um peão. Vimos uma vaca deitada, com o útero de fora e o terneirinho em redor da mãe. O peão me pediu que trocássemos de montaria porque a égua dele não ia deixar ele levar o terneirinho sobre os arreios. Apeei, trocamos e alcancei a ele o terneiro de seus 35 kgs.  Feito isso "amuntei" naquela desgranida. Não consegui me enforquilhar e nem colocar o pé no estribo do lado do laço e a tirana saiu velhaqueando e disparando campofora. Eu tinha medo de sofrenar  aquela exibida , receoso  que ela empinasse e caísse em cima de mim.  E a louca galopeando . Até que consegui conduzi-la para um cerro de pedras e pensei: " medonha, agora tu vais ralar as patinhas". Realmente ela sentiu a dor do pedregal e deu uma vacilada. Foi quando me atirei de cima dela.

A danadinha só foi parar uns  kms depois.

Outro episódio foi com minha mulher Maristela, que tem o sangue centenário dos centauros do pampa. Também tem uma pitada de sangue alemão de sua avó dona Oliva Müller. Maristela, como já relatei, foi presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Ile de France.

Um dia comprei para ela uma lindíssima égua baia, de nome Guria. Égua formosa, cheia de razão, imponente. Quem via Maristela montando  se encantava nos desfiles de 20 de setembro.

Um dia de manhã pedi para um peão jovem, recém chegado, colocar os arreios na Guria. Estávamos olhando uns terneiros,  quando Maristela fez um movimento brusco e  virou os arreios que estavam mal apertados, caindo ao chão.  Guria parou imediatamente e vi que ela mantinha a pata dianteira  levantada. Debaixo da mão   da égua estava a cabeça de Maristela que se levantou sem ferimentos. ( Usa-se para equinos também o termo “mãos” para os membros dianteiros). 

( Estou sem paciência para falar em política, é como tosa de porco,muito grito e pouca lã ). 

 

 

 

   

 


quinta-feira, 2 de setembro de 2021

SOBRE A VIDA DOS ANIMAIS 2

 Lá por dezembro começam as lidas com a tosquia ou tosa, como também se diz. A lã já valeu muito, mas os sintéticos deram causa à diminuição da procura. De qualquer maneira ainda vale a pena.

A exemplo de vários produtos como o tabaco, se não me engano, a lã tem várias classificações e varia de que parte do animal ela é . Existem ovinos de ótima lã, mas perdem na qualidade da carne. Assim como há ovinos cuja lã não é muito valiosa, mas sua carne é excelente.

Numa fazenda relativamente grande, o melhor é contratar os tosadores, que são práticos, e não os peões da própria fazenda, que teriam que deixar suas lidas específicas, o que daria problemas. Eles chegam e vão tosando, guardando a lã no galpão e dormindo lá mesmo. O bom, depois que escurece, é o chimarrão com muita prosa e risada. 

Depois de tosado o animal fica como se estivesse pelado, nu. O pior é que os Carneiros ( os reprodutores) não se reconhecem mais uns aos outros e começam a brigar, batendo cabeça. Há que os separar para que não se machuquem.

Tosado o rebanho, é preciso que não se molhem na chuva, pois podem morrer devido a uma choque térmico, apesar do verão.

Não pode haver fazenda sem cachorros. São eles que dão o alarme se chega alguém pela estrada ou se aproxima das casas. Não são como os cães da cidade, muitos dos quais são levados para os banhos e são sensíveis. Cachorro de campo dorme na geada mesmo e se banha nos arroios e açudes.

Eles trabalham por turno. De manhã uma turma. Voltam para o almoço e depois até as cobras fazem a sesta. Passada  a  ressolana sai o outro grupo.

As cadelas só cruzam com o cachorro Alfa. Às vezes um novato que aporta destrona aquele Alfa. Pronto, rei morto, rei posto.

Os cachorros e as cadelas de campo têm ouvidos apuradíssimos e são essenciais para , quando um boi se embreta no mato, fazê-lo sair.

Com cavalos a questão é complexa. Esqueçam aqueles pobres animais que ficam puxando carroças, levando chicotadas, os ossos aparecendo de tão magros. Como pode ser feliz um animal assim? Como podem as cidades ainda permitir essa tortura de um irmão nosso?

Graças ao cavalo o homem conseguiu viajar para longe.

Então vamos fazer uma distinção. Cavalos urbanos são calmos e  mansinhos.O cavalo de campo por vezes tem medo da proximidade de um carro. Uma bolsa de papel voando por causa do vento o assusta.

Mas há algo que eu constatei. O cavalo campeiro conhece quem sabe montar e sabe quem tem medo e é inexperiente. O cavalo de fazenda te dá segundos para tu te enforquilhares ( montar). Se  bobeares ele te atira fora.