quinta-feira, 30 de novembro de 2023

CARTA A UM FILHO

 


Aos 13/07/2013, escrevi esta carta ao meu filho Rudolf:

“Hoje tens 17 anos de idade.

Deves te lembrar que desde pequeno sempre te disse que Dom Pedro II assumiu o Império ainda piá e não morreu por causa disso.

Como te  disse que eu “coqueava” sacos a partir de 12 anos no armazém de meu pai e não morri.

Quando tu tinhas dez anos eu comecei com um programa de Rádio na Pampa, ao vivo, domingos das 7 às 9,30 da manhã. 

Tu e tua mãe me acompanharam durante 4 anos, com geada ou calor. Tu anotavas os telefonemas dos ouvintes.

Ontem tu e eu viemos para Xangri-Lá a fim de passarmos uns dias juntos e jogarmos tênis.

Tocou o celular, era o nosso Capataz dizendo haver um interessado em 50 vacas nossas e pagava um preço  muito bom e a vista.

Temos por norma jamais pesar gado sem eu estar junto. Mas eu tinha um compromisso no dia da pesagem.

Mal tínhamos chegado e disseste:

- deixa que eu vou a Unistalda!

Tínhamos almoçado com uns amigos e já foste comprar a passagem de Capão a Porto Alegre.

À meia noite embarcas para Santiago, onde chegas às 6 da manhã.

Em seguida acompanhas, ao lado da balança, a pesagem das vacas. 

Fazes  a conta do valor a ser pago e receberás o pagamento. Amanhã à meia noite tomas o ônibus de volta.  Chegas 6 da manhã em Porto Alegre e vais direito ao Colégio Rosário.

Nunca nem te falei em viajares para a Disney. Não te deixo beber álcool. Não te "floxo" os pilas.

Mas sempre te ponho a par dos nossos negócios. No começo te obrigava a ler ao menos dois jornais por dia. Hoje o fazes espontaneamente.

Espero estar certo em te levar de rédea curta.

Gostei do teu gesto de me quebrares esse galho, meu parceiro de negócios!

Méritos grandes de tua mãe, que muito te puxou as orelhas e não te deu mole mesmo!”

Corta. 

Passados 10 anos, hoje ele com 27, advogado, cuida dos nossos negócios, em especial da Fazenda. 


quinta-feira, 2 de novembro de 2023

REFLEXÕES NOTURNAS

Estava pensando. Aquele  que criou e bolou o Universo teve um lance: só o Homem não tem memória de algumas coisas. As fêmeas bovídeas, por exemplo, aos 3 anos podem parir. E fazem seu parto sozinhas. Os joão-de-barro fazem suas casas com  perfeição. Não precisam de ir à escola. O chip deles está instalado desde todo o tempo.

Os animais humanos têm que passar trinta anos nos educandários para às vezes não seguirem suas profissões.
Agora corta para a floresta: tudo está encadeado. Todos têm seus predadores de sorte que não tem como só as formigas mandarem. Ou só as cobras.
O Homem é um animal  mamífero. Leva um ano para caminhar, enquanto que os potros caminham com dois minutos de vida.
O Homem é um mamífero, mas se acha Deus.
O problema é que ele não tem predadores.
Por isso, lamentavelmente, a Terra não vai mais aguentar o desequilíbrio desse ocupante .
Fico me perguntando: como é que só cabe um boi por hectare de campo e cabem milhões e milhões de mamíferos humanos nas cidades, onde já há escassez de água?
Não há outra saída a não ser a limitação  de filhos.
….

É claro que um dia vou morrer.
Então está tudo pronto: cremação rápida e cinzas espalhadas nos lugares em que me fui feliz.

Que mal tem  falar “de sua última morada”?
Gosto muito de visitar jazigos.Um é o belo cemitério da Recoleta em Buenos Aires, um recanto cheio de História e Arte?
E os belos cemitérios da Alemanha.
E os interessantes jazigos de Santiago, que retratam as famílias tradicionais.
E os de Santa Cruz, com tantas lápides em alemão?

….

Volta e volta e o assunto dos sinos está em pauta. Uns anos atrás um promotor brandiu contra os sinos, não me lembro mais onde. O Promotor não conseguia dormir por causa dos sinos. 

Pois é.
Como vocês sabem, me criei em Santa Cruz do Sul. Na época era uma cidade do tamanho de Jaguari, Palmares, Nova Santa Rita, algo assim. Nossa portentosa catedral gótica, com suas  magníficas torres, abrigam quatro sinos. Não me lembro agora em que notas esses sinos são afinados. Mas um deve ser em sustenido.
Quando havia uma missa solene, os quatro tocavam ao mesmo tempo, gloriosamente.
Aviso de falecimento, dependia: se fosse criança era um tipo de toque; se de mulher, outro; se de homem, ainda outro.
Eu ajudava a tocar o sino aos domingos.
Na Alemanha, numa vilinha, um chato desses quis acabar com os toques de sinos.
Sabe quem protestou?  os doentes e os idosos, que ficavam sem dormir horas da madrugada. E as horas, dadas pelos sinos, lhes faziam companhia.

(Colaborou nesse texto Maristela Genro Gessinger)