terça-feira, 18 de outubro de 2011

CONTINUANDO A FILOSOFAR

 
de Silvio Meincke
Pastor em Schwäbisch Hall, em B-W, na Alemanha
( em carta a Foerster)
 
 
 
Estive várias vezes na Holanda, porque tenho bons amigos lá, e daqui de casa é um pulo.
[ Deveras com as boas linhas ferroviárias, estradas existentes etc.]
As moradias não tem cercas, e os pátios nâo tem cães ferozes. As janelas tem vidraças
amplas, e as cortinas ficam abertas, assim que o passante pode ver o que se passa dentro
de casa. Procurando esclarecer o mistério, fui informado que este país, não obstante os
muitos canais, tem os menores fossos entre ricos e pobres, certamente um dos motivos
para que a populaçâo possa viver tranquila, sem assaltos e arrombamementos. Não quero dizer que o pobre é violento e criminoso, mas quero dizer que uma sociedade socialmente dividida leva à criminalidade: jovens rejeitados, desintegrados e sem perspectivas são candidatos para a prática da criminalidade, seja por frustraçâo, por revolta, por tédio, por desespero. As cercas elétricas, os cães ferozes, os muros, a abundância de chaves, o medo de sair às ruas, são o preço que o povo brasileiro paga pelo equívoco de ter edificado uma sociedade injusta; é o preço que nós pagamos por termos permitido que tal sociedade fosse edificada.
A paz só sabe andar de mâos dadas com a justiça social, elas são irmãs gêmeas. Isso já era sabido pelos profetas bíblicos, porque um deles falou que a paz e a justiça querem beijar-se. Por isso, quem quer diminuir a violência, que lute por uma sociedade socialmente mais justa. Em todos os lugares pode-se ver que a elevaçâo da pena não reduz a criminalidade. Faço melhor se, ao condenar um criminoso, procuro conhecer bem as causas da criminalidade e luto contra essas causas, em vez de mexer somente nas consequências
 
Bem, meu amigo, são reaçôes bem rápidas que me permito jogar na roda do diálogo. Abraço, Silvio.