sábado, 29 de outubro de 2011

AS TREZENTAS ONÇAS EM ROMA

Claro, tontinha, que não leste o conto " Trezentas onças" do J. Simões Lopres Neto. E tu, tontinho, claro que onças eram moedas e não esse bichinho do circo. Bueno, corria o ano da graça de l985. Eu peguei um trem da Alemanha para viajar até Roma. Na Alemanha a moeda era o marco. Na Itália a gente precisava um carro de mão cheio de liras para comprar um sorvete, rectius, uno gelatto. Acho que ainda não havia cartões de crédito.
Fui com uma pochette levando todos os meus dólares, marcos e o passaporte.
Cheguei na Stazione Termini, no centro de Roma e fui me hospedar no Quirinale. Cheguei na portaria e o cara me olhou penalizado e me disse o preço da diária. Era muito dinheiro e não enfrentei a parada ( claro que o Quirinale hoje é um hotel apenas médio em Roma).
O porteiro, que gostou do meu jeito - acho - me disse:
- ô pobretão do terceiro mundo: vai aqui ao lado na Pensione Abadan. Acho que hoje não existe piú.
A dona da pensão me indicou um quarto e me disse que ia reter meu passaporte.
Tudo bem.
Fui ao banheioro coletivo, coloquei a pochette sobre o vaso sanitário, tomei meu banho, vesti-me e saí a pé pela Roma, da qual eu seria o conquistador.
Estava a vinte quadras da Pensione e me dei conta que estava sem a pochette.
Saí correndo de volta, correndo e chorando. Chorando e rezando.
Entrei alucinado e a dona, um senhora tetuda e gorda de preto ,arrodiando minha pochette .
Não dormi com nenhuma mulher naqueles dias, amor livre só no Brasil, mas sempre fiquei enrodilhado na  minha pochetezinha do coração.