terça-feira, 13 de maio de 2014

OS CAMINHÕES NA MINHA VIDA



 

Quando criança eu era  fissurado em caminhões. Tinha um, grande, de madeira. À noite o deixava estacionado ao lado de minha cama.

Meu pai tinha um de verdade: era um Chevrolet verde. De vez em quando eu o acompanhava  a P. Alegre, para buscar uma carga de coca-cola. Saíamos ainda noite escura de Santa Cruz, passávamos a balsa em Rio Pardo, rumo a Pantano Grande.  De lá, estrada de chão, que hoje é a BR 290, até Guaíba. Lá ,a barca até P. Alegre. Viagem de 6 a 8 horas.

Já morando em P. alegre, eu era freguês do caminhão do Sr. Piccinin.Eu ia na rua Hoffman, onde ele carregava e vinha com ele a S. Cruz, pois não tinha dinheiro para o ônibus. 

Como juiz em Santiago, conheci o médico dr. Plada, já falecido. Ele tinha um  caminhão só para pescarias. Na carroceria coberta havia camas, tulhas para mantimentos. Não preciso nem dizer que essas pescarias eram para  churrascos, carreteiros e cervejadas. Além de “  causos” e anedotas.

Nesse meio tempo , ao viajar pelas estradas, me comprazia em olhar aqueles caminhões altaneiros, sempre acalentando o sonho de um dia ter um. Para que, não sabia.

Até que, por essas coisas do destino, casei com uma mulher de origem campeira.  Daí a ingressar no agronegócio foi um tapa.

Fomos crescendo e crescendo e chegou a hora de nossa estância ter um caminhão boiadeiro.

Comprei um lindo Ford Cargo,zero bala, apto a carregar umas 20 novilhas e que também se prestaria a trazer nossos animais para a Expointer, além de entregar  nas estâncias os animais vendidos ( o que facilitaria os negócios, coisa lógica).

Mandei fazer a carroceria a capricho, toda de vermelho, com os dizeres Pecuária Gessinger nas laterais.

Por achar meu capataz muito xucro e barbeiro,eu a e minha mulher fomos a Auto Escola fazer a “ carteira D”. Eu “ rodei” no primeiro exame prático, mas passei no segundo.

Indizível minha emoção quando, carregando  nossos animais para a Expointer, iniciei o trajeto de 550 kms até Esteio. Caminhão é um bichão enorme e ainda com carga viva você  praticamente não pode ultrapassar ninguém.

Mas meu grande desafio era não fazer fiasco na hora de entrar no Parque e  encostar de ré no desembarcadouro,  não podendo encostar enviezado, se não o animal não quer sair do caminhão.  Entrei no portão ,fui l lááá  na frente, aprumei bem direitinho e vim dando ré , me orientando pelos dois espelhos. Eu tinha treinado muito na fazenda, mas ali eu estava tenso. Imagina  dar uma trompada, estraçalhando a traseira da carroceria. E fui indo, até que um “ colega” caminhoneiro abriu os dois braços sinalizando que faltava cerca de um metro. Fui indo e ele diminuindo o tamanho até que ficou com as palmas das mãos quase juntas. Fui ao freio suavemente, quase parei e só deixei correr pela inércia mais 10 cm e o meu Cargo pousou suavemente.

Meu coração batia loucamente e minha emoção me marejou os olhos de lágrimas.

Coisas de guri...