Antes da adolescência, tinha um
saquinho de bolitas (águeda, acinho, umas floreadas, listas lindas). A
gente jogava na rua e era um jogo limpo, brihante para quem tinha “nhaque”. Eu
não era dos melhores ; havia, na turma, quem se rebuscava e era temido. Nossas
armas eram o canivete e o bodoque. Eu fazia os meus próprios, forquilha
caprichada, borracha de câmara de pneu, sola bem arrochada para receber a
pedra. E, nisso- na arte de usar o bodoque, era um ás, Pobres passarinhos. Era
certeiro. Quando passava férias na fazenda de meu avô, a vó Gregória sacudia a
cabeça e dizia : menino malvado, matou os pobres bichinhos. Mas fazia a
passarinhada com arroz. Depois, ja na adolescência,queria namorar, curtia
amores lindos dos quais, na maioria das vezes ela não sabia. Troquei a
bolita e o bodoque por bicicleta e a vida seguia. Na plana
Riachuelo, onde nasci e cresci, o calçamento de cascalho não impedia as
corridas vertiginosas de fim de tarde. Uma vez, o Zé Babão, na minha bicicleta
e num fim de tarde, no afã de bater o melhor tempo, levou por diante o
Salvador, um negão de dois metros que seguia em paz, terno branco, rumo ao
carnaval. Não deu prá avisar. O Babão levantou o negão e caiu, embolado com
ele, naquela polvadeira de verão. O negão ficou marrom, o terno imprestável e o
Babão só se desculpava, dizendo que quebrara a clavica...Salvador era
amigo de minha família e só por isso levou livre o Babão. Mas teve que voltar
para tomar um banho, trocar de roupa e voltar aos folguedos de Momo. Ninguém
tinha telefone, muito menos computador, televisão e I-Phone. Eramos felizes e
não sabíamos...