segunda-feira, 20 de junho de 2016

AINDA SOBRE A MORTE DOS MEUS AMIGOS -COM LICENÇA, OBRIGADO E DESCULPE

DR. HERMES DUTRA


Tenho seis netos. O mais velho tem dez anos e o mais novo 18 meses. São as coisas mais lindas e reconfortantes que tenho. Mas não abro mão. Quando dizem: Vô, me dá isso ou aquilo, dou logo, só antes lembro “e cadê o por favor”?

Tens razão Ruy, esses amigos morreram a muito tempo. Mas o que é pior, na minha opinião é que está se consolidando uma posição, principalmente entre os mais jovens, de um vale tudo, além da falta de respeito. Ninguém mais se acha na obrigação de ser cortês, dar preferência a outrem. Esses dias dei carona para uma colega, trintona, e lá pelas tantas diminui a velocidade para um ônibus entrar na nossa pista. Ele me disse: porque fazes isso, esses motoristas de ônibus são tudo mal educados e não dão colher de chá para ninguém. Respondi-lhe que não fazia pelo motorista, mas sim pelos 50 e tantos passageiros que provavelmente ele conduzia. E infelizmente a maioria pensa como ela.

 

Creio que o fulcro da questão está na nossa indiferença. Aceitamos demais as coisas e o resultado é esse. Esses dias conversava com um querido amigo e lá pelas tantas disse-lhe que eu achava que nossa geração tinha fracassado (vou fazer 69 anos). Ele me olhou com certa estranheza, mas ao fim e ao cabo concordou comigo. Podemos, individualmente, ter mais ou menos(ou nenhuma) culpa nesse fracasso, mas que fracassamos, fracassamos. Olhe o país que estamos entregando para nossos netos. Nós aceitamos demais as coisas que fazem errado. Ainda hoje, ouvi que um juiz mandou que grevistas saíssem da porta de um depósito de lixo, que impedia que os caminhões saíssem com esse produto para lhes dar destino final. Fiquei pensando: Ora, para um juiz ordenar, alguém certamente, através de advogado entrou com uma ação para solicitar isso. Mas é o fim. Um problema de saneamento e não agimos imediatamente. E achamos normal. A policia tinha que ir lá, de oficio, expulsar essa gente e ainda levar para a policia civil para o necessário inquérito e enquadramento. Invadem escolas (até o governador hoje no Rádio disse que era ocupação) e fica por isso mesmo. E os pobres, como sempre, tomando ferro, pois jamais vão recuperar o que deixaram de aprender. Se indo as aulas já é difícil, imagine com essa ausência forçada de mais de trinta dias.

 

Minha esposa e eu durante todo o mês de abril, passamos no Japão. Era um sonho antigo e fizemos a viagem coincidir com o florescer das cerejeiras, o que tornou ainda mais linda nossa viagem. Ao visitarmos um parque em Tóquio, vimos milhares, sim milhares, de famílias fazendo piquenique. Abriam toalhas e/ou lençóis e ficavam ali a conversar e esperar o tempo passar. Não se via qualquer lixo no chão.  Procurei uma lixeira para colocar um pedaço e papel e não encontrei. Depois de duas horas andando pelo parque (não deu para conhece-lo por inteiro), na saída, vimos três trabalhadores ao lado de grandes toneis (imensos) a orientar onde colocar o lixo que cada um trazia ao fim do passeio. No outro dia perguntei a guia da excursão, como é que a gente não via cestos para recolhimento de lixo, ou eram muito raros, e não se via um único pedaço de papel nas ruas. Ela com a maior tranquilidade me disse: Aqui cada um é responsável pelo lixo que gera.

 

A questão então, caros confrades, é uma só: EDUCAÇÃO. Enquanto não educarmos nossas crianças de forma adequada, fazendo-as ver que não se deve fazer o mal, e que se fizeram sofrerão punição, estaremos formando esses que você narrou.

Enquanto nossos adultos (eu incluído) continuarem omissos,  para não se incomodar, aceitando um monte de erro do nosso próximo, as coisas  continuarão como estão, com tendência a piorar. Enquanto nossas leis, nossoa magistrados e muitos de nós, acharem que alguém que rouba ou tem maconha só para consumo não deve ser preso, vamos continuar piorando.

 

Católico praticante que sou, as vezes me pergunto em oração: Mas meu Deus, não temos saída, será esse o futuro? O que fazer ? Será que não fostes severo demais com nós brasileiros ? E parece que ouço a resposta: Dei-lhes tudo que poderia dar a um homem e uma mulher para serem felizes. Só Não posso interferir no direito que vocês têm de decidir sobre o que é bom ou o que é ruim.

 

É isso. Mas tenhamos fé.

 

Hermes
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DR. LUIZ AUGIUSTO BECK






 
Para mim, a quebra das relações e de um convívio social respeitoso, harmônico, urbano e civilizado já se decretou há muito tempo, sob os olhares atônitos, perplexos e impotentes do Poder Público e das Instituições que viram e deixaram o “crime organizado” e o tráfico crescerem, sem reunirem forças, condições e recursos para os enfrentar.
Os presídios não recuperam ninguém e as escolas não mais cumprem seu papel. O caos instaurou-se para ficar.
A pobreza ramificou-se assustadoramente, morros e vilas estão infestados de “moradias” e habitações sem dignidade. A dívida social é imensa. Já, nas cidades, ao menos em nossa mui querida e valorosa Porto Alegre, os indigentes e moradores de rua aumentam assustadoramente.
Hoje, você sair com sua esposa, companheira ou namorada para jantar em um dos bons restaurantes que ainda não fecharam é uma aventura, um risco e um ato de coragem. Resta-nos a tal de “tele entrega”, quando queremos dar um alívio para a patroa, na torcida de que o motoboy seja um trabalhador decente e do bem.
Enquanto isso, a corrupção campeia solta em vários setores e segmentos da política e da vida pública; classes, categorias, entidades e poderes constituídos fazem greve, reivindicando aumentos e reajustes de um governo acuado, que atrasa e parcela salários até de R$ 1.500,00, devendo cerca de 10 bilhões em precatórios e com uma dívida para com a União em torno de 50 bilhões.
Já quebrou, Ruy. Quem quiser se iludir e se enganar que o faça. Saudemos o otimismo. Como teu amigo de adolescência, conterrâneo, louvo e te parabenizo pelo “modus vivendi” que escolheste, buscando, predominantemente, a natureza, o pampa, o verde, a vida saudável no campo junto aos animais e às pessoas simples, da vida e da lida campeira, do trabalho árduo, que vivem dignamente, ainda cultivando princípios e valores que nossos pais e mestres nos repassaram.
Presentemente, só nos resta rogar ao Supremo Arquiteto do Universo que não sejamos os eleitos pela bandidagem. Estamos indefesos e sob risco até mesmo nos condomínios de luxo.
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 LISSI BENDER
 
 
! Comungo contigo tua tristeza diante da falência do direito de manter janelas e portas abertas, do direito de caminhar despreocupadamente à noite, do direito à vida segura. Nem mais água limpa permitimos aos peixes, que se dirá da água que legaremos aos nossos filhos! Quando falo dessas cousas, sempre há quem diga conformado: “ é assim em todo mundo”. E eu me entristeço mais ainda porque conheci lugares em que as casas não são muradas, as janelas e portas não estão gradeadas, em que as ruas continuam sendo dos pedestres, mesmo de madrugada, e onde serpenteiam córregos conduzindo água límpida. Percebo alguma preocupação para legarmos um mundo melhor aos nossos filhos e netos, mas não percebo preocupação para legarmos filhos melhores ao planeta e ao convívio social.  Percebo que estamos mais criando filhos do que educando filhos. Tenho para mim que é essa crescente falta de compromisso dos pais para com a educação de seus rebentos e o filamento da educação formal, que decretam o falecimento dos "amigos" de que tu falas. Se não mais legarmos valores, não mais  ensinarmos consideração para como o outro, para o convívio atencioso com o meio ambiente e em sociedade, estaremos promovendo uma sociedade de lobos. E os lobos estão aí, mais e mais se proliferando em nosso país, e os ditos ‘direitos humanos’ os acolhem sob o manto da compaixão - basta verificar o tratamento dado aos parentes de  bandidos em detrimento ao das famílias das vítimas – Nesse sentido, um dito popular neerlandês adverte: “Misericórdia para com os lobos é injustiça para com as ovelhas”.  
Temo que esse substrato social em formatação, gerador de lobos, possa, até mesmo, silenciar os sinos.