domingo, 3 de julho de 2011

A NOITE MAIS FRIA DE MINHA VIDA

Quando nosso grupo familiar resolveu adquirir uma fazendola encostada à propriedade que já tinha, foi uma dicussão muito grande para sabermos o que fazer com a sede da estância recém adquirida.  Ela ficava  muito encravada, meio longe de estrada e corredor, conquanto fosse  mais completa que a da família. Casa melhor, mangueiras melhor estruturadas, galpões muito bons.  Decidimos incialmente deixar lá um caseiro. Acabamos, depois, resolvendo não criar ilhas e ficar tudo centralizado na sede antiga, de sorte que aquela recém adquirida ficou desativada.
Mas enquanto isso não ocorria, num meio de tarde hibernal peguei nossa Ranger tracionada e decidimos visitar o caseiro e lhe levar alguns suprimentos. Fomos por dentro do campo, seguindo uma trilha. Dava uns 6 kms até lá.  Frio, garoa, vento.
O caseiro nos esperava alegremente com um belo fogo na lareira.
Ao cair da noite decidimos voltar: Rudolf, Maristela e eu.
Me afastando uns mil metros errei a trilha e  entrei num charco e, inobstante a Ranger ser tracionada, atolou até os eixos e ali ficamos.
Noite escura como breu.
O vento uivava e zunia. Eu não tinha lanterna nem nada. Os faróis da ranger não adiantavam por que estavam virados para o lado contrário ao da casa.
Comecei a gritar por Moacir, o caseiro. Não adiantou.
A chuva fria começou a apertar e eu disse a Maristela e Rudolf que ficassem dentro da caminhonete, não saíssem de jeito nenhum até amanhecer, que eu iria ver se voltava às casas de onde recém saíramos.
De vereda  bati contra um espinilho e feri meu rosto.  Mas ainda divisava o vulto opaco da Ranger.
Andei mais uns passos, tropecei numa coisa e planchei contra o barro. Fiquei todo molhado e comecei a tiritar.
Voltei me arrastando até a caminhenete e passei a buzinar intermitentemente.
Nada.
Recomendei que não saíssem da caminhonete e tentei de novo ir até as casas.
Agora vem a parte que quero que acreditem, por favor.
Surgiu uma nuvenzinha de vagalumes, de certo mandados por Nossa Senhora, que me deixaram ver onde ficava o mataburro.   Dali divisei as luzes da casa e fui gritando pelo Moacir, que logo acudiu.
Com a ajuda dele desatolamos a Ranger e voltamos.
Eu não conseguia falar, pois minhas madíbulas tinham enregelado, meio de frio e meio de medo.
Vou ficar muito triste se vocês não acreditarem  nos vagalumes.