terça-feira, 3 de setembro de 2013

EXPOINTER - INSTIGANTE ARTIGO DE IVAN SAUL


Conversando com Monsieur Yves Lemaire jurado do Ile de France.

A EXPOINTER, todos sabem, é a grande vitrine do agronegócio gaúcho. Quem quer ver e ser visto precisa aparecer por lá, sob pena de não ser levado a sério no rigoroso e conservador meio agropecuário do Sul. Até eu que pouco tenho à contribuir para tão esplendoroso cenário, devo fazer uma visitinha, rever e fazer amigos, levar minhas opiniões e trazer diferentes impressões e saberes para compartilhar com os amigos ou aplicar em casa.



A grande característica que pude perceber nesta 36ª EXPOINTER foi a, cada vez maior, participação de “cristãos novos” –significando dinheiro novo no agro – que forçam a festa no rumo de um enfoque mais profissional. Em todas as espécies e raças é possível observar novos adeptos, dinheiro de outras origens buscando retorno financeiro e prestígio, objetivos não tão facilmente alcançáveis na grande exposição-feira, juntos pelo menos. Este dinheiro novo – com origens na indústria, no comércio e nos serviços – entra na atividade rural pelas mãos de gente acostumada a ganhá-lo em empreendimentos de alta rentabilidade, gente que exige lucratividade do meio rural que, na contramão, ambienta-se no grande ativo imobilizado e nas pequenas margens de lucro. Alguns dos cristãos novos estarão procurando blanquear, isto é, dar origem lícita ao seu Caixa II, até aí nenhuma novidade diante da realidade fiscal em que vivemos; enquanto outros tentam recuperar, com vantagem, a posição perdida por seus pais e avós vitimados pelo êxodo rural.

Exceto pelo maquinário agrícola e novidades tecnológicas e pelas espécies e raças mais prestigiosas, a EXPOINTER nunca foi caracterizada pela agilidade como praça comercial. Suspeita-se, inclusive, de que muitos dos negócios de vulto registrados em Esteio, em seus 36 anos, foram previamente acertados e aguardaram o grande evento para que se extraísse a nota fiscal e fossem concretizados em grande estilo, sobre o palco e sob os refletores. Afinal, pode ser que aconteça de um cavalo ser avaliado e comprado por alguns milhões de reais mas, que alguém compre uma colheitadeira, um trator ou, até mesmo, uma camionete “por impulso”, fica mais difícil de acreditar.

Assim, em bom português, apesar das somas movimentadas, a EXPOINTER é muito mais um fenômeno de mass media ou merchandising que um fenômeno comercial ou de marketing –fenômeno por ser como uma trovoada, ou qualquer outro fenômeno meteorológico que, quanto mais próximo de nós ocorre, melhor sentimos seus efeitos, ainda que esta proximidade nos dificulte a correta compreensão da extensão dos danos.

Há uma série de interesses envolvidos em evento de tamanha magnitude, alguns deles conflitantes. A organização, que no caso de exposições agropecuárias oficiais chama-se Comissariado, zela pelo sucesso de público e comercialização [seu lucro provém do aluguel de espaços comerciais, os stands, da bilheteria e da comissão sobre as vendas realizadas durante o evento]. O público que comparece, mesmo dedicando atenção à junk food e às atrações paralelas, paga para “ver os bichinhos”. E o expositor que dedica-se à divulgação de sua marca, o nome do seu criatório e da raça ou raças que cria, objetivo alcançado plenamente quando seus exemplares andam na frente nos julgamentos, na premiação e, quando a fortuna sorri, na comercialização dos animais.

Sendo a duração, o maior exemplo dos conflitos de interesses, em eventos do porte da EXPOINTER. Ao Comissariado, pela bilheteria, e ao público, pelo programa alternativo, interessa que o evento abranja dois finais de semana, já ao interesse do criador/expositor corresponderia uma duração máxima de cinco dias, tempo suficiente para os julgamentos [são dois, admissão e classificação], premiação, remates e confraternizações. Os custos envolvidos na “exposição”são elevados e extraordinários ao dia-a-dia da cabanha, transporte e alimentação com preços superdimensionados [humana e animal] são os principais componentes extras do orçamento.

Desde um ponto de vista relacionado à “bem estar” [físico e psicológico e, novamente, humano e animal] é justo dizer que ir à EXPOINTER é demasiado cansativo. Senão, tentem lembrar –os leigos que alguma vez passaram o dia por lá, passeando sem compromisso – como estavam se sentindo ao voltar para casa, agora multipliquem por dez. Para não citar o irremediável trânsito da BR116.

Há ainda, o conflito de interesses ocasionado pela delimitação dos espaços destinados às diversas atividades que ocupam o Parque Assis Brasil, quanto maior o “apelo comercial”do produto exposto, maior a área que lhe é reservada. Assim, maquinário e implementos agrícolas, equinos e barraquinhas de lanches, merecem maiores acomodações que bovinos, ovinos e outras espécies menos cotadas. A atenção dedicada aos animais que em casa pagam as contas, é bem diversa daquela dedicada no Parque aos queridinhos do Governo do Estado, em nome da devoção amorosa da Secretaria da Fazenda.


[Na Parte II as preocupações concernentes aos animais]

Saudações Ovelheiras!
Ivan Saul D.V.M. M.Sc.Vet. – Granja Po’A Porã, 02/set/2013.