quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A FUGA DA JOVEM MÃE


 

Em muitas cidades do RGS  os religiosos católicos e luteranos  tinham, justapostas aos seus colégios,   consideráveis áreas, que eram usadas para leitarias, pomares etc.

Em São Leopoldo, o colégio São José, das irmãs franciscanas, decidiu lotear uma área que, ao fim e ao cabo, transformou-se no Bairro São José.

Eu tinha uma casa lá.

Um dia de verão, estávamos, eu e meus filhos jogando no nosso pátio. Eis que a bola foi para o terreno do vizinho.

 

Essa casa  era alugada para um casal alemão.Estava sempre fechada e eu não notava movimento.

Saí pela calçada e apertei a campainha . Nada. Insisti. Até que surgiu uma mulher muito jovem, loira, pele muito vermelha no rosto, com uma cara de choro que vou te dizer.

Falei com ela em alemão e pedi licença para buscar a bola. Ela abriu o portão e eu notei  que recém chorara.

- Was ist los? perguntei. ( o que há)

- kommen sie  herein, bitte, disse ela, me convidando para entrar.

Na sala havia um berço com um  gordo e rosado bebê, só de fraldas, todo picado de mosquitos e suando.

Resumo: ela me disse que estava desesperada, não tinha nada para fazer durante o dia, estava com saudade de seus pais e  queria que eu lhe desse o número do telefone de um taxista de confiança. Queria voltar para a Alemanha.

Falei para ela se acalmar,estava evidente sua depressão. Não sabendo o que fazer, peguei a bola e lhe dei tchau.

Fiquei com pena daquela guria que poderia ser minha filha. Suas lágrimas me cortaram o coração. A pobre moça estava precisando era de um colinho. Mas é claro que não alonguei a conversa, mesmo por que poderia ser mal interpretado.

Os dias se seguiram.

Uma bela manhã chamei um táxi  para me levar ao aeroporto em P. Alegre.

. Lá pelas tantas o motorista me falou:

- semana passada eu carreguei sua vizinha e o nenê para o aeroporto. Estranhei que ela não tinha  mala. Só o nenê e uma mochilinha. Tinha muita pressa, ia pegar um avião para o Rio de Janeiro. Na volta da viagem me informei.

- a moça, cansada de apelar para voltarem, simplesmente deixou tudo para trás, e voltou para sua terra.

Aí pensei: e nossos antepassados? Seu bilhete era sem volta.

Quantos e quantas não terão chorado de saudade de sua Heimat?

Naqueles tempos a  única solução era espantar os mosquitos, secar as lágrimas, ter fé, rezar e trabalhar; não havia remédio. Mas , como se verificou, acabaram , em grande maioria, vencendo e se adaptando.

Por sinal, há mais de 50 anos, quando as terras escassearam na região de nossa Santa Cruz, muitos colonos, inclusive parentes de minha mãe, partiram para o oeste de Santa Catarina, então mata virgem.  Quando voltavam para nos visitar, muito esporadicamente, contavam de suas dificuldades, até de feras bravias.

Contei isso aos meus parentes distantes da Alemanha em Zeltingen Rachtig. Ao que me disse uma senhora:

- nós que ficamos aqui e não emigramos, não somos nem de perto tão valentes quanto vocês.