quinta-feira, 30 de novembro de 2017

SAUDADES DA MINHA TERRA NATAL

Lembro-me vagamente de uma espécie de hino que escutei na meninice em minha terra natal:
Santa Cruz, ó linda terra/de fulgor e encantos mil/
salve ponto luminoso/na amplidão do meu Brasil
Procurei no Google e não a achei. Também não me recordo das demais estrofes.
Corta para a Rua Tomás Flores, 864, onde era a casa de meus pais.  Pertinho dali ficava a casa do sr.Alfredo Kliemann. Meu pai ia conversar com ele na calçada. E eu ouvia músicas maravilhosas que advinham daquele sobrado.  Só recentemente me dei conta que era a Suite Copelia  de Delibes. As partes de que mais gostava eram a Valsa e a Mazurka.
Câmeras no auditório do Colégio São Luiz. Fui, com meus pais, assistir a uma apresentação do Orquestra Estudantina (seria mesmo esse nome)? Nunca mais me esqueci de uma das lindas músicas que tocaram. Chiribiribin ( Ciribiribin! Che bel faccin, / che sguardo dolce ed assassin. / Ciribiribin! Che bel nasin, / che bel dentin, che bel bocchin). Um dos violinistas era o Guido Molz, salvo engano.
Meu Deus, e quando surgiram os filmes de Sissi, a imperatriz? Todo falado e cantado em alemão, diziam os anúncios. Minha mãe foi assistir várias vezes e voltava quase morta de tanto chorar.
Por sinal, recentemente num acesso de saudade e nostalgia, fui no You Tube ou na Netflix e assisti aos três filmes da Romy Schneider. Tive que pegar um roupão de dois metros para enxugar as lágrimas. O alemão que se falava no filme era o  de Santa Cruz.
Câmeras agora para a rua João Werlang, em cuja esquina com a Tomás Flores era a casa de comércio de meu pai. Aos domingos vinham os colonos de carroça e deixavam ali seus veículos com os cavalos. Entravam pelos  fundos e lavavam os pés no tanque. Tiravam os chinelos e tamancos e calçavam sapatos. E se iam duas quadras adiante para a Santa Missa . Minha irmã Lia e eu aproveitávamos para esconder as sombrinhas e chinelos.
Ao lado da nossa casa, onde agora mora a família do sr. Ely Fontoura, era a residência  dos padres. De vez em quando o Pe. Linn vinha jogar um Schaffkopf com meu pai e seus amigos.  Outra lembrança inolvidável era o Pe. Darupp, homem finíssimo (devia pertencer à nobreza alemã), sempre vestido impecavelmente e que vinha tomar uma cervejinha com meu pai vez por outra. Era o momento de abrir a porta da sala, com suas poltronas, que só era usada nos momentos especialíssimos. E o padre entoava as antigas canções alemãs, suave e pianíssimo. Não gritava, entoava, fazia um pequeno vibrato. Um homem fino.

Agora me lembrei do Padre Demmler, outra figuraça em sua “ Monareta”, uma pequena bicicleta a motor.. Eu tive uma infância muito feliz. Tinha pais, avós, irmãs, tios e tias, amigos amorosos. Dou-me conta que eu estava no céu e não sabia. Que o outro céu seja meio parecido...