Era verão em 2005. Eu tinha 9 anos e recém saído de férias do colégio. Fui com o meu pai para a praia, chegamos no começo da tarde e, tão logo nos estabelecemos, ele me deu uma relação de coisas que queria que eu comprasse na farmácia. Unida por um clips ao papel que continha o que eu precisava trazer, uma nota de 50. Que dinheirão!, eu pensei.
Calcei um tênis e fui cumprir a missão. Só não fui segurando a nota de 50 com as duas mãos porque cairia da bicicleta.
Eu sempre ia na mesma farmácia e o trajeto era curto. Em questão de 20 minutos, eu já tinha voltado trazendo um envelope pardo com tudo dentro: os remédios, a nota fiscal e o troco.
Como normalmente fazia, meu pai confirmou que tinha vindo tudo e, do troco, me deu as moedas e alguma nota de 1 e 2. Eu me sentia super bem recompensado com o que ganhava nessas tarefas; dava pra comprar um picolé no final do dia e esse era o auge.
Minha mãe não veio conosco porque as férias dela ainda não tinham chegado, por isso resolvemos pedir uma pizza de janta. Liguei e pedi uma grande, inclusive frisei: GRANDE.
Troco pra 50, vinha em meia hora. Peguei o dinheiro com o pai e fiquei esperando.
Lá pelas tantas, chegou um cara de moto ali na frente de casa trazendo uma caixa de papelão mais ou menos do tamanho da roda de um carrinho de mão. Achei aquilo muito estranho.
Lá pelas tantas, chegou um cara de moto ali na frente de casa trazendo uma caixa de papelão mais ou menos do tamanho da roda de um carrinho de mão. Achei aquilo muito estranho.
- Moço, teu pessoal errou. Eu pedi uma pizza grande.
- Mas essa é uma pizza grande!
Não pode. Louco eu não tinha ficado.
Pedi pra ele abrir a caixa e vi que a pizza tinha os sabores que queríamos. O problema é que sendo daquele tamanho eu comeria tudo sozinho e continuaria com fome… e o preço era de pizza grande.
- Cara, isso não é uma pizza grande de jeito nenhum!
- O nosso tamanho grande é esse e o teu pedido tá certo.
Não era certo aquilo. Com firmeza, respondi:
- Então pode levar embora isso aí porque eu não quero. É pequena demais.
Ele não tinha culpa, mas me entendeu. Montou na moto, fez a volta e foi embora. Também me virei, abri o portão e, logo que entrei no pátio, vi meu pai de pé na área. Percebi que ele tinha testemunhado tudo.
- Tu viu que tentaram nos roubar?
- Tô orgulhoso de ti. Isso é saber dar valor ao dinheiro! Ele me respondeu abrindo os braços, que estavam cruzados.
Ganhei um abraço forte e agradeci pelo elogio. Realmente eu não tinha percebido a dimensão do que eu tinha feito.
Em seguida disse alguma coisa como “ó, tá aqui o teu dinheiro”.
- Fica pra ti. Vou ligar pra tua mãe e contar que tu foste muito bem nessa.
- Ba, muito obrigado!
Olhei pra nota, igualzinha à que eu levei pra farmácia de tarde. Quanta coisa eu poderia comprar usando ela… agora era minha. Fiquei muito feliz.
Então me lembrei que tínhamos ficado sem janta.
- E agora? O que vamos comer?
- Deixa isso comigo, vai lá guardar teu dinheiro.
- Tá bom. Valeu mesmo!
Voei até o meu quarto.