terça-feira, 25 de março de 2014

RELEXÕES CAMPEIRAS - UMA CRONICA BAGUALA DO IVAN SAUL


Ruyzão e Confrades.

 

Pra o Ruy, colega ruralista e conhecedor das elucubrações administrativas que me vão n'alma, não acrescentarei novidade nem haverá surpresa no que tenho à dizer sobre o tema. Pros 'paisanos' da agropecuária poderei parecer um pouco mais radical do que me hão de considerar. Mas afirmo já de arrancada, a comunicação mata a gauchada!

 

Em algum momento, acho que comentei isto, ficou mais fácil locomover-se de bicicleta, hoje é pior existe a moto. Algum dos leitores conhece um trabalhador rural [não, não desse tipo que não tem terra], um peão, trabalhador de verdade, que não tenha uma "125"? Tá bem, a maioria tem carro, não necessariamente CARRO, mas tem, ademais de guardar sua CGzinha atravancando alguma passagem.

 

Bueno, o antigo trabalhador 'de à cavalo', que troteava de sol-a-sol, recorriendo campo, e parando rodeio, e curando bicheira recendendo creolina. O peão, que orgulhoso de ter sido chamado pelo patrão e justado como 'mensual, com casa e mantido' ele e a família. 

 

Quando o gado é brabo, sai em trios na temporada de parição, um laça a vaca o outro o terneiro, o terceiro 'cura' o umbigo e tira o laço do terneiro pois será necessário pra laçar as patas da vaca e, derrubando-a, permitir a retirada do laço da cabeça que 'acama' cerrado e não afrouxa mais. E ela levanta, berrando, bufando e babando, esparrama cavalos e homens até encontrar seu rebento chorão e seguir a trote pra longe.

 

E a manobra se repete 20, 30, 50 vezes num dia, todos os dias. Já apertados de serviço no pico da parição, o capataz que tem autoridade pra isso, ajusta um, dois, três jovens solteiros 'por dia, mais cama e comida na mesa'. Alguns, vão ficando, outros se vão, uns poucos amadurecem, ascendem na hierarquia, e se justam de mensuais, já podem casar e vir morar na estância.

 

Mas não era isto que eu ia contando. Como sempre, divaguei... 

 

Num início de noite, sexta-feira, planejando o serviço do sábado, lá por oitenta e picos noventa, um capataz, mulato alto e desempenado, com olhos cinzas e espertos de potro zarco, me olha bem na cara e sentencia: "Doutor, agora é semana 'ingresa', é 44 hora!"