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MATEMÁTICA E CIÊNCIAS: FOCO ESTRATÉGICO
Um recente estudo da Universidade de Harvard revelou a relação existente entre o ensino de matemática e ciências e o estágio de desenvolvimento dos países. Não chega a ser uma grande novidade – os países são tanto mais ricos quanto privilegiam o ensino daquelas disciplinas.
Faz todo o sentido. Não se fabricam chips, novos equipamentos de imagem e informática, smartphones, sem a busca obsessiva e a pesquisa no campo de novos materiais, que precisam ser cada vez mais leves e resistentes. Não se criam e desenvolvem programas de informática e aplicativos com dissertações de sociologia.
No Brasil há cursos e alunos demais em letras, sociologia, pedagogia, direito, história, filosofia. Temos mais de um milhão de advogados – nenhum país do mundo se aproxima desse número. Não pode dar certo um país que tem mais faculdades de direito do que no resto do planeta - o sinal eloquente do bacharelismo que sempre foi uma marca do ensino brasileiro.
Quando se avaliam os cursos de matemática e de ciência no Brasil a nossa posição está sempre lá atrás, entre os últimos. É evidente que no patamar sofrível do ensino dessas matérias está uma das razões essenciais do nosso atraso e paralisia, das nossas décadas perdidas.
São raras as ilhas de qualidade ou excelência nessas áreas. O retardo, a nota mediana, passar de ano raspando, tudo é aceito como normal, como se as coisas tivessem de ser assim. Ninguém ousa propor algo diferente, soluções inovadoras que já foram aplicadas e deram certo em vários países. Falo de estímulos extras para os professores, em salários, abonos e vantagens. Ninguém ousa tocar no tabu da isonomia salarial, cláusula pétrea defendida pela esmagadora maioria dos nossos pedagogos, burocratas, estudiosos, intelectuais.
E, no entanto, seria um bom começo para uma mudança de profundidade: aumentar exponencialmente o número de professores nas respectivas áreas, com salários diferenciados, qualificando-os em programas duradouros de aprimoramento e atualização. Da melhoria do ensino naquelas áreas, resultará uma oferta substanciosa de profissionais qualificados para as demandas do nosso tempo.
A Coreia do Sul é um dos países que em 20 ou 30 anos deu salto de prosperidade focando no ensino de matemática e ciências. Hoje em dia, com um território de tamanho parecido com o estado de Santa Catarina, e com uma população quatro vezes menor do que o Brasil, deixou-nos para trás e tem um PIB maior do que o nosso.
O progresso econômico (e por consequência, o social) no mundo de hoje está calcado na capacidade de avançar nas ferramentas da ciência e tecnologia, na produtividade do trabalho, na capacidade agregar valor e utilidade ao que se produz. Não há como superar o estágio medíocre em que estamos, sem o passo estratégico de dar foco especial ao ensino da matemática e de ciências, ligando o estudo e a escola às demandas e necessidades do setor produtivo.
O apego ao beletrismo, ao pensamento diletante, à obsessão das ciências sociais de mudar o mundo através das narrativas politizadas – nada disso ajuda a sair do atoleiro onde estamos empacados.