quarta-feira, 19 de maio de 2021

BELA CRÔNICA DE ROSANE DE OLIVEIRA

 Às vésperas de completar um mês da minha primeira dose da vacina Oxford/AstraZeneca, vou embarcar em um avião, pela primeira vez desde fevereiro de 2020, para visitar meu filho que mora em São Paulo. Decisão pensada e repensada, já que não nos vemos desde o Natal. Ele já teve covidmas não tem perspectiva de ser vacinado tão cedo. Não conseguimos celebrar seus 30 anos, por causa da pandemia. No Dia das Mães, preferi encontrar a minha que, como contei aqui, fez 79 anos em 10 de maio.


A imunização parcial me animou a fazer esta primeira viagem no fim de semana de folga. Serão menos de 48 horas em São Paulo, mas tenho a mesma sensação de quando viajei de avião pela primeira vez, aos 18, para as primeiras férias no Rio. Naquele tempo da pré-história das viagens fáceis, entrei na loja da Varig na Praça da Alfândega, comprei uma passagem de ida e volta em 12 vezes e precisei dominar a ansiedade dos dias que antecederam meu encontro com a cidade mais bonita do Brasil.

Agora, estarei em São Paulo no sétimo dia da morte do prefeito Bruno Covas, 41 anos. A cena dele, debilitado, de mãos dadas com o filho Tomaz, de 15 anos, reforçou em mim o desejo de passar mais tempo com meus filhos, porque a vida é curta demais e temos que escolher o que realmente importa.

Covas foi julgado no tribunal implacável das redes sociais por ter concorrido à reeleição (uma forma de se manter vivo) e ido ao Maracanã com o filho ver a final da Libertadores. À época, já doente, disse uma frase que agora foi lembrada incontáveis vezes: “Talvez eu não tenha outra chance de levar meu filho ao Maracanã para ver uma final da Libertadores”. Tomaz nunca esquecerá desse dia.

Perguntei a meu filho o que ele queria que levasse de Porto Alegre. Fez apenas um pedido: capeletti congelado para tomar a sopa que só eu sei fazer. Vou levar, porque um desejo de filho é uma ordem. E vou pensar muito antes de decidir no que vale a pena gastar o tempo, esse artigo de luxo que, se não for bem usado, vira pó.