sábado, 29 de maio de 2021

CRÔNICA DE RUDOLF GENRO GESSINGER

 É ESSE O GATO!

Faz um ano que saí de casa para adotar um gato

Rua de cima, barbada. O bichano já tinha até nome: Fragoso
Singela homenagem a um dos maiores penalistas brasileiros do século XX.

Chegando lá, nada de gatos, nem de pessoas, nem de coronavírus.
Só um pálio vermelho estacionado no pátio da frente.

Fragoso não estava na casa dele, nem viria pra minha. Não naquele dia.

Minha mãe estava comigo e resolvemos voltar pelo outro lado. Afinal, era uma oportunidade rara de sair para dar uma caminhada juntos.

Não demorou meia quadra até uma cadela boxer latir furiosa contra a nossa proximidade. A dona dela estava sentada na frente de casa, e era conhecida da minha mãe.

Elas se cumprimentaram e resolveram conversar. Entrando junto com a dona da casa, a boxer não foi agressiva conosco. Ao contrário, veio nos cheirar assim como um boxer macho, que só então vi.

A dona deles nos contou que recém tinha doado a última fêmea "pura" da ninhada produto da cruza indesejada dos dois. Sobraram duas filhotas que ela tinha resolvido criar.

Uma delas era malhada, com algumas pintas pelo corpo. Ela veio dum pátio pequeno do fundo da casa andando devagar, bem desajeitada, mas cuidadosa.

Ela andava se torcendo, como quem pega carona no reboque. Também parecia que tremia de frio. Era pequena, tinha dois meses e deveria medir menos de 30 cm.

Ela já tinha nome: Sissi.

Sissi se aproximou e me abaixei para ver fazer um carinho nela. Ela não tremia só de frio, sua então dona contou que a "malhada" tinha sido rejeitada pela mãe, que lhe negava leite, subindo numa cadeira alta toda vez que Sissi queria mamar.

Ela sofreu com a desnutrição. Sobreviveu à base de leite ninho e certamente de alguma roubadinha das tetas de sua mãe quando mais de seus irmãos estavam por perto querendo mamar.

Por isso o nome da famosa imperatriz da Áustria: Sissi era uma guerreira!... com muito frio.

Puxei Sissi para o meu colo. Ela suavemente encostou a cabeça entre meu peito e meu ombro e fechou os olhos bem devagar.

Foi o amor à primeira vista. Tirei os olhos dela e vi que minha mãe também tinha visto a cena e sentido o mesmo.

Sissi tinha entrado pra família, não tínhamos a menor dúvida.

Enrolei a Sissi no meu moletom e voltamos os três pra casa. Meu pai abriu pra nós, achando estranha a imagem que via.

- aí ó, é esse o gato!

- mas é um cachorro...

- pois é; é a Sissi.

Atualmente, Sissi recém deixou de ser uma filhotona. Ela é forte, corre pelos dois pátios da casa, rói muitos ossos e vive todos os dias feliz, com a língua de fora e abanando seu rabão comprido.

Ela ainda anda se torcendo toda vez que me vê, mas agora o motivo é uma felicidade que explode em cada parte de seu corpo.

Sissi é o louco amor na forma de uma criatura.

A vinda dela é a prova de que as melhores coisas acontecem inesperadamente

E de que nossos projetos de vida podem não ser como tanto planejamos: Podem ser ainda melhores!

 

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