domingo, 10 de agosto de 2014

MEMÓRIAS DO ELVIO LOUREIRO SOBRE DIA DOS PAIS


 
Hoje deveria ser um dia como outro qualquer,  mas as lembranças nos remetem ao passado, de um tempo não tão distante, os anos parecem que voam, se olhamos pelo espelho retrovisor, parece que todas as imagens do tempo estão ainda muito próximas de nossas retinas ou de nossa memória seletiva.

 

A vida era dura, todas as tardinhas ajudávamos nosso pai a cortar lenha e fazer graveto, não haviam fogões e gás, muito menos fornos micro-ondas, o velho tinha que levantar as quatro horas da manhã para acender o fogo, aquecer a chapa de ferro, e fazer café, para depois dirigir-se ao trabalho.

 

Naquela época usava-se o velho fogão de ferro, para assar o famoso pão de casa, as padarias ficavam um pouco distantes, além de que era mais barato sovar a farinha sobre a mesa, toda comida era preparada com os mesmos rituais, era almoço e janta, sem falar nos cafés pela manhã e pela tarde, razão de nossa obrigação de picar lenha todos os dias.

 

Nossos calçados eram repassados dos mais velhos para os mais novos conforme nosso crescimento, e era o velho pai que os consertava, naquelas formas de sapateiro, recortando borrachas de pneus velhos dos automóveis para os solados, muitas vezes o prego feria o couro dos nossos pés.

 

Nosso pai era quem cortava nossos cabelos, o corte era sempre o mesmo estilo cadete, ele havia ganhado uma velha máquina manual que estava toda enferrujada, mas ele consertou-a e serviu por muitos anos como instrumento para aparar as melenas e economizar algum dinheiro.

 

Brinquedos, todos feitos pelo velho, era um artesão com madeira, fazia patinetes, carrinhos de lomba, em uma de suas invenções construiu um com tração manual , cavalinhos de madeira, fazia aviões para servir de cata ventos, pandorgas, bodoques, etc enfim seu galpão era uma fabriqueta de ideias, mas nós não podíamos tocar em nenhuma ferramenta sua, só podíamos assistir e de longe, suas obras de arte.

 

Seu estilo sempre foi muito rígido, na mesa não podíamos abrir a boca,  não tínhamos muita liberdade, só mais adiante é que ele amansou um pouco, mas sabíamos que era só aparência externa, seu interior era bem diferente, só que era o estilo da época, não podia-se mostrar os dentes, para ninguém faltar com o respeito.

 

Nós fugíamos para pescar lambaris, carutes, jundiás, etc e tomar banho nos arroios ainda límpidos das proximidades, havia um local de veraneio particular chamado de Caveira, que represava águas do riacho, mas não nos deixavam entrar, foi ai que encontramos um local um pouco mais abaixo, em outra propriedade cujas características prestavam-se a construímos um pequena barragem para o banho, começamos a remontar pedras, limpamos o leito, mais adiante uma surgiu uma ideia de torna-lo mais fundo, não tínhamos matéria prima, a não ser uma carroça de um colono que estava nas proximidades, concluímos que seria uma ótima ideia coloca-la como taipa do nosso pocinho, assim fizemos, ficou ótimo, quando tomávamos banho pelados para não chegar em casa com as roupas molhadas, o colono pegou nossos calções e camisas pendurados sobre um arbusto e nos deixou completamente nus , fomos para casa sem nenhum pano, nenhuma folha de bananeira, nada,  percorrendo um caminho pelo meio do mato, mas umas quatro quadras toda vizinhança acompanhava nosso desfile, mas isso não foi nada, pior foi a surra de relho que levamos ao chegar em casa, o colono foi fazer queixa, e o pobre do velho teve que aquentar toda aquela situação, além de ter de providenciar a recuperação da maldita carroça.

 

Nossa infância foi maravilhosa, faltava quase tudo, mas éramos muito felizes, aliás muito mais felizes do que hoje, de nosso pai, ainda sentimos muitas saudades, que o tempo tratou de amenizar, mas as recordações estão sempre presentes em nossas memórias, aprendemos muito, a dar valor pelas coisas simples, por tudo aquilo que conseguimos com trabalho, a economizar, a respeitar os outros como assim desejássemos ao contrário, somos eternamente gratos pelos ensinamentos e pelos exemplos, há e uma outra coisa que herdamos de sua forte personalidade, foi defender nossos pontos de vistas, nossa ideias, nossos conceitos, não é orgulho não, nem  teimosia ou coisa assim, é simplesmente formar opinião própria sobre tudo ,,

 

Élvio