sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A PRIMEIRA VEZ QUE MORRI

     Eu tinha 15 anos e fui convidado para uma festa de 15 anos de uma guria. Peguei emprestado o terno azul marinho do meu pai, calcei meu Vulcabrás preto, após passar uma Nugget , perfumei-me com English Lavander e meu fui.
Naquela época se bebia a partir dos 14 anos. Estavam servindo gin fizz.
Lá pelas tantas pegaram os nomes dos guris, fizeram os papeizinhos, colocaram numa cesta. E noutra, os nomes das gurias.  Para mim caiu uma até bem bonitinha e para um amigo o da guria mais linda de S. Cruz, mas que tinha namorado, um cara já bem velho, de 20 anos, que estava de plantão na Farmácia e não pudera vir. Meu amigo lamentava-se do azar e eu me propus a trocarmos de bilhete, de sorte que me tocou dançar com a mais linda de S. Cruz que também tinha 15 anos.
Dançamos Blue Moon e até o Satisfaction. Lá pelas tantas ela deixou eu dançar de rosto colado e não se incomodou  quando fiquei segurando suas mãozinhas.
- tu vai tomar um pau do Haroldo! me alertou um amigo.
Pensei: bom eu vou curtir o dia de hoje, dia de glória e amanhã eu desapareço, nem vou na missa das dez.
Mas a guria me convidou para no dia seguinte irmos na matiné do Cine Victoria.  Estávamos na fila para comprar as entradas, cada um pagava a sua, quando chegou o Haroldo, com os olhos vermelhos, brabo como um galo de rinha e encheu ela de osso. O Haroldo  era mais forte que eu e logo matutei: vou ter que arrancar na frente e dar um soco no nariz dele, que sangra e aí chuto os bagos dele. Estava pensando nisso e vi que ele chorava e suplicava:
- o que tu queres com esse piá..
E foi embora.
Saímos do cinema e fomos lá no Tenis Club tomar banho de piscina. No caminho nos beijamos.
Eu não dormia de noite, de tão feliz. Ela seria a mulher da minha vida.
Meses depois fui estudar em P. Alegre.
Fins de semana alternados eu ia na rua Hoffmann onde paravam os caminhões que iam para S. Cruz, pegava uma carona e ia visitar minha amada.
Um dia fui na Joalheria Cruzeiro, ali na Mal. Floriano, em P.A. e lhe comprei uma frasqueira em dez prestações.  Peguei um caminhão e vim com o presente no colo. Esperei-a na saída do Colégio das Freiras e ela não quis falar comigo, mas aceitou o presente. Fui para casa, almocei, peguei minha bici que tinha a flâmula do Colorado e me toquei para a casa dela.
Na frente estava estacionado um Dauphine branco. E ela de mãozinha com um velho de uns 21 ANOS,  que trabalhava no Banco.
Voltei para casa não vendo nada de tanto chorar, me atirei na cama e chorei tres dias sem parar no colo de minha mãe.
Ali foi a primeira das minhas mortes.