terça-feira, 6 de outubro de 2020

SALVE SANTA CRUZ - SALVE LISSI BENDER

 A língua alemã, presente desde a vinda dos primeiros imigrantes germânicos a Santa Cruz do Sul, continua presente nos mais diferentes espaços e na vida de muitos, apesar de ter sido submetida ao preconceito, à perseguição e mesmo à proibição. O tempo passou, as ideias nacionalistas foram suplantadas pelas ideias de globalização. Isto é, o nacionalismo defendia o monolinguismo; o mundo hoje requer sujeitos plurilíngues. No entanto, a língua alemã de Santa Cruz continua recebendo pouca atenção por diferentes instâncias, sejam elas educacionais, culturais, econômicas ou políticas. Continua viva graças, principalmente, a famílias e a grupos de amigos que a cultivam e, mais recentemente, graças a jovens que a estudam em escolas. Para além de ela fazer parte da identidade de seus falantes e da identidade regional, para além de ser parte da história viva de Santa Cruz, ela também é de fundamental importância para a manutenção da diversidade linguística no Brasil, e para o fomento ao desenvolvimento individual e da coletividade em que há existência de mais de um idioma e para o engrandecimento do país. Goethe (1749-1832), o grande clássico da literatura alemã e mundial, filósofo e cientista, referindo-se aos seus conterrâneos, defendia a importância do aprendizado de idiomas, para que não se sentissem desconfortáveis diante de estrangeiros, e para que pudessem se sentir em casa no exterior: “Der Deutsche soll Sprachen lernen, damit ihm zu Hause kein Fremder unbequem, er aber in der Fremde überall zu Hause ist.” E o jornalista Romeu Neumann, em seu primoroso texto “Poderia estar perdido em Frankfurt”, vivenciou lá o quanto é valioso poder se sentir um pouco em casa no exterior por meio do conhecimento de uma língua a mais. Esse reconhecimento acerca da importância de conhecer mais idiomas soa atualíssimo em nosso mundo globalizado. Importância também reconhecida pelo renomado conterrâneo de Goethe, Wilhelm von Humboldt, filósofo, cientista, fundador da Universidade de Berlin. Humboldt entendia a língua como sendo chave de acesso ao mundo: “Die Sprache ist der Schlüssel zur Welt”. E Santa Cruz do Sul é detentora desse potencial, mas precisa acordar para esse seu diferencial de abertura para o mundo que línguas possibilitam. Nesse sentido, o Colegiado Setorial da Diversidade Linguística do RS propõe um conjunto de ações necessárias para o Estado do Rio Grande do Sul se conscientizar, valorizar e fomentar o enorme patrimônio cultural imaterial da sociedade rio-grandense, brasileira e de Santa Cruz do Sul. O colegiado reconhece as diferentes línguas existentes como um conhecimento imprescindível no mundo globalizado, por elas não só constituírem parte da história e da identidade das comunidades que representam, mas também por comporem um diferencial e um potencial fundamental para o desenvolvimento intelectual, cultural, científico e econômico do Estado, do Brasil e, assim, também da região de Santa Cruz do Sul. Para isso, como muito bem o Colegiado defende, faz-se necessário conhecer e visibilizar os diferentes idiomas existentes; reconhecer o valor dessa diversidade para o conjunto da sociedade, “como um bem e um capital cultural de direito e de valor, que deve impreterivelmente ser considerado nas decisões de governo”. E, por meio de ações concretas, adotar medidas de fomento que promovam as diversas línguas presentes em solo gaúcho, para o bem de toda a coletividade. Eis bons motivos para Santa Cruz do Sul se empenhar pela promoção de sua língua alemã. E um bom começo é reconhecê-la como patrimônio cultural imaterial da coletividade santa-cruzense. Lissi Bender Doutora em Ciências Sociais (Antropologia Cultural) e integrante da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul A