terça-feira, 20 de outubro de 2020

AINDA SOBRE MERITOCRACIA

 

MERITOCRACIA E  ARISTOCRACIA

09 de julho de 20141

FRANKLIN CUNHA
Médico

 

A crise de transição dos Estados-Nações diante da globalização provocou uma impotência do poder do Estado, dos partidos políticos e do sindicalismo. Diante destas condições históricas surgiu nas hostes sociaisdemocratas uma nova linha de pensamento: o liberalismo igualitário. Seu principal representante foi o jurista americano John Rawls. A novidade desta teoria está na tentativa de dar resposta ao dilema entre liberdade e igualdade, entre os direitos individuais e a equidade social. Em sua Teoria da justiça de 1971, Rawls afirma que todos os valores sociais deverão ser repartidos de maneira igual, desde que as naturais desigualdades sejam vantajosas para os menos favorecidos. Baseado na teoria dos jogos de John Hersany que pressupunha a ignorância daqueles que intervêm numa situação de escolhas de preferências, as decisões tomadas nesses casos, sob o que Rawls chama de “véu da ignorância”, seriam justas porque os jogadores tomariam uma conduta que, sem saber todos os dados, os levaria aos melhores lugares sociais e assim ser equitativos com os que ficariam nos piores lugares, pois os privilegiados  saberiam que também poderiam eventualmente ser os potenciais perdedores. Simplesmente na distribuição às cegas das cartas de um baralho, ganha a partida quem recebe os melhores naipes e souber manejá-los.
Em realidade, as teses de Rawls, aparentemente justas, escondem uma sutil maneira de defender a desigualdade  sob o manto da justiça, além  de desconhecer o sentido comum de que ninguém quer perder nada e de não levar em conta a vida prática onde os indivíduos raramente tomam  decisões desconhecendo suas consequências.  Outra condição para que os “jogadores ” aceitem a desigualdade é que todos tenham as mesmas oportunidades não prejudicadas por  privilégios  socioeconômicos e de castas familiares ou corporativas. E, para que esta igualdade de oportunidades seja efetiva, é preciso que sejam compensadas as desvantagens do ponto de partida. Condição  que na atual conjuntura das políticas neoliberais  é uma quimera expressa numa falsa meritocracia que na realidade não revela o domínio da aristocracia financeira, sólida e plenamente atuante em todos os setores da economia e que oculta as espessas vicissitudes vivenciais da competitividade. Enquanto isso os grandes grupos empresariais do mundo se unem cada vez mais fraternalmente em oligopólios e “holdings” numa concentração cada vez maior de riqueza financeira,  poder e dominação políticos.

‘E aos perdedores ... as batatas “