segunda-feira, 17 de abril de 2017

HOMO VENATOR - HOMEM CAÇADOR

Vou fazer aqui algumas confidências.
Matutava.Como as coisas mudaram na vida de todos nós.
Ontem eu conversava com um parceiro de tênis, mais jovem que eu. Ele me contava da saudade que tinha das caçadas que fazia com seu falecido pai. Iam para as fazendas: caçavam perdizes, jacus, marrecas e voltavam com as caminhonetes atrolhadas de tanto bicho caçado.
Daí me lembrei de meu pai.  Ele não era muito chegado em armas, nem em anzóis ou redes. Mas adorava as pescarias. Ele era o chefe do acampamento, fazia os churrascos. Limpava os peixes, mas nunca comeu peixe ( como minha mãe que viveu 94 anos).. Pode?
Meu pai tinha uma caminhonete Dodge, importada do Canadá.. Ele e eu dormíamos na caçamba.
Um dos companheiros de meu pai era um comerciante, também de Santa Cruz, o sr. Rambo ( sobrenome alemão comum naquela região). Seu Rambo e meu tio  Arno eram loucos por arma de caça. Aos doze anos dei meus primeiros tiros com uma 12 cano duplo.
Cacei muito. Mas, que estranho, ajudava a limpar e fritar ou assar, mas não gostava de comer.
Resumo: eu caçava pelo prazer de matar. E não sentia remorso.
Quando cheguei aos 35 anos de idade larguei abruptamente das caçadas. Nem em pescarias quis mais ir.
Na frente da minha casa na praia há um lindo gramado onde sempre aparecem biguás, pombas e várias aves.
Surpreendo-me que, ao contemplá-los preguiçosamente,  me flagro me imaginando com uma  cal 20 dois canos na mão  , negaceando o bicharedo  e atirando.  Imediatamente um neurônio mais decente dá o alarma e me traz à realidade:
- para com isso, Ruyzão! tu tá louco?
Não, em hipótese alguma mato um pássaro ou mesmo uma cobra venenosa.
Então porque tenho no cérebro esse "" malware", que me pede, ao ver uma pomba, que eu pegue nem que seja uma funda ou bodoque e atire nela?
Me perdoo porque minha geração - a dos caçadores - está chegando ao fim.
A mesma que achava lindos os filmes em que os soldados matavam índios.
Se bem que agora a nova brincadeira de muitos jovens é matar primeiro e perguntar depois. Matar gente. E não são filmes.