terça-feira, 21 de maio de 2013

ACONTECEU EM BAD KROZINGEN



 
( TEXTO MEU PUBLICADO  HOJE NA GAZETA DO SUL)

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Comecemos dizendo que Bad não tem nada a ver com o bad inglês. Em alemão antigo é balneário e pronuncia-se bad mesmo.
É uma linda cidadezinha ao lado de Freiburg. Foi onde encontrei um quarto para ficar logo que iniciei meu estágio, nos anos 80, no Max Planck Institut.
Todos os dias pegava o trem em Bad Krozingen e 10 kms depois estava no centro de Freiburg.
De manhã, no meu horário, uma ma de seus 21 anos aproximadamente,tomava o trem comigo, Normalmente  trajava um vestidinho de voal, translúcido. Ela gostava de viajar de pé, com o braço levantado segurando uma alça. Foi então que vi, pela última vez na vida,uma mulher com pelos nas axilas. Os dela eram castanhos. Um dia lhe disse:


- Wie heisst Du?
- Irina, respondeu-me.
Tentei prolongar a conversa mas ela, que denotava alguma dificuldade no alemão, conseguiu me dizer que era tcheca, vinha de Klecany, perto de Praha , tocava Horn ( tuba) e o namorado não viera junto.
Tinha dias que ela não estava a fim de conversa. Até que tive uma idéia.
- Weisst Du, ich bin kein deutscher, ich bin brasilianer...
Ao lhe dizer que eu não era alemão e sim brasileiro, duas tochas se acenderam nos seus olhos negros.
- ernst gesagt? falou ela
- sim, estou falando sério.
Concordou em ir comigo nadar numa piscina, era julho, verão portanto. Na Alemanha você não precisa de clubes. Paga para jogar tênis, nadar, e pronto.

Recebemos as indefectíveis tocas, ela foi se vestir.Voltou de maiô de nadadora de competição. Ombros fortes, pernas perfeitas, mas completamente alva. Até levantei um pouco meu calção para mostrar as marcas do sol e , provocando-a, pedi para ver as marcas de seu biquíni. Me disse que jamais fora à praia, jamais tomara sol.

Depois fomos  tomar um vinho, nove da noite, o sol ainda brilhava. Pedi para pousar no apartamento dela pois já não havia mais trem para minha cidadezinha. Tudo ok.

Chegados na sua pequena Wohnung, me ofereceu um Spätlese, que é um vinho quase licor.

Ela me segredou que largaria seu namorado se eu a levasse junto para a terra onde o sol sempre brilha, sempre faz calor, todo ano é samba e carnaval e todos são risonhos, tem o melhor futebol do mundo, as mulheres se depilam brazilian way, o maravilhoso Brasil.
Falei que precisávamos fazer um test drive antes, mas que eu morava num lugar onde havia inverno, fazia frio e não tinha palmeiras nas praias, que ficava bem ao sul.
Ao acordarmos no dia seguinte ela não estava no seu dinheiro: disse-me que se era para ir a um lugar frio, então ficaria com seu namorado mesmo, que tinha um motor home e que a levaria para as praias da Espanha.
- auch gut,( tá bem) só me restou dizer...