terça-feira, 15 de maio de 2018

AINDA SOBRE JOAQUIM BARBOSA


POR TITO GUARNIERE

 

JOAQUIM BARBOSA

 

O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa desistiu da candidatura presidencial. Ainda bem, digo eu, pois pelas primeiras pesquisas ele corria o risco de vencer.

 

Dizem que os políticos são espertos, e são mesmo. Mas não tanto quanto se imagina. Vejam o PSB. É preciso ignorar os fatos, fingir que não viram, passar por cima dos detalhes mais estridentes, para se iludir com uma candidatura como a de Barbosa.

 

Não é que ele seja um outsider da política. Ele é um outsider de tudo, incapaz de conviver no âmbito plural e multifacetado de uma agremiação coletiva (partido, governo), de ouvir outros componentes da equipe, de decidir em conjunto, de administrar as múltiplas ambições, as justas pretensões - e as injustas -, e os conflitos naturais de uma convivência necessária. Tudo isso é a política e bem olhado, a vida.

 

Só os dirigentes do PSB - um partido importante- não observaram que Barbosa é um homem de talento, decerto, mas que se atribui uma nota muito superior à que ele de fato merece. Vaidoso, irascível, temperamental, impaciente: tudo do que um político, um dirigente de Estado, não precisa, não pode nem deve ser.

 

Não resistiu nem aos breves momentos em que prevalecem as expectativas otimistas, quando o líder é recebido no partido de braços abertos, recebe todas as homenagens, tudo é sorriso e festa.

 

Diz-se que ele não aguentou o patamar raso das primeiras conversas, o baixo nível dos seus interlocutores e logo arrepiou. Do jeito que ele é, não deve ter saído triste. Afinal, durante algumas semanas seu nome ocupou as manchetes da sucessão presidencial, alcançou índices promissores nas pesquisas eleitorais: estava no jogo. Fez um breve passeio por uma hipótese que deve ter inflado ainda mais o ego exuberante. E daqui para a frente poderá viver com a sensação de que poderia ter sido presidente e só não foi porque não quis.

 

Ninguém soube, ninguém viu, um sinal claro do que ele iria fazer na presidência, a não ser um conjunto mal ajambrado de ideias soltas, algumas delas nem sequer compatíveis entre si. Barbosa entrou no jogo como uma esfinge e saiu dele como uma incógnita. Não foi por mal. Ele apenas não tinha a menor ideia.

 

À saída, mencionou dois riscos para o país: Temer e Bolsonaro. Cá para nós, nem paranoico de carteirinha ousaria prever um golpe de Temer. E Bolsonaro, um risco? Se Barbosa acredita nisso - e ele pode ter razão - , então, do alto de sua superioridade moral, deveria permanecer no páreo para combater a ameaça.

 

Que ninguém se iluda. Rejeitem-se os políticos - rejeição que eles em geral bem merecem -, mas é com eles que se fará a eleição, são eles que vão dar as cartas e um deles será o vencedor. Pode não ser bom, como muitos acham. Mas não há nenhuma razão para crer que a eleição de uma "novidade" seja melhor. Política é coisa muito complicada. Leva-se anos para aprender. É uma ciência e uma arte, para o bem e para o mal. Neófitos batem cabeça, se enroscam nos próprios pés e, bem, como todos sabem, nada está tão mal que não possa ficar pior.