quinta-feira, 15 de março de 2018

NEBLINAS E SÓIS DE OUTONO


A primeira neblina\o fim do mormaço\o alívio da chuva que veio dos céus\ as folhas maduras caindo do espaço\ e as mãos levantadas num graças a Deus.
Se a seca resseca\ e a geada cresta\ a fé que ainda resta nos faz renascer\ e os sóis de outono que espiam nas frestas\ aparam arestas e nos fazem crescer ( De uma composição minha com letra de  Nenito Sarturi)

Ouço  The Lark Ascending  em La Simphonie des Oiseaux ( a Sinfonia dos Pássaros), que coleta peças que remetem à Natureza. Obras de Dvorak, Schumann, Camile Saint-Saens, Mozart ( Die Zauber Flöte) e outros  mais.
Ótimo para meditar no meu refúgio marítimo. Em cidade muito grande há barulho, protesto, fechamento de vias, filas, engarrafamentos, crimes a granel. Nas pequenas, assaltantes estouram as caixas eletrônicas (não sei porque dizem OS caixas) . Aí vai ficando  impossível de viver. Então optei por de vez em quando me  refugiar no Litoral, onde não há assalto frequente e sequencial, nem barulho. Isso de março a fim de novembro.
Como já disse, fui um caçador de pássaros. Mas já estou entrando com Habeas preventivos junto às cortes celestiais. Alegarei “erro de proibição" ( Verbotsirrtum), ou qualquer outra filigrana  para, ao fim e ao cabo, só passar poucos séculos no purgatório. Nunca vi tantos pássaros  na vida, como aqui. Pode até que haja, mas eu não vi. Esses aqui de Xangri La perderam o medo dos humanos.Caminho na praia e as aves só se afastam bem pouquinho à minha passagem. “ Lo juro por la leche de mi madre” que quando toco violino os bichinhos vêm escutar. O que está me surpreendendo é meu súbito encantamento pelo outono que, como disse, já está aí. O calendário está defasado. Há uma cor diáfana no dia, algo como se houvesse uma cortina  translúcida. Nem calor, nem frio. Para dormir,  apenas uma leve coberta. Tudo isso conduz a uma alegria inebriante de  estar em paz, sem incômodos como carros com som alto, calor massacrante ou gente estressada no entorno.
Não é por nada que tanta gente, após uma vida de suor e labor, retira-se para uma fase sabática de só aproveitar o que ainda resta de bom.
Um alerta, porém: assim como há os esquimós que  adoram morar nos seus iglus e os que acham muito lindo acampar no meio dos mosquitos, é melhor deixar uma árvore enraizada no lugar.  Se preferir mudar e experimentar tenha calma, a adaptação demora. E é indispensável gostar de sua própria companhia...