quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O 7 DE SETEMBRO - O LANCINANTE TEXTO DE LISSI BENDER

Precioso quando um texto evoca outro em seus leitores. DANKESCHÖN!!! Visitei teu blog e teu texto fez-me lembrar dos desfiles de 7 de setembro durante os meus idos tempos de Mauá, com banda marcial e balizas. Diferente das tuas, as minhas lembranças não são edificantes. Começava com a dificuldade para ir à cidade aos domingos, não havia ônibus. Ou ia a pé (10 quilômetros) ou meus pais pagavam um vizinho para me levar de carro (isso quando havia dinheiro para custear). Participar não era facultativo, era obrigatório. Mas o que mais ficou gravado em minha memória, é o frio naqueles dias comemorativos de 7 de Setembro. Com saia de "tergal", meia branca curta, com blusa branca de “volta ao mundo” (lembras? Tecidos sintéticos, não aqueciam nem transpiravam) ... o vento gelado zunia cedinho de manhã fazia a festa em meu corpo franzino. Dos desfiles o frio castigando o corpo, marcou-me mais do que qualquer sentimento de patriotismo que os desfiles pudessem me ajudar a desenvolver. Aliás, patriotismo, para mim, recende à ditadura, à militares.  O meu amor à minha terra nada tem a ver com patriotismo, mas com amor e zelo pela HEIMAT – a terra em que vivo – e  Heimat para mim tem cheiro de terra molhada pela chuva depois de estio, tem aroma de terra húmida da floresta,  recende a perfume de florescência primaveril, tem gosto de frutas silvestres, de sabor de mel, de canto de coruja de madrugada, de Wasser-Hühner ao amanhecer, tem cor dourada de sol que se declina por trás do Botucarai em outubro, sol que veste de rubro o céu ao anoitecer, tem som suave de chuva ....

Entristece-me toda vez que alguém afirma que tem vergonha de ser brasileiro. Vergonhoso é o que fazem com o nosso país. A terra brasileira é dadivosa, mas submetida à exploração desde a chegada dos portugueses. Exploraram os índios, exploraram as riquezas vegetais e minerais, o trabalho humano pela via da escravidão. E a exploração não tem previsão para findar. A mais recente é entregar o Aquífero Guarani (um dos maiores mananciais de água doce do planeta – o bem mais precioso existente no país e essencial à todas as formas de vida)  à  ganância  sem limites, sem freios.
( Lissi Bender é Doutora pela Universidade de Tübingen, Alemanha)