Nenito Sarturi, Advogado, delegado de Polícia aposentado, jornalista, poeta, homem correto e sábio, é uma das mais raras jóias da cultura brasileira.
Agradeço de coração o poema com que ele me presenteou.
DESAPEGO*
(Nenito Sarturi)
Inspirada
em texto de Ruy Gessinger
Presenteei minhas bombachas
Chapéus e demais aperos:
Já que sou um ex-campeiro
Não preciso desses “luxos”:
Sei que não cabem debuxos
No nono andar deste prédio
Mas, apesar do meu tédio,
Eu permaneço gaúcho.
Ainda sinto as flexilhas
Acariciando meus pés
E revejo os aguapés
Daquele arroio dos fundos.
Eu sou mesmo um vira-mundo
Que não se apega aos apegos,
Mas o cheiro dos pelegos
Ainda está no meu mundo.
Arrendei
todos os campos
Mas
não perdi minha essência,
Quando
vejo pirilampos
Minh’alma
pede tenência
E
me leva, mesmo em sonho,
Para
os confins da Querência!
Deixei na estância os arreios,
Meu cavalo eu presenteei:
Não quero me sentir rei
Se já não tenho mais “trono”.
Afinal, não somos donos,
Do que temos nesta vida
E, quando falta a guarida,
Nos sobra a dor do abandono.
Não trouxe nenhum pelego
Para não sentir o cheiro
- Pra quem foi homem campeiro
Esta saudade é demais...
Lembranças são imortais
E, embora perto do fim,
A estância, que vive em mim,
Não vou esquecer jamais.