quinta-feira, 27 de novembro de 2014

REVIRANDO MEUS PORÕES, ANTES QUE SEJA TARDE


RECOLHENDO INDÍCIOS

 

Estava eu no início do 4ª. Ano de Direito da UFRGS, quando soube que haveria um concurso para Delegado de Polícia, em que eram aceitos candidatos que ainda eram acadêmicos de Direito. Os aprovados ficariam um ano na Academia de Polícia, percebendo uma verba equivalente à metade do que pagavam ao delegado. Maravilha: era minha redenção financeira.

Pois não é que fui aprovado, aos 21 anos? Cursada a academia, classifiquei-me em primeiro lugar da turma. Não sei se mereci, mas estudei muito, principalmente , a cadeira de Investigação criminal. A palavra chave era: olhar bem a cena do crime.

Corta para um ano depois, quando fui nomeado Delegado de São Jerônimo.

Lá na delegacia  havia um sujeito muito estranho, chamado Paulo Santana, ao que me consta , na época, inspetor de polícia, isso em l968. Passava usando uma camiseta do Grêmio e, aos  sábados,participava de uma programa de TV chamado Conversa de Arquibancada. É  o mesmo Paulo Santana,para uns um gênio da Zero Hora e, para outros, um idiota. Ainda não formei minha opinião, mas para burro ele não servia.

Um dia comunicaram que um incipiente mercado, chamado  Lebes, havia sido assaltado numa noite em que jogavam Santos e Grêmio. Fui lá ao local do assalto e , mesmo sendo um mero piá,falei aos veteranos investigadores, que sabia quem deveríamos procurar.  Riram-se alguns, entre os quais o Santana. No chão estava um cofre virado e arrombado. E, ao lado, havia um sapato,do pé direito, ensanguentado. Também ao lado havia um chinelo do pé esquerdo, sandálias havaianas, intacto. Faltava o pé direito.

- Gente, temos que ir aos hospitais, pois um dos caras que derrubou o cofre sofreu um acidente, seu pé direito deve ter sofrido uma fratura. Ele tirou o sapato e , em seu lugar, meteu a havaiana.

Não deu outra. Em P.Alegre achamos uma entrada no Pronto Socorro com essas características, fomos ao endereço e achamos o gajo.

Quando me formei  em Direito, em 17 de dezembro de l969, pedi demissão e fui advogar.

Me apavorei quando um que acompanhava nas investigações, não era o Santana, nem ninguém  da DP que eu chefiava, sugeriu que tirássemos o gesso do preso e torcêssemos seu pé, para ele confessar.

Hoje isso é coisa do passado, “ Deo gratias”.

Teria mais coisas para contar. Mas alguns episódios vou levar para o túmulo,” rectius”, para a cremação.