terça-feira, 25 de novembro de 2014

FILOSOFANDO COM MINHA NETINHA


FILOSOFANDO COM MINHA NETINHA
 

Vô, pergunta-me a pirralha de 9 anos: como é que vocês viviam quando tu eras novo, sem celular?

Como vocês mandavam torpedinhos?

Expliquei-lhe que a gente , quando estava num bar, e via uma guria que nos interessava,  chamava o garçon e lhe entregava um papelzinho  bem dobradinho onde estava escrito: “ posso sentar aí contigo?” e pedia para o moço entregar para aquela ali, ó.

- E vocês tinham facebook?

- Claro,minha netinha. Em geral as gurias compravam um caderno grosso, no qual,  na contra capa colocavam seu perfil. E a cada espaço de páginas faziam perguntas: “ já foste beijada”, “ quem é teu artista preferido?” e o caderno circulava.  Era o facebook arqueológico.

- e como vocês faziam para “ ficar”?

- fácil. Eu mandava, pelas minhas irmãs, um bilhetinho para a minha eleita, convidando para a matinée ( sessão de cinema da tarde de domingo) no Cine Victoria. Quando ela respondia positivamente eu aguardava  a umas cadeiras de distância e, ao se apagarem as luzes,  me sentava junto. Muitas vezes já saíam beijinhos.

- só, vô?

- naquela época era só.

E as festas?

Acho que eram melhores que agora. Dançava-se normalmente, mas sempre juntos. Se ela deixasse colar o rostinho é porque poderia iniciar o namoro. E aí as coisas iam evoluindo.

- e vocês usavam drogas, vô?

Minha geração não. Mas começávamos a beber  cerveja e destilados muito cedo, lá pelos quinze anos. E incrível, havia o lança perfume, hoje proibido: uma vez  dei uma cheirada no carnaval de 1965, me deu um sensação  gostosa, muito estranha e achei que era melhor parar, porque podia viciar.

E como vocês faziam sem computador e TV?

- a turma  passava lendo livros e estudando. Muitos de nossos pais eram gente simples cujo grande objetivo era conseguir nos dar estudo. Isso representava independência e possibilidade de melhora de vida. Além disso tínhamos tempo de sobra para pensar, pensar e pensar.

- pois é né vô, hoje a gente fala, fala e fala, sem pensar.

- tinha mais uma coisa que nos obrigava  a se comportar e ter modos. Quando se  queria namorar uma menina, a primeira coisa que os pais  dela perguntavam era:

- de que família tu és?

Mas que importância isso tem, vô ?

Toda! a prova é que tu estás falando comigo. Há pessoinhas como tu que nem sabem quem é seu avô. E, muitas vezes, quem é seu pai...E o prejuízo é grande .

-qual prejuízo, vô?

A falta de berço...