quinta-feira, 4 de julho de 2019

TAPERAS E SEUS MISTÉRIOS





Vou embolar dois assuntos.
1)“Cuando se abandona el pago, tira el caballo adelante y el alma tira pa’ trás.”
É assim que nascem as taperas, os ocupantes das casas as abandonam, o cavalo puxa para frente, mas a alma puxa para trás.
Nos nossos campos há várias taperas.Mas lá, perdida no meio de uma invernada de campo nativo, há uma  especial. Me disseram que ali moravam fantasmas. Ainda restam algumas paredes. A casa era de pedras superpostas, com amálgama de barro. O  telhado ruiu ou foi levado pelo vento e o mato tomou conta. Um dia, numa linda tarde de domingo, decidi ir solito até a tal tapera, montado no meu cavalo Poeta.
Cheguei, apeei do cavalo e me estirei sobre a relva macia. Acabei adormecendo. Senti uma espécie de inquietude que acelerou meu coração. Me deu a impressão de que via, num átimo,uma jovem descendo a vereda, pelo trilhozinho, em direção à sanga, com um balde. Tinha longos cabelos negros, usava um xale de lã crua, calçava chancletas de couro cru.Percebi a voz de um homem com sotaque castelhano. Ela implorava que ele ficasse no rancho pois "diz que" andavam degolando sem piedade por aí...
Abri os olhos. Voltei à realidade.Teria sido o vento ,que causava assovios no taquaral, imitando vozes?Seriam as almas penadas ocupando a tapera?Ou apenas um sonho?
2)É certo que os campos dessa região já foram habitados por índios guaranis, fugidos da perseguição do homem branco, tentando salvar seu modo viver.
No riacho Itacurubi, que hoje dá nome a um pequeno município encostado em Unistalda,teria sido  morto o índio e lider Andresito Guazurari. O meu querido amigo Nico Fagundes, que tantas vezes me honrou com sua estada na minha estância, era um admirador desse heróico defensor de  seu povo. Levei, certo dia,Nico  até o outro lado de São Borja, a Santo Tomé,Corrientes, onde há um enorme monumento em honra de Guazurari. Nico,inclusive, deu o nome de Andresito a seu filho mais novo.
Guazurari é venerado nas províncias de Misiones, Corrientes e na região missioneira do RGS. Lutava pelo seu povo que queria continuar livre, com seus costumes e seus deuses.
Nossa História missioneira é pouco estudada no RGS, ao contrário da outra margem do Rio Uruguai.
Lí, não me lembro onde, que um cacique teria dito ao padre que o queria converter: “ o problema é que o deus de vocês é muito brabo”.