quinta-feira, 9 de abril de 2015

A AGONIA DOS JORNAIS IMPRESSOS - ARTIGO DE JOSÉ CRUZ


Amigos deste valioso espaço de troca de informações e cultura.

Incentivado pelo comentário  de João Francisco Rogowki, ouso apresentar alguns dados para reflexão e debate, jornalista que sou, parceiro dessa transição do produto “informação”.  

A transição de O SUL para a mídia eletrônica não é um fato isolado no contexto da modernidade da comunicação. É, antes, reflexo de uma espetacular crise que atinge há bom tempo a todos os órgãos de comunicação nacionais. Crise agravada mais recentemente pela alta do dólar, turbinando os gastos com a importação de papel jornal.

Ainda ontem, o jornal O Estado de S.Paulo começou mais uma série de demissões na empresa que, segundo “notícia de jornal”... deve chegar a 125 funcionários. 

Na última reunião da Associação Nacional de Jornais (ANJ), os patrões pintaram o quadro dramático das empresas de jornalismo impresso.  O noticiário eletrônico avançou com força que não se imaginava, a ponto de já não se precisar nem dos confortáveis tablets para saber sobre a notícia do dia. No sacolejo do ônibus já é possível ler no minúsculo celular quem será o atacante do Inter no clássico do fim-de-semana ou que o ministro tal acabou de ser demitido.

E foi essa instantaneidade que os jornais não souberam enfrentar. Na edição seguinte, um dia depois, a notícia será exatamente aquela que já se sabia “ontem”, que se reviu no jornal da noite, no noticiário esportivo da Rádio tal, esgotado na mesa redonda do fim de noite da TV etc. Mas os jornais insistem, na manhã seguinte, que “Dilma demite o ministro Pedrinho”.

Que atrativo tem tal manchete para incentivar a compra de um exemplar do jornal, que não se modernizou para enfrentar a concorrência da instantaneidade do rádio, as corres e movimento da TV e a velocidade da internet? Os jornais foram “atropelados” e não sabem como operar a dualidade da internet e da edição de amanhã. Trabalhei numa empresa que enfrentou esse dilema. Tínhamos a notícia espetacular, o “furo”, que em vez de ir para a rede era guardada para a edição impressa de amanhã. Não raras vezes, nossa notícia exclusiva apareceu no noticiário da internet na madrugada que o jornal estava sendo rodado com a “grande informação”. A falência passou por aí.

O pior é que as faculdades de jornalismo continuam ensinando os alunos a fazer notícia para o jornal de amanhã, quando o consumo da informação ocorre com velocidade vez mais impressionante.

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A queda de anunciantes é visível, e o desaparecimento dos classificados também.  Hoje, compra-se carro e aluga-se casa ou apartamento pela internet, com a vantagem de falar com o dono do imóvel pelo “face”...

E o governo, principal anunciante até há pouco tempo, redireciona suas verbas para outros veículos com maior audiência, e aí está mais um motivo para a triste agonia econômica do jornalismo impresso.

Tudo isso estava previsto já em 1970, quando o canadense Marshall McLuham escreveu o clássico “Os Meios são as Mensagens”, best seller dos estudantes de então.

Filósofo, educador, intelectual e teórico da comunicação, McLuham mostrava, há meio século, que os meios de comunicação se tornariam uma extensão do homem. É dele também a teoria sobre a “aldeia global”. Isto é, chegaríamos a uma evolução tecnológica tão avançada que o mundo se tornaria uma comunidade só, uma “aldeia global”, com comunicação e troca de informações instantâneas. Está aí o celular com todos os seus infindáveis recursos a mudar o comportamento humano, social e familiar.

A tudo isso poderia acrescentar a cultura nacional, que não contribui para o hábito da leitura de jornais, revistas ou livros. Ou o custo das publicações imprensas etc.

Enfim, são rápidas considerações para mostrar que o gostoso hábito de ir à banca comprar jornal para “ler as últimas” já é  real volta a um passado do qual fomos “felizes” protagonistas, principalmente porque estamos participando de toda essa transição da modernidade. 

José Cruz

jornalista gaúcho, há 35 anos em Brasília, atualmente no UOL Esporte
José Cruz [jcruzz@uol.com.br]