sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

AINDA OS PRECONCEITOS - MAIL DE IVAN SAUL DIRETO DO PARANÁ


Estimadíssimos Confrades.

 

Como o tema derivou em duas conversas, quero, em primeiro lugar, comentar o 'trauma' abordado pelo Mendelski e o Ruy, que foram vítimas, e pelo Eliseu que, sem testemunhar a questão dos '5ª Coluna', conheceu seus efeitos [sei, com certeza de pelo menos um depoimento semelhante que vai ficar faltando - o Confrade, associado empresarial de uma vítima da sanha nacionalista, é um gentleman e provavelmente optará pelo silêncio].

 

Crianças e adolescentes tendem à crueldade, uma das falhas inerentes à condição humana. Assim como o material de que são feitos os dentes, o Criador, que lançou o produto com um projeto ainda deficiente, talvez pensasse em posterior 'recall' ou, quem sabe, botar uma franquia de oficinas, daí que fez os dentes 'pra dar defeito'.

 

Voltando à crueldade praticada, como se viu, contra os descendentes de alemães e alemães, é imprescindível dizer que os jovens colegas dos nossos amigos foram cruéis como todo humano jovem [e alguns que envelhecem sem ficar adultos, jamais]. Mas, porém, contudo, entretanto, todavia... O PRECONCEITO, este, meus amigos, o preconceito é cultural, é adquirido, é absorvido do meio social em que se desenvolve(?), evolui(?), cresce(?) o pequeno onívoro [ou 'vegano', o que é pior]. Ninguém nasce 'preconceituoso', o preconceito nasce da experiência, em geral, da experiência alheia, do 'ouvi falar'. As origens do preconceito estão no ressentimento e na inveja, um dos mais graves pecados capitais.

 

A minha experiência pessoal, que não posso chamar de trauma, embora marcante do ponto de vista da 'conscientização racial' [que coisa horrorosa] e da vigência do racismo, ocorreu tardiamente, lá pelos 15 anos de idade. Um colega de aula, cujas origens não são relevantes para o relato, que sentava ao meu lado diariamente e compartilhava tanto trabalhos escolares quanto besteiras estudantis das que se cometem nessa idade... Este colega, chegando pela manhã, ao me saudar, em vez do sorridente 'bom dia' do cotidiano, lançou um sonoro - "Ô judeu filho-duma-puta!" [ao qual respondi com um perplexo "ôi fulano!?"]

 

Querem saber? Apesar do nome adotado pelo meu bisavô fiorentino, provenho de uma longa linhagem de 'cristãos novos'. Fui criado pra ser católico como todos os homens rastreáveis da minha linhagem paterna - nenhum Praticante -  os quais sempre casaram com mulheres católicas e, na sua grande maioria, carolas de assistir missa diariamente [como reza a tradição da 'nobreza galega'].

 

Só aí, despertou em mim a curiosidade pela questão racial, o sionismo, o anti-semitismo e, muito depois, veio o rompimento com a 'Santa Madre', à qual reconheço e respeito como à todas as religiões, sem manter, todavia, representação diplomática.

 

Se me coubesse, pediria à todos os senhores [e senhoras], meus confrades [e confreiras], que revisassem as origens, os 'antecedentes e justificativas', dos seus conceitos e buscassem eliminar da parte consciente do seu cotidiano da sua 'persona' visível [redundância?], todos aqueles traços que tenham origem suspeita.

 

O preconceito, meus estimados, intoxica a alma e enfeia a figura, conduz à solidão.

 

Um grande abraço deste seu limitado irmão... Ivan.

 

[Mais tarde, enxugadas as lágrimas causadas pelo discurso, voltarei pra abordar o tema da educação.]