Eu não sou da época do gênero musical bate-estacas,
mas creio já ser da época do "melhor nem tentar".
Meus amigos de juventude e eu jamais fizemos uma serenata, porque naquela época
já estava ficando complicado, mas lembro que na minha infância, nossa família
tinha um amigo, policial, chamado José, e, vez ou outra, quando estava de
plantão na Delegacia, em madrugadas monótonas proporcionada por uma sociedade
sem crimes e que dormia cedo, ele arregimentava outros policiais, músicos, e
iam até nossa casa nos brindar com serenata.
De início algum vizinho se assustava com a presença da viatura policial de
madrugada, mas em seguida ao ouvir a música logo entendia do que se tratava.
Acordávamos todos e alegres levantávamos da cama e bem recepcionávamos os
amigos.
É triste ver que essas homenagens, manifestações de verdadeira amizade, foram
se perdendo ao longo do caminho, que as pessoas foram se enclausurando dentro
de suas casas e de si mesmas.
Será que algum dia voltaremos a ter um modo de vida mais sadio e afetuoso?
terça-feira, 26 de fevereiro de 2019
domingo, 24 de fevereiro de 2019
BAILES DA COLA ATADA E OUTROS - SABOROSO TEXTO DE FRANKLIN CUNHA
RUY,
amigo
No
tempo doas prostíbulos ( casas de tolerância, cabarés, puteiros), na Vacaria,
muito longe de Poa - onde funcionavam dezenas deles entre a Voluntários, a Cabo
Rocha e a Pantaleão –alguns fazendeiros, fundaram o que chamavam de
Chacrinha, cerca de 5kms da cidade. Construíram cerca de 15 casinhas onde
alojavam principalmente meninas pobres do sul- catarinense.
E
lá, com a bandinha do seu Chiquinho financiada por ele ( tio de um ex-governador,
figura folclórica pois herdou duas fazendas de duas ex-esposas e passou a vida
tocando de graça nos bailes da região), ele com o bandonion, uma violeira -que
ele papava - um brigadiano na bateria e um chofer de praça, flautista e
comunista. As meninas todas peladas e o varões também, menos a camisa que a
época elas eram mais compridas e com abas atrás e na frente Então ,para dançar
melhor amarravam as abas , as da frente nas detrás e dê-lhe baile a noite toda.
.
E lá aconteciam os famosos “ bailes de cola atada “.Sempre às sextas, porque no
sábado os alegres e fogosos bailantes machos,cumpriam o
desagradável e aborrecido compromisso com as esposas no clube do
Comércio, situado em oposição à Igreja Matriz de Nossa Senhora das
Oliveiras.com a qual,os bailantes da sexta , no domingo contribuíam com gordos
óbolos.
Caxias.
Um
empresária sexual, teve a ideia de programar um baile às sextas-feiras só
para homens da apodada terceira idade o qual se realizava dentro do
horário das 18 às 23. Falei com um deles, primo de 80anos,e lhe perguntei
o que lá faziam.Primeiro me disse que a casa estava sempre à cunha. E que lá
contavam os acontecimentos da semana, tomavam cerveja, conversavam e contavam
piadas para as meninas da casa, alguma até cursavam a UCS. E...só. As 23
iam todos para casa onde dormiam muito bem depois dessa eficiente
sessão de psicoterapia de grupo.
No
final do papo com meu primo ele me revelou como os jovens da cidade apelidaram
o acontecimento das sextas:BAILE DA COBRA MORTA. Aí ele me olhou nos
olhos, deu uma gargalhada e me disse: “ Sabe, primo, que este é um
apelido bem certo “.
sábado, 23 de fevereiro de 2019
MUTAÇÕES - COMENTÁRIO DO DES. GUINTHER SPODE
Estava lendo "Mutações" e, ainda sem concluir a
leitura, pensava eu, mas será que o Ruy vai esquecer das serenatas.
Coisa bonita que eram. Primeiro aquelas românticas,
depois aquelas entre amigos, até mesmo como brincadeira para acordar amigos e
amigas na madrugada. Até depois de casado, ao voltarmos para casa tarde da
noite (ou já madrugada) em pequenos grupos (de casais e não casados)
costumávamos aqui em São Leopoldo e imediações (inclusive Porto Alegre), entre
amigos, uns surpreenderem outros que dormiam profundamente. Daí para o
prolongamento da noite até o amanhecer, bastava um violão, uns bons tragos e
até um churrasco, era para já. Mesmo os incomodados no início, em razão da
música, nas mais das vezes muito mal executadas e pior ainda cantadas, aos
poucos entravam na brincadeira que virou mais um motivo de encontro e de
amizades que existem até hoje.
Não perdi, nem me afastei de nenhum destes amigos músicos
importunos da madrugada.
Sabia-se viver. Havia limites e éramos mais tolerantes,
até porque naquela época e idade tudo facilmente virava festa.
Cumprimentos pelo texto.
Grande abraço
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019
MUTAÇÕES
O que houve com os bailes?
Eu
admito, peço perdão, que sempre fui objetivo e prático. O baile era, na minha
concepção pecaminosa, (da qual dava meticulosas explicações no confessionário),
uma mera primícia do amor carnal e do namoro.Tirando fora mãe,irmãs, avó,
tia, senhoras casadas, noivas, com as quais não tinha nenhum interesse em
dançar.O baile, portanto, para minha mente meio fogosa, era um jeito de ,no
ardor dos 17 anos, abraçar a menina dos seus 16, sempre respeitando sua
relutância , o que ela fazia empurrando meu ombro para trás, mas eu
tentando haurir seu perfume de” Miss France” e ouvir seu coraçãozinho batendo e
batendo.
Beijo na
boca, só escondido.
Enfim, hoje há, segundo meu filho mais
novo,aplicativos, que entre outras coisas, localizam, num zaz, tua futura
parceria para um namoro. Nem sabia .
Vamos em frente . As mulheres conquistaram
seus lugares. Viva! Tenho filhas vitoriosas e nada raivosas. Mas essa de uma
senadora dar uma de Maria Bonita, tirando uma pasta das mãos do presidente
do Senado, foi demais. E ainda, ante o pedido de devolução, disse
desafiadoramente “então vem buscar”. Ficou feio. As mulheres, com a
igualdade conquistada, têm que também
aceitar os ônus da convivência. Ou não?
Outra
perquirição. Onde estão as cantorias? Ao tempo em que eu lecionava na Unisinos,
após as aulas nas sextas feiras à noite, nos reuníamos para um churrasco
e - sabem o que?- para cantar. Sim, cantar. Nos anos oitenta, início dos 90,
era comum jantar com alunos, ocasião em que se cantava após a quinta cerveja.
Coisa de louco era quando se entoava o Carinhoso. Na passagem do “ai se tu
soubesses” era uma desafinação só. Mas era bom. Hoje seria quase impossível
isso num restaurante. Atrapalharia os que passam teclando suas infinitas
mensagens pelo celular .
Muito
comuns eram as serestas na praia. Quantas e quantas fazíamos Guido Koehler,
Celso Campos e eu. Hoje não dá mais por causa das cercas elétricas e das portas
trancadas.
O máximo
que estou conseguindo hoje é tocar em casa com meu filho Rudolf. Se há
convidados, raramente um se aguenta quieto até o fim da música. Penso em
estabelecer uma regra nos meus churrascos caseiros. Duas salas: uma para os
tagarelas. Esses só ganhariam mocotó frio com cerveja quente e tomada no bico;
outra para os que apreciam música ao menos 15 minutos. Para esses filé
argentino e chopp importado de München ou aquela Freixenet Brut tiritando de
frio.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019
A REBELDIA DE BOLSONARO
A nação está inquieta com a
situação de saúde do nosso presidente. Um pouco do que está acontecendo se deve
a algumas imprudências do próprio Bolsonaro. Primeiro foi permitir que o
carregassem em via pública, sem um esquema mais técnico de segurança, o que
redundou no atentado.
Apesar de
eu não ser médico, aprendi muitas coisas na vida.Conto um episódio. Eu estava
com 45 anos, jogando tênis , quando meu calcanhar começou a incomodar. Um
médico que jogava comigo olhou e diagnosticou ali na hora que era um “ esporão
do calcâneo”.Acabei decidindo mandar operar. Fui para casa e achei que em
breves dias voltaria a jogar normalmente. O médico me dera instruções para
ficar em repouso, com a perna mais levantada. Não dei muita bola . Eram duas
incisões. Uma estava fechando bem. A outra parecia meio estranha, Resumo: era
uma deiscência de sutura que levou ao debridamento e tive que esperar 90 dias
para que houvesse cicatrização por segunda intenção. Tudo por não acatar as
instruções do médico.
Essas
pequenas ansiedades e imprudências do presidente, viajando para lá e para
cá, nitidamente não se cuidando, fazendo uma viagem que não era urgente para
Davos, certamente não ajudaram em nada para a recuperação. Está com 63 anos de
idade, o que não é muito nos dias de hoje, mas há que se convir que sua
resistência está longe de ser a de um homem de 23 anos. Sofreu um procedimento
invasivo o que representava muitos cuidados. Mas o primeiro cuidador de
sua bronca é o paciente.
Fiquei
matutando muito tempo sobre o por que dessa inquietude do presidente. Qual a
razão de não se acalmar? Não poderia ter tomado posse, reunir-se com seu vice e
ministros e estabelecer que ninguém deveria sair dos trilhos ( incluindo-se o
vice), e que quando estivesse completamente apto, voltaria a tomar as rédeas.
Para que uma pressa afobada se o mercado estava calminho, calminho com as
diretrizes já reveladas? Mais: o que não tem solução, solucionado está. As
reformas estão esperando e se arrastando há decênios, não custava aguardar por
mais um ou dois meses?
É
possível que essa bateção de cabeças dos primeiros dias do novo governo tenha
sido um dos motivos de Bolsonaro não passar o governo ao vice. Ficou um pouco
bizarra essa desordenação inicial, um desautorizando ao outro, um falando uma
coisa e o outro desmentindo. Todo mundo temendo que o Ministro Paulo Guedes
chutasse o balde num acesso de impaciência.
Não sei
não, todos esses desencontros iniciais têm solução,mas será que nosso
presidente não estará receando o chamado fogo amigo?.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019
POR ISSO QUE NUNCA QUIS TER FACEBOOK
Texto primoroso de J.F.Rogowski
caiam fora da zumbilândia
Caros
todos!
Estamos
vivendo na @zumbilândia, a terra dos zumbis digitais.
As
pessoas independentemente de nível cultural e social estão passando por um
processo de lavagem cerebral e idiotização que tem me assustado.
Na
política impera o maniqueísmo e o patrulhamento ideológico de dois lados radicais e antagônicos.
Estamos
proibidos de pensar por conta própria, de exercer o senso crítico sobre a
realidade, temos que escolher um de apenas dois lados, e seguir com a manada
respectiva daquele curral mental.
Fora
da política estão os demais loucos de todo o gênero, tem para todos os gostos
(ou mau gostos). Eles formam grupos e movimentos estruturados, com
simpósios, congressos, etc., uns defendendo que a terra é plana, outros que ela
é quadrada; outros afirmando a inocuidade dessa polêmica já que ela será
inapelavelmente destruída pelo planeta Nibiru que se aproxima em rota de
colisão; outros dizem que sim, que haverá a colisão, mas que seremos salvos
pela frota de espaçonaves estelares do comandante Ashtar Sheran que está
em prontidão atrás do sol.
Meu
intuito longe está de ridicularizar essas pessoas, porque elas sinceramente
acreditam nisso, embora, fizesse até mais sentido um “astral cheirão” debaixo
do sol da Jamaica do que no espaço sideral.
E
pior disso tudo é que os habitantes da
Zumbilândia não se contentam em confraternizar entre si, buscam fazer novos adeptos, assim entopem a minha caixa postal com
todo tipo de mensagens surreais - 99,9% não passam de lixo
eletrônico.
Tendo
a situação ficado insuportável pelo tempo que eu estava gastando até
mesmo para apagar essas mensagens, fiz um público apelo (reproduzo abaixo)
pedindo que só me enviassem mensagens que fossem realmente relevantes.
Pedi
encarecidamente que cessassem o envio de Spam. Não sei se foi de pirraçada, mas
aí que aumentou o tráfego de lixo.
Então,
sem alternativa, acabei me retirando do Facebook.
E,
se o bombardeio continuar no WhatsApp, me retirarei dali também.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019
O OUTRO LADO DAS VIAGENS
Toda vez que viajo estranho minha
imersão compulsória em três situações: no check in no aeroporto; no avião antes
da partida e , já no hotel, na hora do café da manhã.Nesses momentos a gente vê
coisas para lá de estranhas ao nosso dia a dia.Câmeras em mim, com foco num
banco do aeroporto.
Meu Deus
o que é um Aeroporto às 5 da manhã! É visível que algumas pessoas caíram da
cama e saíram, em desabalada carreira, sem trocar de roupa e, por conseguinte,
sem banho, em direção ao aeroporto. Claro que, como é da filosofia brasileira,
os pontuais são relegados ao inferno e os retardatários e relapsos têm
preferência. Os alto falantes gritam desesperados pelos tardinheiros. Os
passageiros já no avião, esperando que os atrasados embarquem, o que pune e atinge os “ certinhos”.
Mas
voltemos ao portão de embarque. Todo mundo sabe que não pode levar consigo
faca, tesoura etc. Pronto, pára a fila. A moça passa no detector que dá o
alarme. Mais um incidente que poderia ter sido evitado.
Todo
mundo sentadinho no avião e antes de ele começar a corrida para alçar
vôo o senhor Jones, que ficou uma hora
no saguão, só agora sentiu vontade de ir ao banheiro.
Na
viagem, muitas pessoas , na falta de espelhos para mirar suas
maravilhosas e incomparáveis belezas, usam esse aparelho vital para o
prosseguimento da vida, o celular, para suas indispensáveis selfies, pena de
sofrerem uma apoplexia. E dê-lhe selfies, com direito a mil caras e bocas,
sorrisos congelados que chegam às raias da idiotice.Fico matutando: para que e
para quem tantas fotos?
O avião
está pousando e o comandante implora que todos fiquem sentados até ele
estacionar. Nada feito , mesmo o pessoal sabendo que não há como subir ao
pódio e ser o primeiro a sair do avião. Em seguida a correria para ser primeiro a pegar sua mala.Na saída muitos vão certificando, em altos berros, ao
celular,que amam seus interlocutores, comentam como foi o dia anterior,
para que todos nós saibamos de sua
inefável e indispensável história.
Já no
local de recolhimento das bagagens, erram de esteira e se desesperam por não
localizarem sua mala. Claro que não tiveram o dificílimo tirocínio de
saberem o número de seu vôo e em qual esteira está.
Corta
para o refeitório do hotel.
As portas
dos elevadores se abrem e dezenas de famintos, que provavelmente há 30 dias não
se alimentam, irrompem qual um arroio durante a enchente e vão em busca de uma
mesa. Se atracam no buffet enchendo o prato até cerca de 30 centímetros, para
deixar quase tudo intocado ao final.
Por que
estranho isso?Será que meus pais erraram na minha educação?
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
O FENÔMENO WATTSAPP
O renomado
médico e escritor J.J. Camargo escreveu recentemente:
“Há uma incontrolável ânsia de usar todos os instrumentos de
aproximação virtual para conectar pessoas que foram convivas em épocas tão
remotas que o tempo se encarregou de borrar-lhes a lembrança.
O convite para que participasse de um grupo de WhatsApp que devia reunir todos os
sobreviventes de um tempo de colégio me pareceu desde logo assustador. Não
conseguia imaginar como recuperar uma intimidade necessária para justificar
a reaproximação depois de, sei lá, 55 anos, só porque esta prática virou uma
febre (passageira?) na internet. O desespero aumentou quando fomos comunicados
de que todos os abaixo listados estavam automaticamente incluídos no grupo, e
eu só lembrava bem de uns cinco de uma turma de 50.”
Digo eu.Pois é: o Whatts se espalhou e se mostrou útil. Todavia,
trouxe consigo um monte de inconvenientes, para se dizer o menos. A
começar pelo dilúvio de fakes, informações irrelevantes, calúnias, ofensas e
até coisas risíveis. Na pressa de digitar, a pontuação foi uma das vítimas.
Exemplo: eu estava viajando e mandei uma mensagem para minha empregada
que mora em São Leopoldo e vem trabalhar em P. Alegre, perguntando se ela ainda
estava na minha casa . Resposta: “não estou no trem”. E agora: “não, estou no
trem”; ou “não estou no trem”?
Outra situação. Às vezes se é convidado para entrar num grupo
que, por exemplo, gosta de jogar tênis e marcar horários. Pronto: em seguida
meu aparelho se enche com mil “ bom dia”, informações sobre frutas que fazem
mal, frutas que fazem bem, malefícios do vinho, benefícios do vinho e por aí
vai. Resultado, achei mais prático contatar direto com os parceiros e saí do
grupo.
Aí entro no assunto das amizades virtuais e , desde já, adianto
minha tese. A amizade, como diz o nome, é virtual; pois que fique nessa esfera.
Querer reunir o grupo para uma janta vai resultar, depois das saudações de
praxe, em ensurdecedores silêncios.
Mas o que me provocou frouxos de risos foram as recentes eleições.
Tsunamis de denúncias contra o Bolsonaro, outros contra o PT e as esquerdas, um
caos total que acabou resultando em brigas entre até pessoas da mesma família.
Volto, agora, ao assunto dos grupos. Penso que são inviáveis os
grupos com exagerado número de participantes. Ninguém aguenta ler tanta coisa a
cada cinco minutos.
Quanto aos reencontros com amigos que não se viam há décadas,
todo cuidado é pouco. Melhor é distribuir crachás, com letras bem grandes e
vigiar a boca. Nada de “ como tu tá velho”, “ bah… como tu tá gordo”.
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