quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
HISTÓRIAS DE VIDA
Não sei onde li essa pequena fábula. Duas rãs saltavam alegres e fagueiras por entre tambos cheios de leite. Acabaram caindo em um tarro. Uma, lamentando sua má sorte, não tinha como sair, conformou-se e morreu afogada. A outra não se conformou e começou a espernear freneticamente. Lá pelas tantas o leite transformou-se em manteiga, de modo que a rã saltou para fora do tarro salvando-se.
Me encantam os relatos de pessoas que nasceram em lares humildes, praticamente não tinham como se instruir, mas que deram um jeito de estudar, passando frio e fome, mas não se entregando.
Quantos de nós, da região de Santa Cruz, não teriam condição de estudar em Porto Alegre, não fosse a bendita Casa da Uesc, na Capital.
Semana passada recebi do sr. Renato Jackisch o seguinte mail:
“Identifico-me em tantas e tantas situações relatadas em sua vivência, principalmente até o início das atividades profissionais.
Com origem humilde, no interior de Sinimbu, inicialmente sem luz elétrica em casa e desde muito cedo trabalhando em todas as lides rurais que se apresentavam.
Para ir ao colégio, caminhava mais de 03 km a pé e procurava nunca faltar, quer chovesse, fizesse frio ou calor.
Nunca fui o aluno de melhor nota nos boletins. Havia uma colega que sempre tirava o primeiro lugar e me acompanhou de primeiro ano primário até o fim do primeiro curso de graduação. No mês que cheguei mais próximo, ela simplesmente fez média 10 em todas as matérias.
Com muito esforço de meus pais e recebendo meia bolsa de estudos, consegui vir diariamente de ônibus a Santa Cruz do Sul e estudar no Colégio Mauá, onde tentaram me dar o apelido de “colono”, o que na época não era “bulling” e sim resolvia no soco.
Hoje formado em Ciências Contábeis, Administração de Empresas e Direito, tendo trabalhado em todas as áreas de formação, administro a empresa Excelsior Alimentos S/A, integrante de um grande grupo empresarial com atuação a nível mundial.
Mas onde quero chegar.
No ano passado reunido num summit em São Paulo com os meus pares diretores e a presidente, em conversa de conhecimento, verificamos que a metade dos diretores e a própria presidente tem origem humilde, da roça, passaram muito sacrifício e chegaram aos cargos que ocupam por competência. Para nenhum deles faltou atitude, dedicação, humildade, simplicidade, disponibilidade, retidão, ética e principalmente trabalho desde muito jovem, o que hoje lamentavelmente é proibido.
Trabalho nunca fez mal a ninguém. Lamentável que maus legisladores não pensam assim. “
Vou atrás de mais históricos.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
ARTIGO DO JORNALISTA E ESCRITOR JOÃO LEMES
O ano da conexão,
solidão e negação
(João Lemes) Este foi o ano da conexão virtual. Chegamos ao ápice tecnológico. Até o mais avesso à tecnologia precisou se conectar. Em face disso, terminamos o ano mais solitários e menos solidários.
Notamos que é fácil conversar, aprender, trabalhar on-line. Difícil é resolver um velho problema do humano; a falta de afeto. Cedo ou tarde vamos descobrir que a rede não é capaz de fazer isso. Vamos notar que amigos on-line não conseguirão servir uma sopa quando estivermos na cama.
Hoje é mais fácil conversar com alguém no Japão do que ouvirmos nossa esposa (o) no café da manhã. Ambos só olham o celular. Estamos com estranhos em nossa própria casa.
O escritor Yuval Noah Harari diz que o teste crucial do Facebook virá quando um engenheiro inventar uma ferramenta que fizer as pessoas ficarem menos tempo comprando on-line e mais tempo com os amigos. E aí, será que o Facebook vai arriscar, vai privilegiar preocupações sociais em detrimento dos interesses financeiros?
No findar de mais um ano, reflita sobre as revoluções, mas não aquelas a cargo de fanáticos religiosos, exércitos ou políticos. Falamos da revolução educacional, a única que vai nos tirar da alienação e que nos arrasta para o abismo como moscas para o mel.
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terça-feira, 29 de dezembro de 2020
SOBRE A VACINA
PORQUE AINDA NÃO TEMOS VACINA
O maior desejo de todos no ano novo de 2021 é a saúde - a vacina eficaz contra o coronavírus, a queda abrupta das internações e mortes, e o instante sublime em que, de algum modo, nos toque o sentimento de que os tempos voltaram a um certo grau de normalidade.
Enquanto escrevo, a vacina já está sendo aplicada na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, países da Europa e da Ásia. Aqui na América Latina, somente o Chile e o México começaram a imunização em seus territórios.
E a nossa vacina para quando fica? Ninguém sabe. A data mais próxima e otimista é a de 25 de janeiro, a promessa do governador João Doria, de São Paulo, da vacina chinesa Coronavac e do Instituto Butantã. Mas ainda não dá para cravar.
Seria possível, em diferentes circunstâncias, que igual ao México (PIB 40% menor do que o Brasil) e ao Chile (PIB menor do que o estado de Santa Catarina), já tivéssemos na fase da vacinação?
A resposta, mais do que óbvia: claro que sim – se eles podem, nós também poderíamos.
O que faltou, então? Faltou firmeza no trato da doença, faltou foco, faltou planejamento. Faltou governo. O governo brasileiro dançou o tempo todo na beira do precipício, negando a gravidade da doença e hostilizando toda experiência acumulada no combate à pandemia.
A pandemia não era, pois, uma tragédia sanitária de proporções épicas, mas um incidente trivial, a ser enfrentado com um kit de cloroquina e uma cartela de vermífugos.
Se era uma gripe comum, por que concentrar atenção e esforço na aquisição de vacinas? O governo operou em uma frequência única: comprar briga com todos os "dissidentes", fossem eles governantes estaduais e locais, cientistas renomados, médicos especialistas e até seus próprios ministros de Estado, para fazer prevalecer a sua extravagante concepção sobre o fenômeno.
Nas redes sociais hordas de ignorantes ecoavam, com o ardor dos fanáticos, as suas certezas, ignorando avisos, sinais, pesquisas em curso, evidências médicas e científicas.
Ao desprezar a Covid-19, ao considerá-la uma doença curável facilmente com um "kit" de medicamentos inócuos, inúteis, senão prejudiciais, não passou na cabecinha dos governantes a ideia de se prevenir para o pior, adquirindo com antecedência lotes de vacinas de várias procedências – a primeira a ser aprovada estaria imediatamente disponível para a vacinação. Foi isso que os países que já estão imunizando a população fizeram.
O governo fez uma aposta única, exemplo deplorável de imprevisão e negligência, na vacina inglesa AstraZeneca-Oxford, e torpedeou o quanto pôde, com palavras e ações concretas, a iniciativa do governo paulista e a sua associação com o laboratório chinês Sinovac, gerando uma competição cretina, fora de hora e de propósito, na qual o grande perdedor é o povo brasileiro.
Se tivesse governo, a estas alturas já teríamos milhares de brasileiros imunizados contra a Covid-19.
Tivemos o grande azar de ter eclodido, justamente durante o pior governo, a mais devastadora crise sanitária do país. Olhando em perspectiva, e talvez porque Deus seja brasileiro, o estrago poderia ser ainda maior.
titoguarniere@hotmail.com
quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
MEUS NATAIS
Bom, na verdade quase nunca recebi de graça nada do Papai Noel.
Meu pai tinha armazém e na véspera do Natal tínhamos que distribuir encomendas e bebidas. Aos 14 anos eu já o acompanhava . Minha maior honra foi quando consegui carregar nos braços um saco de farinha Donângela de 25 quilos. Engradados de coca-cola, de madeira, deixavam colorida minha camiseta, pois a tinta se soltava.
Já contei que quando entrava no Quiosque do sr. Antelmo Emmel, carregando um engradado, alguns conhecidos caçoavam de mim, numa boa: “ e aí escravo!”.
Eu dava de ombros, afinal estava ajudando meu pai e trabalhar nunca foi vergonhoso. Cresci numa família que tinha alegria pelo trabalho.
A mãe fazia um pinheirinho e cantávamos. Mas nem sabíamos o que era peru, champanha e essas coisas.
Era cantar , jantar frugalmente , rezar e ir dormir para ir cedo na missa no dia 25. Eu era coroinha e não podia falhar. A missa das 9 era para as famílias ricas, eu ia bem cedo.. Saíamos em seguida para Boa Vista passar o dia com nossos avós e tios.
Geralmente ao fim da tarde vinha uma chuvarada e meu pai nos punha dentro de sua caminhonete Dodge. Atenção jovens de 40 anos: não havia ar condicionado, nem assentos na carroceria. Íamos tomando chuva achando muita graça. Presentes? bem simples. Mas num natal, num gesto hercúleo ,minha mãe comprou uma camiseta do Inter na loja do sr. Dreyer. Eu dormia abraçado nela.
Vamos para outras paragens.
O RGS , a oeste de Santa Maria e Santiago, é outro departamento. No interior os costumes são muito diferentes. Gente simples, muitíssimo solidária.Pomares e jardins, flores ,não são grandes prioridades, salvo exceções. Gostam , adoram, idolatram os cavalos.
Lá não há times grandes de futebol.Lá gostam de rodeio.
Decidi oferecer na fazenda uma festinha de Natal. Gente pobre da redondeza e os filhos dos peões. A festa seria no galpão grande onde se guarda o maquinário. Pegamos uma carreta e escondemos um peão, vestido de papai noel, debaixo de uma lona.
A piazada ansiosa pelo Papai Noel e seus presentes.
Dei um grito: “ apareça Papai Noel!!!”
Pois não é que o peão atirou a lona para cima e pulou para perto da criançada.
Foi um alarido, mulheres correndo, estrupício total, debandada, crianças chorando.
Um escarcéu.Mas terminou tudo bem.
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Eu cursei o primário no Liceu São Luís em Santa Cruz. A cada fim de mês eram entregues os boletins . O professor começava pelo primeiro lugar. Quase sempre era o Telmo Kirst. Desde piá era um líder. Revelou-se, como era esperado, um grande administrador.
Perda lamentável.
terça-feira, 22 de dezembro de 2020
MARCAS PROFUNDAS -TITO GUARNIERE
MARCAS PROFUNDAS
No livro de Zuenir Ventura, clássico de uma época, 1968 (foi) o ano que não terminou. O ano de 2020, onde estamos, ainda não terminou, e no cenário de uma vida normal do Brasil e da humanidade, nem começou.
Ventura quis dizer – e disse como ninguém – que 1968 fora uma espécie de ruptura do tempo, uma rachadura singular da história – em que os nossos sonhos, de que seríamos felizes e capazes de construir uma grande nação, pereceram no breu da noite ditatorial.
O ano de 1968 foi escrito a ferro, com muita dor e sofrimento, mas na perspectiva pareceu um ponto de partida. A tempestade de 1968 seria o aviso, o prenúncio de uma certa paz, uma certa fase da vida em que todos poderiam respirar o ar puro da liberdade.
2020, não. Há honra, glória e profundo senso de humanidade no esforço ingente de médicos, enfermeiras, cientistas, na busca desesperada para diminuir o sofrimento dos contagiados pela doença. Mas com certeza eles prefeririam não ter experimentado, e encarado o olhar e o gesto emocionado de gratidão pelo pai, ou pelo filho que se recuperou. Todos nós sabemos o quanto essas pessoas são merecedoras de nosso eterno reconhecimento.
Enfim, neste ano doloroso de 2020, talvez fique alguma coisa. Das guerras, e ao final, apesar de todos os cadáveres estendidos no campo da batalha, sempre se pode alegar com um avanço nos inventos humanos, para a sua mobilidade e deslocamento, ou uma conquista importante de tratamento da ferida, da sequela, da doença. Nada disso compensa os horrores da guerra.
Tudo indica que logo estaremos sendo vacinados. Foi um feito e tanto. Nunca os homens se uniram, gastaram tanto dinheiro, tanta dedicação e trabalho na busca tresloucada de um remédio – alcançado em tempo impossível de se imaginar, considerados os padrões existentes. Nunca uma plêiade de homens e mulheres fez tanto pela humanidade. Mas por que não pensar que os recursos alocados poderiam ter sido alocados, por exemplo, para o saneamento básico?
Nada será como antes. Não estou falando do isolamento social e de todos os efeitos que se acumulam no nosso exílio voluntário, ou os novos hábitos de higiene, o home office, a proteção facial, mas de que modo cada um de nós sairá diferente do ano que não terminou, não começou e nem deveria ter acontecido. Todas as condições de nossa coexistência comum foram dramaticamente afetadas. Não sairemos ilesos do flagelo.
Os eventos deste ano tenebroso estão incorporados de forma indelével, nas nossas mentes e nos nossos corações. Alguns – talvez – sairão mais fortes e resilientes. Em outros, a pandemia deixará uma nuvem que ficará pairando sobre as cabeças, manifestando-se ameaçadoramente, conturbando nossos sonhos e os fatos da vida real.
Quando nos dermos conta, naquele instante de aflição, lá estará a sombra do flagelo que nos fará companhia – inafastável – em meio ao trajeto que nos é reservado. Alguma coisa isso tudo quis dizer. Precisamos encontrar o lugar de vida, de fala, onde possamos de pronto reconhecer que não somos o centro do mundo, não somos melhores do que ninguém, e não temos a chave de todos os enigmas.
titoguarniere@hotmail.com
quinta-feira, 17 de dezembro de 2020
SEMANA DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ
Eu fui verdadeiramente aquilatar o valor de ser iniciado no idioma alemão,desde o berço, ao ingressar na Faculdade de Direito da UFRGS em 1965.
Como já falei nesta coluna a faculdade era um ninho de águias e havia um verdadeiro culto de muitos professores pelos grandes teóricos do direito romano-germânico. Numa das primeiras aulas um professor que falava sobre Savigny pronunciou “ Volksgeist” ( espírito do povo) assim: “volgeist”. Quando terminou a aula me aproximei do mestre e perguntei se ele se interessava em saber como se pronunciava isso em alemão. O professor, que estudara a matéria em tradução espanhola , concordou. Então lhe disse: é “ folksgaist”. O lente me agradeceu muito e desde aí muitos professores me perguntavam como se pronunciava determinado vocábulo alemão.
Hoje posso dizer que numa banca de exame oral no concurso para juiz de direito o examinador e eu vivemos uma casualidade. O ponto versava sobre “ posse, propriedade e detenção”. Perguntei se poderia iniciar pelo direito romano-germânico. Golaço, nota máxima.
Quer dizer: em Santa Cruz, quando ainda criança, ouvia , de vez em quando: “ alemão batata, come queijo com barata” . Em Porto Alegre saber alguma coisa de alemão era a glória.
Minha mãe gostava muito de cantar hinos religiosos em alemão.
Quando eu morava ainda em São Leopoldo, meus filhos estudaram no Colégio Sinodal, onde se ensinava também o alemão. Um dos filhos me disse certa vez: “ pai, eu me interesso muito mais pelo inglês, o alemão não serve para nada”. Sempre redarguia com bom humor : “ calma guri, o inglês é o alemão mal falado. Um dia o alemão te será útil”.
Bingo. É engenheiro e encontrou colocação numa empresa alemã,onde mora há anos.
Por isso parabenizo a todos aqueles que instituiram a “ Semana da imigração alemã de Santa Cruz”.
O legado que os imigrantes nos deixaram é de infinita valia. Há milhares e milhares de publicações nesse idioma, que sempre nos será útil.
Os idiomas são “ seres” vivos, em constante evolução e mutação. Basta se ver o que aconteceu no pós guerra: uma enxurrada de anglicismos e galicismos.
Nada obsta, portanto, que falando em alemão e não sabendo qual um vocábulo, meta o correspondente em português e bola para frente”!
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Em nome da família Gessinger quero agradecer penhoradamente ao meu amigo de infância André Jungblut e aos redatores da Gazeta do Sul, pela belíssima e carinhosa matéria sobre o Padre Affonso Gessinger, conhecido também por Affonso de Santa Cruz, nascido em Boa Vista, terra linda que ele nunca esqueceu.
terça-feira, 15 de dezembro de 2020
Tito Guarniere vem com tudo
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Coluna
Responder para o remetente Hoje 13:27
T
Tito Guarniere
Para:
titoguarniere
TITO GUARNIERE
QUEM É O PIOR?
Quem é o pior dentre os piores?
Esta semana despediu-se Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo. Já foi tarde, porque não há notícia de uma só iniciativa exitosa, de uma só boa ideia para o nosso turismo. Ele foi sem nunca ter vindo. O seu substituto é Gilson Machado. Se também não fizer nada ao menos a pasta estará ocupada - segundo consta - por um bom sanfoneiro.
Outro, é o ex-superministro, ex-joia da coroa bolsonarista, hoje uma bijuteria barata: Paulo Guedes. Ninguém sabe se é ele que comanda a economia ou se é a economia que o comanda – falta-lhe plano, foco, bússola. Ele vai entrar em férias de 22 dias. A ausência não será muito notada e até pode acontecer alguma coisa boa na economia.
Personagem a ser lembrada é Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, com aquele ar de suburbana deslumbrada, com aquela cabecinha voltada para o século passado, rainha das vacuidades, poderia ser uma boa candidata ao título de pior. Mas ela é mulher, ministra da Mulher – deixem-nas em paz.
O general Augusto Heleno, da Segurança Institucional, é candidato forte. Primeiro porque ninguém sabe o que ele faz – embora isso seja normal em um serviço de arapongagem. Era para ser uma espécie de moderador nas relações do Executivo com os demais poderes. Às vezes é ele que cria a balbúrdia. É fácil trazê-lo a um estado de irritação. Quando atacam o governo, o general de pijama reage como se fosse comandante de tropa em prontidão.
Outro general da lista é Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo. O espaço é pequeno, então, invoco desde logo o testemunho de gente que o conhece. Ricardo Salles o chamou publicamente de "Maria Fofoca" e o agora ex-ministro do Turismo, disse que ele – o general – é um traíra. Não é homem para se ter como vizinho de porta.
O Ministério do Meio-Ambiente cabe como uma luva em um governo negacionista. Ricardo Salles nega o aquecimento global, minimiza as queimadas, diz que são caboclos e indígenas que ateiam fogo nas matas, e não madeireiros e plantadores de soja. Salles trabalha nas sombras, diuturnamente, para a desconstrução das normas ambientais existentes e dos organismos de proteção ambiental.
O ministro astronauta Marcos Pontes, se teve alguma iniciativa digna de registro na sua área de ciência e tecnologia foi a do uso de um vermífugo (Annita) para combater a Covid-19. Pontes é também militar – como militar gosta de se intrometer em problemas de saúde! – deve ter tomado o remédio, o que não o livrou da doença. Mas o astronauta, agora desvermizado, deu a sua contribuição para o anedotário nacional.
Há dois ministros singulares a seu modo, um que todo mundo conhece – Onyx Lorenzoni - mas ninguém sabe o ministério que ele ocupa. Outro, que todo mundo conhece o Ministério - da Educação - mas ninguém sabe o nome do ministro.
Bem, não há surpresa, o pior ministro de Bolsonaro é um general da ativa, cuja única virtude é a de acudir à voz do dono, e que ocupa de uma forma, digamos, doentia, o mais importante ministério durante uma pandemia. The winner is Pazuello, Eduardo Pazuello.
titoguarniere@hot.mail.com
domingo, 13 de dezembro de 2020
ARTIDO DE FERNANDO SILVEIRA DE OLIVEIRA
ARTIGO: O egoísmo e a cegueira política que deixaram o Vale do Jaguari sem voz na Assembleia Legislativa
Responder para o remetente Sáb. 14:11
F
Fernando Silveira de Oliveira
Para:
O egoísmo e a cegueira política que deixaram o Vale do Jaguari sem voz na Assembleia Legislativa
*Por Fernando Oliveira
Ao dedicarmos um tempo para estudarmos o motivo de existir uma representação política, podemos perceber, com muita clareza, o quanto ela é necessária pra respaldar os interesses e pleitos de um grupo, de uma cidade e até mesmo de uma região. A democracia representativa é organizada de tal forma, que esses segmentos sejam ouvidos através de seu representante eleito. Para permitir que grupos menores tenham as mesmas oportunidades, o sistema eleitoral adota métodos como a proporcionalidade e agora também as ditas sobras eleitorais.
Nessa representação política, o Vale do Jaguari sempre encontrou em deputados federais de outros lugares, a parceria necessária pra que nossos anseios ecoassem no Congresso Nacional. Já na esfera estadual, a representação sempre foi nossa, própria com representantes da terra. Essa representação fazia, inclusive, com que cidades maiores como Santa Maria, encontrassem no nosso deputado estadual a voz responsável por defender os interesses macrorregionais.
A região foi cada vez mais permeabilizada por candidatos de outros lugares, fazendo com que os votos sejam pulverizados, e a nossa unidade descaracterizada. O resultado? Não temos nenhum deputado estadual do Vale do Jaguari, e todos os nossos pleitos precisam ser terceirizados a parlamentares de outros lugares. Outro motivo, para falta de representação da terra, é a cegueira política que divide a região por questões partidárias e ideológicas, e deixa de lado o anseio maior que é a unidade em torno de um nome que tenha condições eleitorais de chegar a Assembleia Legislativa e defender o Vale do Jaguari como tanto precisamos que sejamos defendidos.
Nas eleições de 2018 a região teve cinco candidatos, que dentro dos nove municípios somaram 35.277 votos, suficiente pra eleger um deputado. Isso não aconteceu em função da própria divisão. O candidato mais votado, dentro e fora da região, foi o ex-prefeito de Santiago, Júlio César Viero Ruivo (PP) que não alcançou uma cadeira na Assembleia por 5.996 votos. Ele totalizou 27.695 votos. Algo extremamente possível se a região tivesse se unido em torno de seu nome.
No mesmo pleito, 74.276 eleitores foram às urnas no Vale do Jaguari. Se todos os eleitores dos nove municípios que formam nossa região (Mata, São Vicente do Sul, Cacequi, São Francisco de Assis, Santiago, Nova Esperança do Sul, Jaguari, Capão do Cipó e Unistalda) depositassem seus votos em candidatos da terra, poderíamos, com muita tranquilidade, termos até dois deputados estaduais na Assembleia Legislativa. A falta de unidade em um nome, as divisões locais e a pulverização de candidatos aventureiros de fora, são os motivos pra que isso não tenha acontecido.
A busca por infraestrutura que possa permitir que os negócios na região possam crescer; a necessidade de boas estradas para que nossas produções agrícolas possam escoar com efetividade; e que o turismo regional possa ser um atrativo a mais, são pautas que passam permanentemente pelo parlamento estadual. Mas para isso, não podemos mais aceitar que nomes da região sejam usados pelos partidos pra captar votos só pra ajudar as legendas partidárias. Precisamos deixar esse egoísmo de lado e buscar unidade em torno de um nome, em um movimento suprapartidário que vise unicamente à ocupação desse espaço, que muitas vezes já foi nosso. Não partidos, mas a região precisa de um representante na Assembleia Legislativa.
*Fernando Silveira de Oliveira, 25 anos, bacharel em Direito, estudioso de Direito Eleitoral e Vereador mais jovem eleito em Santiago nas eleições de 2020.
Fernando Oliveira
Santiago - RS - Brasil
Fone: (55) 9.9675-3496
sábado, 12 de dezembro de 2020
MAIS UM BELO ARTIGO DE FRANKLIN CUNHA
A mão do executivo
Nos meus tempos de piloto de linha aérea, vivi muitas situações
que, "nos vagares de algum verão", passarei para o papel. Um
episódio, no entanto, por ser tão verossímil quanto estranho, irei contar
aqui e agora.. .
Um dia, pilotando entre Rio e Belém um dos velhos Curtiss
Comander C46 que eram como besouros - voavam contrariando as leis da
aerodinâmica- ao passar pela cabine dos passageiros, fui chamado por
um deles. Confundindo-me com um comissário de bordo, pediu para lhe
cortar o bife do lanche. Quando descobriu que eu era o piloto, a carne já
estava cortada e uma conversa inteligente e cordial tinha se estabelecido.
Tratava-se de um geólogo, trabalhara no Oriente Médio numa companhia de petróleo inglesa e faltava-lhe a mão direita. Explicou-me que tinha dificuldades para executar algumas tarefas mas tantas amizades fizera ao contar a causa do defeito que, às vezes, até se divertia com ele.
Revelou-me então que recém-formado, em parte por espírito de aventura e mesmo por não conseguir emprego, aceitou a oportunidade da empresa britânica que iniciava a prospecção de petróleo num país árabe. Solteiro, morava numa confortável e ampla casa e tinha a seu serviço um empregado tão eficiente quanto confiável.
Eis que um dia a confiança transformou-se em sólida suspeita, quando do sumiço de seu Patek Phillip de ouro. Bela e preciosa jóia, fora comprada em Londres numa de suas viagens à sede da empresa.
Com certa relutância, diante das negativas do até então honrado serviçal,
mesmo assim resolveu demiti-lo e denunciá-lo à polícia.
Dias depois, ao tentar se informar do destino do ex-empregado,
ouviu estarrecido do comissário do dia, que o ladrão já tinha sido
castigado de acordo com as leis islâmicas, isto é, sua mão fora decepada.
É claro que um enorme sentimento de culpa invadiu a consciência
de meu passageiro que, entre um e outro gole de café, contou-me
o fim da história.
Com a vaga deixada pelo infeliz ex-empregado, a desordem
e a sujeira tomaram conta de sua casa e um novo caseiro foi contratado.
Todos os móveis tiveram de ser deslocados para completar a limpeza
e tão minuciosa ela foi feita que debaixo de um sofá foi encontrado o Patek Phillip de ouro.
No mesmo dia o geólogo dirigiu-se à polícia para informar de seu terrível
equívoco, pois já que não podia recuperar a mão, faria tudo para restituir
a honra de quem tinha sido injustamente castigado. Revelado o fato do
encontro do relógio, de imediato o acusador passou a acusado, preso, julgado e castigado como mandam as leis islâmicas: sumária e cruentamente, no mesmo dia foi-lhe decepada a mão direita.
Após alcançar-lhe um Cointreau que o comissário de bordo ofereceu, despedi-me entre horrorizado e condoído com o infortunado geólogo pois meu colega de pilotagem chamava-me para iniciar o procedimento
de pouso do velho Curtiss Comander C46 no aeroporto de VaI de Cães de Belém do Pará.
Franklin Cunha
Médico
Membro da Academia Rio-Grandense de Letras
sexta-feira, 11 de dezembro de 2020
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
PELAS CURVAS DA VIDA ||
Vários leitores sugerem que eu conte mais da minha experiência no agro.
A pecuária extensiva tem uma característica que quase nenhuma outra atividade tem. Na época em que quase nenhuma empresa tem muito estoque, o pecuarista tem um estoque de milhares de cabeças, entre bois, vacas, touros, terneiros. E mais: estoque vivo.
É só dar uma seca grande e pronto, teu gado emagrece. Existe, também, o problema do abigeato. O pior é que vais descobrir isso só dias depois, no momento de contagem das reses em cada invernada.
É alta a frequência de raios. No que tange ao gado só resta torcer para que não se encostem nos fios do alambrado. Cansei de perder várias reses numa só tempestade.
Na fazenda tu és um solitário, com teus peões. Na primeira trovoada se vai a luz, ou por raio ou por rompimento de fios. Na cidade tudo se conserta em poucas horas. No campo leva intermináveis dias. Resumo: o fazendeiro é o último a receber socorro. Primeiro vêm os da cidade e não adianta chorar. Por isso é importante ter um gerador em casa.
Hoje tens que furar um poço artesiano e instalar uma enorme caixa d’água. As estiagens são endêmicas na nossa região. Há que se puxar a guaiaca e encher os campos de açudes. Hoje há empresas especializadas que vêm com maquinário apropriado.
Na fazenda temos foco na pecuária de corte. Por essa razão não criamos porcos, nem que seja para consumo próprio. É mais negócio comprar essa carne no supermercado. Depois de um tempo parei de carnear gado para subsistência na fazenda.
Mata o boi no chão, arrasta para o galpão, vai carneando e as moscas em volta. Achei melhor comprar carne do frigorífico, dá menos estrepolias e se mantém a higiene. As ovelhas sim, essas são de carnear mais rápido.
O mesmo raciocínio tenho para as galinhas. É mais barato e menos trabalhoso comprar o milho do que plantar e designar um peão para a capina.
Uma questão importante é a convivência com o capataz e com os peões.
Para todos dou senhoria: seu Júlio, seu Carlos, Dona Maria. O capataz e a família moram na fazenda. Já alguns peões preferem ir dormir em casa.
Sempre achei conveniente não permitir que os peões tenham seus próprios animais dentro da nossa propriedade.
No que tange à esposa e filhas do capataz deve haver muito tato, cuidado e respeito. Se o capataz não está em casa , não se deve entrar.No caso de uma necessidade, conversa-se sem entrar.
Para que não surja uma demanda trabalhista é melhor pagar salário para a esposa do capataz, assinando a carteira .
Um dia falarei sobre o mio-mio.
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
SOBRE MORO - TITO GUARNIERE
MORO, ÉTICA E IMPRENSA
O ex-juiz Sérgio Moro não parece ligar muito para certas formalidades éticas. Tendo sido o juiz responsável pela condenação de Lula, impedindo-o de concorrer, e escancarando o caminho para a vitória de Bolsonaro, não se acanhou em aceitar o convite do novo governo, para assumir o Ministério da Justiça.
Moro poderia condenar Lula – mesmo com todos os questionamentos que hoje existem a respeito de sua atuação no caso – mas ao aceitar o cargo no governo Bolsonaro, faltou-lhe o senso comum de honra e decoro. Não basta ser honesto, tem de parecer honesto. O ex-juiz deu razão a todos os seus detratores – para usar uma palavra em voga.
Moro, com a sua peculiar visão ética, agora aceitou novo cargo, desta vez de diretor de uma companhia multinacional de consultoria, a Alvarez & Marsal, que vem a ser a administradora da recuperação judicial da Odebrecht, e que, a bons preços, presta serviços a outras empresas enroladas na Lava Jato, como a OAS, a Sete Brasil e a Queiroz Galvão.
Ou seja, mudou de lado no balcão. Antes o juiz implacável brandia a mão de ferro, autorizando delações premiadas, grampos telefônicos, quebra de sigilo e prisões em alto estilo, inculpando e condenando a penas duríssimas dirigentes de empresas envolvidas, como a Odebrecht. Agora, é diretor de uma empresa que tem a obrigação legal de promover a recuperação de uma das empresas, a Odebrecht, e de outras, que ele – Moro – ajudou a quebrar.
Diz-se que ele não tratará de assuntos de empresas e dirigentes que foram objeto de sua atuação como juiz. Há otários para todos os gostos, como aqueles que dão crédito a essa versão sebosa, ofensiva à inteligência, de que Moro foi contratado por outras e altruístas razões, que não fossem o conhecimento, por dentro e no detalhe, dos eventos relacionados com a Lava Jato.
Já o Ministério da Fazenda, cujo titular é o confuso e ineficiente Paulo Guedes, contratou uma empresa de consultoria – sempre elas, empresas de consultoria! - para classificar jornalistas, economistas e professores universitários, entre detratores, neutros-informativos e favoráveis ao governo.
O viés dessa lambança é abusivo e autoritário. A lista é mal feita, quase aleatória, ignora nomes relevantes de quem é contra e de quem é a favor do governo. Não serve a nenhum propósito decente, e desnuda mais uma vez o grau de ignorância e desprezo do governo em relação ao papel da imprensa.
Também se soube, através do jornal O Estado de São Paulo, que alguns sites e blogs bolsonaristas são alimentados por informações diretas e exclusivas do Palácio do Planalto. Esse "privilégio" é ilegal. De tabela, os aliados do presidente faturam uma nota com a monetização de inserções no YouTube – mais de R$ 100 mil mensais.
Os governantes, todos eles, adoram usar os recursos do Estado para fazer propaganda pessoal e vincular notícias de interesse do governo. No tempo de Lula e Dilma, blogs e sites notórios e conhecidos, atuavam com fervor patriótico em favor do governo. Como ninguém é de ferro, o faziam com o prestigioso patrocínio do Banco do Brasil, da Caixa e da Petrobras.
titoguarniere@hotmail.com
sábado, 5 de dezembro de 2020
O SIGNIFICADO DO IDIOMA ALEMÃO - Por Lissi Bender
Na região de Santa Cruz do Sul está presente, desde o seu início, um dos idiomas mais importantes no mundo. Entre as línguas mais faladas, o alemão está em 11ºlugar. Na União Europeia a língua alemã é língua materna ou segunda língua, para nada menos que 130 milhões de pessoas. Alemão é língua oficial não somente na Alemanha, mas também na Áustria, em Lichtenstein, na Suíça, na Bélgica e em Luxemburgo.
Além disso, em torno de 7,5 milhões de pessoas fazem parte de minorias de língua alemã em 42 países no mundo. Por exemplo: na França e no norte da Itália o idioma está presente. Também nos estados Unidos, na Rússia, na Argentina, no Paraguai, no Chile, entre outros países. No Brasil um milhão de pessoas falam alemão. Todos estes dados nos remetem para a importância da preservação do idioma. Preservar língua é preservar cultura, cultivar língua é promover futuro.
Com a língua alemã podemos nos sentir em casa em diferentes lugares do mundo. Por meio da Língua alemã podemos acessar conhecimentos, vivenciar cultura, estudar na Alemanha em uma universidade secular de excelência, pesquisar numa instituição renomada, fazer estágios, trabalhar fora de nosso país, desenvolver nossa região.
Para quem sabe ou aprende alemão, portas interessantes se abrem, seja no mundo dos estudos de formação técnica ou científica, seja no mundo do trabalho. A economia alemã é uma das mais fortes no mundo. E quando o tema é pesquisa e desenvolvimento, a Alemanha está em terceiro lugar no mundo. Todo aquele que for ampliar seu conhecimento de mundo cultural, técnico, científico na Alemanha, será também um potencial para o desenvolvimento de nossa comunidade. Com o idioma Santa Cruz poderá construir relações com empresas e instituições de países de fala alemã.
Na língua alemã, presente localmente, reside a alma daqueles que a nos legaram, residem valores e tradições e, ao mesmo tempo, reside a semente para o desenvolvimento, tanto pessoal, quanto coletivo, reside um imenso potencial para o nosso progresso, tanto cultural, quanto na área da inovação. Na língua alemã reside a possibilidade de construirmos pontes com países e regiões de fala alemã. Podemos estabelecer novas parcerias, construir intercâmbios culturais, acadêmicos, comerciais, turísticos.
Em meus estudos de doutoramento, voltados para uma perspectiva antropológica, cultural do alemão presente na região Santa Cruz do Sul, perguntei aos participantes de uma pesquisa, se a língua deveria ser preservada. A resposta foi praticamente unânime: língua alemã deve continuar presente. Na sequência lhes perguntei sobre formas para preservação e cultivo. Em primeiro lugar me disseram que a língua deve continuar sendo falada por quem a sabe. Seja na família, entre amigos, nos diferentes espaços da comunidade. Em segundo lugar mencionaram que as escolas devem prestigiar a língua e a cultura de origem germânica. Aliás, a escola é o meio ideal para desconstruir eventuais preconceitos. Quanto mais cedo o ser humano tem contato com outros idiomas e culturas, mais facilmente aprende a aceitar o diferente e mais facilmente aprende outras línguas. Os participantes da pesquisa, também consideraram que a língua alemã precisa de reconhecimento na, e por parte da coletividade e de mecanismos de fomento. Que é preciso a promoção de eventos culturais em que a língua esteja presente.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2020
PELAS CURVAS DA VIDA
Incrível como o hoje Senador Luiz Carlos Heinze e eu tivemos destinos semelhantes. Heinze nasceu em Candelária, formou-se engenheiro agrônomo, foi trabalhar e morar em São Borja, tornou-se um líder, foi prefeito, deputado, senador e um grande produtor rural. Heinze tem, em cada casa, em toda região campeira, uma grande devoção.
Quiseram os fados que, sendo eu juiz em Arroio do Meio, em 1973, fosse chamado ao Gabinete do desembargador Pedro Soares Muñoz, presidente do TJRS. Apresentei-me e o desembargador foi direto ao ponto.
“O senhor vai ser promovido por merecimento mas estabeleço uma condição: vai ter que assumir em Santiago”.
Brinquei com ele: “ o que fiz de errado para ser punido?”
Respondeu que fora juiz lá, em tempos idos, e se casara com uma santiaguense.
Com Santiago foi amor à primeira vista. Foi ali que conheci o Bioma Pampa, os gaúchos de raiz, seu folclore genuíno.
Nas missas dominicais só iam as mulheres. De homens, só o general Heraldo Tavares Alves, o Ivo Pauli ( vindo de Santa Cruz) e eu.
Ocorre que encontrei, anos mais tarde, uma santiaguense assessora concursada do TJRS, solteirinha da silva e de origem campeira. Acabei casando em segundas núpcias com ela. Me aposentei e , a par da advocacia, me interessei pela pecuária. Começamos já selecionando melhor o gado e estabelecendo regras sobre as quais vou falar depois.
A par da advocacia em Porto Alegre fomos tocando a fazenda em Unistalda,município pequeno que se desmembrou de Santiago. Passamos a arrendar e depois adquirir áreas contíguas à nossa . Maristela cuidou dos ovinos e se tornou campeã em várias ocasiões na Expointer, tendo sido presidente da Associação Nacional dos Criadores Ile de France.
Da minha parte fui Presidente do Sindicato Rural de Santiago.
No começo houve alguns problemas, como o tipo ou raça de animais que íamos criar. Eu só não queria misturança de raças ou gado sem qualidade.Também não sabia bem se ia criar, recriar e/ou terminar. Logo cortei a terminação ( que é vender o gado gordo). Para isso teríamos que consorciar lavoura com pastoreio. Achei meu nicho criando , mas vendendo os terneiros. As vacas falhadas vendemos , mesmo magras.
Sempre achei que nossa fazenda tinha que ter todas as invernadas contíguas.Ou seja, nada de muitas áreas distantes.
Deu certo porque alguns vizinhos contíguos tinham pequenas áreas e queriam arrendar e/ou vender.
Fomos comprando com calma e acabamos tendo uma fazenda bem organizada.
(A seguir : vendavais, secas, falta de energia elétrica, perda de animais por raios)
terça-feira, 1 de dezembro de 2020
ARTIGO DE TITO GUARNIERE
TITO GUARNIERE
ELEIÇÕES MUNICIPAIS
Os analistas políticos, uma vez definidas as eleições, se exaurem em interpretar os resultados. É do exercício do jornalismo analisar o evento acontecido e vislumbrar os seus desdobramentos e o futuro. No caso da política, um exercício de certa futilidade, principalmente quando se arriscam prever o que ainda está lá longe no horizonte.
Está mais do que na hora de que tais comentaristas abandonem de vez, ou no mínimo tornem menos esquemática, a divisão entre esquerda, direita e centro. A velha divisão das forças políticas não serve mais e não é suficiente para abranger toda a complexidade do nosso tempo.
Nestas eleições de 2020, e no segundo turno, amplos contingentes do eleitorado votaram no antibolsonarismo, uns, e no antipetismo, outros. Não foi escolha pensada, ligada a alguma matriz partidária ou programática, mas o impulso de uma impressão presente, de um sentimento.
Claro, os servidores públicos de todas as instâncias votaram como sempre em partidos como o PT, PSOL, PDT. No agrupamento numeroso e importante, a motivação política é singela – adesão incondicional aos partidos mais fiéis aos seus interesses de carreira. É nesse segmento que reside a maior força da esquerda.
Já os fiéis das crenças evangélicas e pentecostais tendem a seguir a orientação de voto do pastor ou do bispo – não importa em que partido.
Há o vasto conjunto de eleitores de credulidade excessiva. Boulos teve uma votação apreciável em São Paulo porque é de esquerda, como ele se diz, ou porque prometeu transporte coletivo público de graça para gestantes, mulheres com criança de colo e estudantes, mais um auxílio mensal permanente aos paulistanos pobres?
O discurso do "novo" envelheceu rápido, diante da decepção com o governo Bolsonaro. O eleitorado repeliu supostas novidades: os políticos tradicionais, com todos os seus defeitos e desvios, se revelaram, apesar de tudo, mais confiáveis do que o pretenso novo.
Até bem pouco tempo quase todos os partidos se diziam de centro-esquerda. Agora, a julgar pelas análises políticas, ela não existe mais: tudo se resume à esquerda e centro. Continua a misteriosa inexistência de partidos de direita no Brasil, embora não fosse anormal que, na posição, fossem catalogadas siglas como o DEM, o PR e o Novo. Mas onde situar o MDB e o PSD? É forçar a mão colocá-los simplesmente como de direita e esquerda.
Mesmo no interior dos partidos há diferenças nada desprezíveis. No PSDB, e segundo a divisão convencional, Dória está à direita; já o perfil de Eduardo Leite, governador gaúcho, é claramente de centro-esquerda.
É muito cedo antecipar 2022 tomando por base as eleições municipais. A margem de erro dessas previsões é maior do que os institutos de pesquisa, que a cada eleição erram mais – no próximo pleito estarão de volta, causando o frisson de sempre. Em São Paulo davam uma vantagem apertada de Covas sobre Boulos, mas no final foi uma vitória retumbante, com a diferença de quase 20 pontos. Em Porto Alegre, na véspera, o Ibope dava Manuela na frente de Melo, mas contados os votos o candidato do MDB ganhou por confortáveis 10 pontos percentuais.
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