segunda-feira, 29 de maio de 2023
A BELA CIDADE DE SANTIAGO-RS
quinta-feira, 18 de maio de 2023
COISAS DO SÉCULO PASSADO
Observando o império das crianças sobre seus pais e avós e a “juvenilização” brasileira, meus pensamentos não param de voltar ao século passado. Não sei se meus pais e avós agiram certo, se seria correto agir assim hoje, mas eu não os trocaria por nada deste mundo.
A família de meus avós Rudolf e Rosália era numerosa. Os dois exerciam forte poder sobre os filhos, até sobre meu pai, que já era casado.
As relações eram respeitosas. À mesa meu avô servia-se em primeiro lugar, depois a avó e depois os filhos e netos, por ordem crescente de idade. Isso mesmo, as crianças vinham primeiro. Rezava-se antes de iniciarem as refeições.Quando se iniciava uma pequena discussão entre meus tios ou tias, o simples olhar do meu avô os silenciava. Nunca vi meu avô gritar ou ter um gesto violento.
Meus pais me ensinaram o gosto pelo comércio, pelo lucro lícito, pelo trabalho e por ser pontual nas contas. A estrutura familiar antigamente impunha limites que a gente não se atrevia a ultrapassar, mesmo depois de adulto. No tempo em que eu fumava, jamais me atrevi a o fazer na frente de meu pai.
Mas sempre chamei meus avós e meus pais por tu, nunca por senhor.
Eu sei, eu sei, eu tentei fazer o mesmo com meus filhos e agora os vejo também meio “ autoritários” em suas famílias.
Comprazo-me com isso.
Um dia escandalizei um amigo. É que descobri, na casa de meus pais, uns guardados, fotos antigas e os boletins escolares.O amigo, ao os examinar, exclamou:” Bah amigo , andaste fazendo cola quando piá.”
Vejam só: havia matérias como Desenho, Trabalhos Manuais, e eu só tirava 3 ou 4 na nota.
Em compensação, eu era bom em idiomas estrangeiros, filosofia, e assuntos do gênero.
A gente tinha uma espécie de caderneta escolar, onde eram registradas as notas. Inicialmente, temendo a tristeza do meu pai, esmerei-me em falsificar sua assinatura, o que se podia ver a olho nu.
Depois evoluí para a terceirização: encomendava os trabalhos manuais, com a serra tico-tico e outras bobagens. Entregava o desenho para coleguinhas mais aptos, em troca de lhes fazer trabalhos abstratos.
Assim ia passando de ano e as notas melhoraram.
Meu amigo estranhou quando lhe mostrei os vestígios de meus deslizes já prescritos.
Mas será que eu já era um " espertinho" ou só queria sobreviver?
Tarde demais para saber.
Será que vai ruir todo o meu conceito?
Só sei que me divirto até agora ao ver a cara de espanto do meu amigo que, na crença da ética, talvez me conceda o benefício do “estado de necessidade”.
( Como está tudo agora ?
Melhorou?)
sexta-feira, 5 de maio de 2023
PASSANDO POR FRITZ E FRIDA
Podem perguntar a qualquer um.
Quem nasceu em Santa Cruz e, por contingências, teve que sair, nunca se esquece desse maravilhoso lugar.
Sempre me vêm as lágrimas quando passo pelo viaduto Fritz e Frida.
Venho lá de longe, de onde está nossa fazenda em Unistalda e onde temos, bem pertinho, uma casa em Santiago.
De madrugada saímos descendo a serra para passar por Jaguari, São Vicente, São Pedro, Santa Maria.
Aí opto para seguir, não por São Sepé, mas pelo caminho que leva a Santa Cruz, até chegar a Porto Alegre, onde também moramos.
São seis horas de viagem, se não houver alguma tranqueira.
Por vezes penso em entrar na cidade e ver como vão meus parentes. Quase nunca dá. E somos poucos. Uma irmã é falecida; a outra mora em Porto Alegre. Meus pais são falecidos.
É muita saudade.
Gosto de parar ao passar pelo estabelecimento do sr. Schuster, sempre ao lado de sua querida esposa. É aquela conversa boa, sempre falamos em alemão e compro um monte de linguiça. O papo vai sobre o gado, a falta de chuva, etc.
O sr. Schuster é uma pessoa carinhosa, pois esse dias cheguei atrasado (ele fecha ao meio dia), mas me viu da janela de sua casa. Me acenou e assim pude comprar suas iguarias.
Pronto: não faltaria por bom tempo esse alimento tão gostoso e prático.
Embarquei na caminhonete, respirei fundo, e falei com minha mulher: eu não tinha como ficar entre meus amigos de infância e juventude. O destino me mandou para outras plagas, onde também me dei bem.
Próxima parada: uma bela confeitaria,
Não conheci ninguém no recinto, mas aquilo parece ser a Alemanha, de tanto cuidado e capricho.
Sigo em frente, remoendo muitas coisas.
Minhas aulas de violino com a Senhora Amália Eidt. Rigorosa até na postura com o instrumento, inclusive os pés.
Era uma senhora bem magrinha, super caprichosa na sua casa. Se eu tocasse um tom diferente do que estava na pauta, ela interrompia com muita delicadeza. Detalhe: eu vinha com o violino e ela mandava eu o afinar. Não se contentava facilmente. Assim faço hoje com meus filhos que tocam algum instrumento.
A propósito sempre me lembro, ao passar por Santa Cruz, das minhas tias Brunhilde e Hildegard, ambas falecidas. Nas minhas férias eu ia a Boa Vista na casa de meus avós paternos. As duas eram exímias em vários instrumentos, inclusive a cítara.
Tia Hildegard era muito alegre e tocava gaita. Tia Brunhilde, quando solteira, me dava também aulas de solfejo.
Não tenho como agradecer essas queridas tias.
Bom, passei por Santa Cruz.
Cessem as lágrimas e reminiscências.
“Siga el corso”