terça-feira, 28 de março de 2023

MÁ SEMANA

 TITO GUARNIERE



MÁ SEMANA


Não estamos bem.  Tomem a semana que passou. Primeiro, uma ameaça assustadora do PCC, a mais notória organização criminosa brasileira: plano para assassinar Sérgio Moro, Geraldo Alckmin, procuradores da República, autoridades carcerárias.


Na instância dos militantes políticos aloprados, ou bem foi uma armação do próprio Moro(segundo Lula) ou bem foi uma armação da esquerda(segundo Bolsonaro). Ora, por enquanto não há evidência nem de uma coisa nem de outra. É por tais inconsequências, ditas assim como quem não quer nada, até pelos atores mais importantes do embate político, que vivemos essa quadra da vida nacional, onde prevalece o ódio e a polarização.


E lá a bandidagem do PCC precisa  dos políticos, de Moro, Lula, Bolsonaro, para fazer suas armações, suas ameaças?


Mas os políticos brasileiros de ponta, como Lula e  Bolsonaro, jamais perdem a oportunidade para confundir e  alimentar a confusão, trazer a brasa para a sua sardinha, inflar as respectivas narrativas. Eles gostam é do beco escuro, do lodaçal – nada que traga um pouco de civilidade e racionalidade ao debate político. Nada que contribua de alguma maneira para criar um clima de respeito e convívio civilizado, que nos permita  sair um dia desse cenário de briga de rua.


Depois, descobre-se que Lula, que prometeu governar para todos – ao contrário de Bolsonaro, que só falava e governava para os seus -, entretanto, parece mais obcecado  que  nunca em agradar a  militância, em falar somente para os seus, em reafirmar as velharias da esquerda,  e em fechar portas e janelas para uma possível concertação, a mais ampla , para um governo de união nacional. Esse Lula 3 é apenas uma outra face do governo Bolsonaro.


Então Lula só vai ficar bem quando  ferrar Sérgio Moro? (Sei bem que não usou o verbo "ferrar", usou outro que torna a expressão mais grosseira e deselegante, e que também começa com "f"). Ou seja, ele está cheio de ressentimento, de desejo de vingança, esses péssimos conselheiros de todo ser humano, e mais ainda de líderes e dirigentes.


Se tais sentimentos menores  movem o presidente , ainda que eles possam ser justificáveis  (a prisão de 540 dias, por exemplo, que ele acha injusta com boa dose de razão) então se compreende este começo de governo, incapaz de dizer com clareza a que veio, confuso, sem prumo e direção.


Um governo não se sustenta apenas pelo mal que evita. Ele tem a obrigação moral e política  (ao menos) de apresentar as linhas gerais de um projeto, um plano. Não basta o velho truque das intenções meramente declaratórias – quem será contra um governo que pretende eliminar a pobreza, distribuir a renda, alinhar o país com as demandas do tempo presente, respeitar e fazer respeitar a democracia e os direitos humanos?

A retórica, a disputa da narrativa, tudo é parte da política. Mas o governo – mais do que todos os protagonistas da cena política e institucional - tem obrigações para com a sociedade que ultrapassam esse limite trivial: onde pretende chegar? o que vai fazer para alcançar seus objetivos? Está focado na ação, no trabalho duro para alcançá-los ou na guerra de palavras?



titoguarniere@terra.com.br

Twitter : @TitoGuarnieree


sexta-feira, 24 de março de 2023

DIVERSAS CONSIDERAÇÕES

 Minha querida e admirada Irmã Roberta   tem, com suas irmãs, um belo lugar de orações. Isso em Santa Cruz do Sul, um pouco além da cidade. Ali se reza, se pedem graças,  se conversa pouco, enfim. É lugar de preces e de orações.

Ao ensejo da minha coluna recente, ela disse:


“ As regras campesinas têm algo da regra  de São Bento: organização e bom senso e espírito de colaboração.”  

Sábias  palavras.

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Eu  era criança, em Santa Cruz, morando na nossa casa hoje demolida na esquina da Tomás  Flores, 876. 

Tínhamos dois funcionários para as cargas dos caminhões e distribuição de mercadorias.  

Houve um problema em que um empregado se machucou fora já de seu local de trabalho. 

Não sei como foi o desenlace, mas meu pai teve que o sustentar. Achou melhor acertar tudo até a recuperação.

A verdade é que me pareceu mais um auxílio voluntário. 

……..

Vamos agora para o campo, onde muitos peões trabalham.

Todo cuidado é pouco. É preciso acertar “os papel”, do contrário pode vir uma demanda.

Um conhecido meu, cuja fazenda está nas proximidades da nossa, pediu para um moço desempregado arrumar um telhado .Depois pediu que fizesse pequenas tarefas.  Isso durou cerca de um mês. Pagamentos feitos como combinado.

Semanas depois, uma reclamatória . 

…….

Há pouco tempo estourou o assunto dos  peões vindos do nordeste ou norte.

Miséria extrema? Passavam fome? 

Não sei dizer. 

Acho que os empresários fizeram bem não discutindo muito e concordaram em resolver a questão de modo correto. É certo que, tendo razão ou não, o desgaste seria muito grande.Maior do que seria caso teimassem em discutir o assunto na Justiça.

Não aprovo o que disse um político da região serrana. 

Provavelmente  vai perder seu cargo. 

…….

Vamos agora aos trabalhadores rurais. Muitas vezes são filhos  de  antigos peões.

Em geral  se afeiçoam ao patrão  de tal maneira que nunca saem do emprego

Hoje há muitos Engenheiros Agrônomos , Veterinários e Zootecnistas que são filhos de peões.

Muito conheci casos de ajuda aos filhos dos trabalhadores.

Modéstia à parte eu também ajudei o filho do nosso capataz.

……..


Finalizando, não posso me olvidar da “ ressolana”.

Em quase todas as estâncias existe esse costume no  forte do  verão. 

O pessoal almoça e depois pega um pano bem grande ou um travesseiro e se deita debaixo de uma árvore. Fica às vezes na sombra do galpão. Nesses horários de  ressolana tudo se aquieta: os humanos, os cavalos, os cuscos, os gatos, o gado, as ovelhas.

É o sono da ressolana.

Silêncio na estância.


quinta-feira, 9 de março de 2023

REGRAS CAMPESINAS

 Remexendo  em uns guardados dei com um texto muito interessante.

Lendo alguns parágrafos conclui que são atualíssimos. Uma fazenda é todo um universo,  diferente de qualquer outro empreendimento.

 “Regras para o Galpão e para a Vida,  de Blau Souza

“Medidas a serem tomadas para o melhor andamento dos serviços:

1. Assumir com responsabilidade e boa vontade suas obrigações, sempre pronto a ajudar os colegas de trabalho.

2. Terminar com conversas, fofocas, etc., que só dividem e nada somam. Elas só desgastam a pessoa que as faz.

3. Quando estiver descontente com alguma coisa, procure falar comigo em particular. Tenho o maior interesse e boa vontade com todos.

4. Por ocasião de temporal, independente de função, tomar as devidas providências, fechando janelas, portões, moinho, etc.

5. Ter criatividade e bom senso. Exemplo: recolher pedaços de arame, sacos

plásticos, arrancar espinhos e outras pragas.

6. Quando estragar alguma coisa, ou se machucar um animal, comunicar à administração. Jamais querer transferir para os outros, mas assumir as

faltas.

7. Procurar não pegar, sem necessidade maior, arreios, xergões, pelegos,

cordas e outras coisas dos patrões.

8. Cuidar do arreamento, poncho e demais utensílios. Procurar trazer sua cama arrumada.

9. Reparar sempre se não ficou torneira mal fechada, ou a descarga do vaso

escapando, principalmente quando houver mais gente nas casas.

10. Procurar trazer os utilitários de galpão sempre limpos, nos devidos lugares.

11. Não trazer cachorro para o estabelecimento sem o meu consentimento.

12. Sempre que chegar alguém, ver quem é e dar o atendimento necessário,

comunicando após à administração.

13. Procurar, dentro do possível, estar por dentro das contas de bovinos e

ovinos de cada invernada.

14. Por ocasião de banho de gado, vacinação ou outros serviços nas

mangueiras, ajudar a verificar se as porteiras estão fechadas, se o corredor

está aberto e, após, se foi fechado e se foi medida a carga do banheiro.

15. Sempre que abrir porteiras, não esquecer de colocar o pino de segurança

ao fechá-las.

16. Procurar não maltratar os animais e, nas mangueiras, evitar gritaria e

cachorro. “

Muito atuais as regras campesinas.

Mas algumas coisas mudaram.

Hoje os galpões em regra são para colocar implementos, sementes, etc, sendo que os peões têm alojamentos confortáveis. Os cavalos também têm suas baias.

Alguns peões têm carros ou motos.

No galpão de convívio geralmente há televisão.

Vários filhos de peões vão à faculdade: alguns alçam voo, outros são reaproveitados na própria fazenda.

(Volto oportunamente)