terça-feira, 29 de junho de 2021

VOTO ELETRÔNICO

 TITO GUARNIERE


VOTO ELETRÔNICO


O voto eletrônico é uma das raras experiências bem-sucedidas neste país. Mas o Brasil sofre de neurastenia: não suportamos nem o que dá certo. Assim, líderes políticos (Bolsonaro, Ciro Gomes, Aécio Neves) deram de investir na teoria de que, para a lisura do pleito e a segurança do eleitor, é preciso que ele receba um comprovante físico do voto. Como nada surpreende, a ideia vai ganhando adeptos e tem chance de ser aprovada ainda este ano, para valer em 2022.


Factoides circulam alegremente nas redes sociais. Segundo um deles, somente Brasil, Venezuela e Cuba adotam o voto eletrônico – em Cuba nem existe voto eletrônico. Em outro, estamos na companhia nada prestigiosa de Bangladesh e Butão.


O voto eletrônico é usado em pelo menos 46 países, segundo o Tribunal Superior Eleito ,0ral-TSE. Há variantes do sistema, não são iguais ao Brasil, mas é urna e contagem eletrônica. E há países em que o eleitor vota em casa pela internet, o que deve ser, em tese, um sistema bem mais vulnerável do que a urna eletrônica.


Os eleitores brasileiros votam em cerca de 400 mil seções eleitorais, com um aparato quase perfeito para evitar, por exemplo, que alguém possa votar em nome de outro eleitor. As seções eleitorais têm uma mesa de um presidente e três mesários, que são os responsáveis pelos cuidados com os equipamentos, a boa ordem do pleito, a identificação dos votantes, as instruções para os eleitores, a elaboração das atas e registros, o transporte da urna para a central de apuração.


Falar em fraude, como faz o presidente Jair Bolsonaro, é uma mentira calculada, para fins indecorosos – em todo o caso, vencendo ou perdendo, é porque vão lhe afanar milhões de votos. É a forma tosca – como convém ao personagem – de impugnar por antecipação o resultado, em caso de derrota.


Um conluio dessa ordem, capaz de inverter o resultado da eleição presidencial, só seria possível com a adulteração de 400 mil urnas eletrônicas, ou parte substancial delas, e com a conivência de um milhão e seiscentos mil mesários. A conspiração teria de contar, ainda, com a cumplicidade de 27 tribunais regionais eleitorais e do próprio TRE.


Todo o sistema pode ser auditado por candidatos, partidos, Ministério Público, OAB e até pelo eleitor comum. Uma fraude no sistema implica na contaminação de todos esses mecanismos de aferição e controle.


Devem ter falhas – nada é perfeito. Mas é um sistema de alta performance. A prova definitiva está em que desde 1996, quando ele foi implantado no Brasil, os resultados da eleição foram comemorados pelos vencedores e digeridos quase sem choro pelos derrotados. Praticamente ninguém reclama de fraude. Os eleitos tomaram posse e (em geral) concluíram seus mandatos. As raras impugnações foram afastadas pela Justiça Eleitoral.


O Brasil não é para amadores, como assinalou o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, citando Tom Jobim. Quem costuma reclamar de fraude nas eleições é o perdedor. No Brasil, não. Aqui, quem mais insiste na teoria da fraude (Bolsonaro) é vencedor de sete eleições de deputado federal e uma de presidente da República.


titoguarniere@outlook.com


quinta-feira, 24 de junho de 2021

O PREÇO DA CARNE 2

 Não há ditado mais certo que este: “ Quem compra terra não erra”.

Não me refiro às chácaras e áreas muito pequenas. Respeito, todavia, quem compra para seu lazer e recreio.

Eu falo em  em áreas  produtivas. Bem administradas elas desvendam muita alegria e ainda são fonte de renda.

A terra  garante contra surpresas de ver  alguns   investimentos sumirem como fumaça. A terra é teu abrigo.Sendo produtiva, sempre alguém vai querer comprar.

É salutar  termos  em mente a possibilidade de aumentar a área. Por isso creio não ser  aconselhável  gleba pequena cercada por proprietários que nunca vão  permitir uma expansão. E o importante é, se possível,   comprar áreas contíguas. A despesa vai ser ínfima: os maquinários e a mão de obra serão os mesmos.

Dito isso quero dizer que o espectro da pecuária mudou bastante

  de 10 ou 20 anos para cá. Os filhos dos proprietários rurais foram estudar e voltaram com mil inovações. Hoje , na pecuária, as fêmeas são inseminadas, existe a transferência de embriões. A monta natural por touros é quase só para  repasse das fêmeas falhadas .

O Brasil, portanto, está muito bem no agro.

Um amigo  meu que trabalha e mora na Alemanha me disse, recentemente , o seguinte : “ a carne alemã aqui é fraca.A picanha é dura e não há cortes disponíveis para grelha. A turma  coloca linguiças na grelha e carne no forno ou defumador.”

“ É outra cultura. E a costela bovina  que se encontra aqui é a pré pronta, defumada e temperada. Dá para enganar , mas não é a mesma coisa. O bom aqui são as linguiças.”

Sem embargo de tudo isso, penso que churrasco como aquele de anos passados, com a graxinha pingando, a costela que nem era roída e já se pegava outra, os fazendeiros dando vacas de presente para alguma festa, isso acabou, ao menos por enquanto.

Quem sou eu para aconselhar. Creio que devemos esquecer um pouco a picanha que, muitas vezes, nem picanha é , e prestar atenção em outros cortes, bem mais baratos, que vão muito bem numa panela. E porque não comprar um osso buco e fazer um ensopado de lamber os beiços?

Encerro dizendo que fui relativamente bem nos  meus negócios, mas não quero ser professor de ninguém. Penso que em todos os negócios deve haver  qualidade: a qualidade se defende. Não adianta muito oferecer produto fraco . O comprador vai dizer: “não era bem isso que eu queria”. 

Em tempo: estou de acordo com o Ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o desperdício de comida no Brasil. E agrego: o desperdício se dá  em todas classes sociais.

Sem exceção.


quinta-feira, 17 de junho de 2021

O PRÊÇO DA CARNE 1

 Li, por esses dias, uma reportagem dando conta do alto preço da carne.

Como nossa família cria gado de corte, conquanto não façamos terminação, estamos dentro desse ciclo que se compõe de cria, recria e terminação.

Cada propriedade tem uma vocação.

A vantagem de se criar em locais que ainda não estão saturados pelas cidades é que se pode adquirir glebas maiores do que , por exemplo, nas regiões  perto das metrópoles. E a preços bem inferiores.

No Rio Grande do Sul usamos a medida de hectares ou, em alguns lugares, quadras de sesmaria. 

Sucede que, em princípio há campos macios e outros com afloramento basáltico ( campos duros). Estes não se prestam muito para plantios como de soja ou trigo, mas servem para criação de gado. É fácil, então, intuir que o proprietário que tem campo macio vai investir na lavoura, preferencialmente.

Resultado: o boi se tornou um pouco mais escasso, o que resulta em aumento de preço.

Ultimamente começou-se a vender terneiros em pé que vão em navios para alguns países além mar. E pagam muito bem e a vista.

Tínhamos um entrave que era o bloqueio que Santa Catarina nos impunha para levarmos nosso gado atravessando seu território sem quarentena. Isso terminou agora, visto não vacinarmos mais contra a febre aftosa.

A carne brasileira é muito procurada por vários países pois ,como sabemos, aqui no Brasil temos espaços vazios que permitem escala.Hoje temos o chamado gado precoce. Um terneiro de sobreano vai pesar 400 quilos ou mais desde que tenha excelência em : nutrição ( 1), sanidade (2),bom manejo (3) ,boa e adequada genética (4). Nessa ordem. 

Vamos relembrando que o terneiro nasce, depois de um tempo é desmamado, em alguns lugares é castrado. Alguns deixam o terneiro inteiro, outros o castram bem cedo e alguns esperam algum tempo para castrar. Os compradores do oriente exigem terneiros não castrados.

 No nosso Estado falamos em quilo vivo e não em arroba. Para nosso cálculo vamos dizer que o boi pesa 600 quilos. Como o quilo vivo vale cerca de 10 reais, o boi sai da porteira valendo 6.000 reais. Quando chega no frigorífico passa por uma série de operações. A carcaça vai pesar apenas  entre a metade ou um pouco mais. Quase dá para multiplicar por dois o preço, agora que só temos a carcaça. Depois de sair para os supermercados sofre mais acréscimo no seu preço.

Portanto é o mercado que fixa o preço.

O Euro vale hoje R$ 6,20. Olhem quanto custam em Euro alguns cortes na Alemanha por quilo: filé brasileiro € 25, entrecot argentino € 25, carne moída de gado , alemã: € 6.

(Volto na quinta.)


domingo, 6 de junho de 2021

MINHA PRIMEIRA CRÔNICA AOS 15 ANOS

 Foi em 19 de janeiro de 1961, quando eu tinha 15 anos.

Meu pai assinava, além da Gazeta, o Correio do Povo e o Reader's Diget . Eu lia tudo.

A Gazeta dava muita importância ao noticiário internacional.

Me indignei com os fatos relatados e decidi escrever um artigo. Para minha surpresa a Gazeta publicou. Esses dias meu amigo Boroski achou  a página que eu havia extraviado.

Então, lá vai.

“Há poucos dias, dois estudantes negros tiveram suas fotografias publicadas em grandes manchetes. São eles os jovens estudantes norte-americanos Charlayne Hunter de 18 anos e Hamilton Holmes de 19.

Estes dois estudantes, um rapaz e uma moça, conseguiram após muitas lutas a sua admissão na Universidade da Geórgia.


Como todos sabem, existe nos Estados Unidos a segregação racial. Esta segregação é como que uma perseguição à raça negra.


O negro não pode ser admitido onde há brancos, mas escolas, universidades, cinemas, etc. Uma revista carioca publicou uma reportagem sobre este assunto. Via-se numa fotografia uma latrina onde estava escrito: "Only for white men"! (Só para brancos).


Bem, os dois estudantes foram para a universidade e ali foram horrivelmente vaiados pelos estudantes brancos. Achava-se que tudo se acalmaria. Qual nada, as injúrias recrudesceram. Foram jogadas garrafas e pedras no dormitório da jovem Charson Layne. Interveio a polícia. Foi recebida a pedradas. Houve feridos. Só acalmaram os animos quando a policia retirou os dois estudantes católicos, negros, e os levou para casa.


Por que toda esta algazarra? Porque os dois eram negros. Digam-me, tem o negro culpa de ser desta côr? Ele é culpado por Deus ter lhe dado esta epiderme? Tem ele no seu corpo alguma coisa que rebaixe a espécie humana?


Não é ele também filho de DEUS? Pode um desalmado branco que não sabe como se ganha um vintém, que nunca suou porque trabalhou, pode um estudante branco negar o ingresso ao negro, em benefício da cultura e do bem estar do próprio país?


Por que trouxeram nosso irmão negra para cá, se não o querem, se o perseguem? Quem, nos estados do Sul, trabalhou na agricultura? Enfim, não foi o homem de cor que ajudou a levantar os Estados Unidos. Sim, dirão alguns, mas o elemento é geralmente um marginal!


Se ele geralmente é marginal é por que não conta com a nossa devida assistência, com a educação à altura.


Não é perseguindo o negro que os países resolverão este problema. Só a prática da fraternidade e da igualdade, bem amparada pela lei, é que poderão trazer aos povos tão necessária e desejada unidade e o gozo do progresso em ambiente  de paz.”


 


quinta-feira, 3 de junho de 2021

EU," SUBVERSIVO" ?

 Eu nunca tive , durante o período acadêmico, nem vontade nem tempo para as passeatas e outras manifestações. O problema era o “ baixo clero” das forças da repressão que em tudo viam “ subversivos”.

Vou, portanto, narrar o que aconteceu comigo nessa época turbulenta.

Certo dia, quando no quarto ano de Direito na UFRGS, fiz um comentário no barzinho,  que foi armazenado como sendo subversivo. Não era nada disso, eu apenas referi que estava na hora de voltarmos a uma plena democracia,   eleições livres, etc.

Tempos depois, já formado, me inscrevi no concurso para juiz de direito. Na época o Tribunal procedia ao concurso, mas quem nomeava o juiz para o cargo era o Governador.

Comigo foram aprovados 28 candidatos. E nada de saírem as  nomeações. Um amigo me segredou que estava tudo parado por minha causa.

Procurei uma pessoa que tinha bom trânsito no governo. Foi-me pedido que eu declarasse por escrito que eu não era comunista. Ora, ora, ora: como eu não era comunista mesmo, assinei. Não me envergonho, se fincasse o pé seria pior para todos.

Pronto, saíram as nomeações….

Tudo que me faltava era ser comunista, sendo neto e filho de comerciantes. A propósito: nunca li o Capital, do Karl Marx. Mais: na minha época de faculdade eu era um dos poucos  não  “comunista”. Além de ser  o mais “pobre” da turma.

A alta aristocracia dos estudantes da UFRGS era composta de muitos esquerdistas. Eu não tinha dinheiro para também ser . Meu negócio era estudar e assegurar um bom futuro.

 As gurias que eu queria namorar perguntavam que carro eu tinha. Eu retrucava que nem bicicleta possuía e nem dinheiro para comprar uma. Se quisesse me convidar para um chopp, ela teria que pagar o meu e o dela. 

Enfim, meu pior defeito para arrumar uma namorada era não ter sequer um Gordini ou um DKW usado. 

 Na minha época de faculdade os protestos se organizavam na frente da Reitoria ou na Borges de Medeiros. A maioria dos próceres dos Centros Acadêmicos ficavam ou nos andares da reitoria ou meio escondidos na multidão. 

Todavia, pouca coisa mudou. Hoje, já com os cabelos “entordilhados”, mas bem faceiro, vejo, com preocupação, a bagunça geral. Não há colaboração e sincronia entre os governos, é um puxa pra cá e outro para lá.

Tomara que os governos não atrapalhem os empresários! Muito menos os heróis do agro.

Falar em Agro, finalmente estamos livres para vender nosso gado atravessando Santa Catarina, pois não vacinamos mais contra contra a aftosa, o que era um entrave.

Vai subir ainda mais o valor do nosso gado. Que é o melhor do mundo.


quarta-feira, 2 de junho de 2021

EU TINHA 16 ANOS QUANDO PUBLIQUEI A MATÉRIA ABAIXO

 Lia todos os dias os jornais que meu pai assinava.

Escrevi isso em 1961, com 16 anos.

Hoje, graças a um amigo, o sr. Borowski, que mora em Santa Cruz do Sul, recuperei aquele artigo.

Parece meio atual ....não é?


MEU PRIMEIRO ARTIGO NA GAZETA DO SUL





MEU PRIMEIRO ARTIGO NA GAZETA DO SUL

 Eu tinha 16 anos. Lia todos os jornais que meu pai assinava.

Corria o ano de 1961.

Escrevi um artigo para a Gazeta, que foi publicado.

Era contra a segregação racial nos EUA.

Agora consegui resgatar aquele artigo.

Meus amigos dizem que o artigo ainda é atual.

Em seguida publico o teor.

Já está no blog do Júlio Prates.