nunca fui rico, mas já fui pobre.
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João-Francisco Rogowski
A polêmica da semana e que evoluiu para uma análise político sociológica, girou em torno de uma piada enviada pelo Desembargador Alfredo Foerster, a seguir reproduzida:
“Um prédio de 04 andares foi totalmente destruído pelo fogo; um incêndio terrível. Todas as pessoas das 10 famílias de sem teto, que haviam invadido o 1º andar, pereceram no incêndio.
No 2º andar, todos os componentes das 12 famílias de retirantes, que viviam dos proventos da "Bolsa Família", também não escaparam.
O 3º andar era ocupado por 04 famílias de ex-guerrilheiros, todos
beneficiários de ações bem sucedidas contra o Governo, filiados a um Partido político influente, com altos cargos em estatais e empresas governamentais, que também faleceram.
No 4º andar viviam engenheiros, médicos, advogados, professores,
empresários, bancários, vendedores, comerciantes e trabalhadores com suas famílias. Todos escaparam.
Imediatamente a "Presidente da Nação" e toda a sua assessoria mandou instalar um inquérito para que o "Chefe do Corpo de Bombeiros" explicasse a morte dos "cumpanheiros" e por que somente os moradores, do 4º andar haviam escapado.
O Chefe dos Bombeiros respondeu:
- "Eles não estavam em casa. Estavam trabalhando."”
Em “contestação” o Pastor Silvio Meincke, lá da Alemanha, assim disse:
“Amigo Alfredo.
Para o martelo, o mundo é feito de pregos.
Para o serrote, de madeira.
Não existe leitura neutra do mundo e da realidade de sua gente.
Os ditadores do mundo árabe têm a sua leitura de justiça, Pinochet tinha a sua, George W. Busch tem a sua, nós temos a nossa.
Para o agricultor, uma boa chuva pode ser tempo bom.
Para o turista, bom tempo é dia de sol.
Não existe leitura neutra, nem do clima, nem da situação dos pobres, nem da realidade de um país, nem de um texto clássico e nem mesmo dos textos da Bíblia.
Cada um lê com os seus óculos.
Cada um lê a partir dos seus interesses ou dos interesses do grupo social com o qual se identifica.
Eu me identifico com os vencidos da nossa injusta história nacional. Acho que estou em boa companhia, porque aprendi isso com Jesus Cristo.
A piada abaixo foi feita por quem se identifica com os vencedores, "os que produzem", os "merecedores", os "promotores do progresso" "os que trabalham".
Enquanto fizermos essa análise de que os pobres são pobres porque são preguiçosos, não estaremos contribuindo com a solução da miséria em nosso país, nem venceremos a secular injustiça social. Os pobres são pobres porque foram feitos pobres. A história do Brasil o mostra.
Ou será que os escravos e seus descendentes são pobres porque não trabalharam, porque não trabalham? Os caboclos... os indígenas ... os que foram expulsos do campo pela "modernização da agricultura" e enchem as periferias das nossas cidades, seus filhos sem chance .... . ., Alfredo, deves estar notando, tenho raiva de quem formula esse tipo de piadas, porque penso nas mães pobres que não tem o que dar de comida aos seus filhos, apesar de o Brasil produzir 03 vezes as calorias que seu povo precisa para alimentar-se bem. Penso nos pais que lutam, moradores barracos miseráveis, pela sobrevivência dos seus filhos famélicos.
E falar em riqueza: Nunca ninguém ficou muito rico com o trabalho das suas próprias mãos. Quem ficou muito rico sempre explorou a força das mãos dos outros, das mãos dos "preguiçosos", das mãos dos que foram feitos pobres.
Acho que essa é a pior piada que li neste ano, e tenho certeza de que tu não concordas com o conteúdo que ela quer transportar.
Com votos de bons dias e um abraço amigo, Silvio.”
Houve “réplica” do Des. Foerster nos seguintes termos:
“Meus caro[a]s:
Nosso dileto Pastor Meincke sequer pega 'leve' com anedotas;
certamente, ele cogita: com pobres não cabe "gi[u]ocare" e pela simples
condição da indigência, penúria ou miséria deles. . .
Sempre entendi que pobres são primeiro pobres mentais e só após, e por fatal decorrência disso, são também miseráveis economicamente!”
Instado a se manifestar, Rogowski assim disse:
Bá, este tema rende um dissertação de mestrado ou um livro em três volumes.
Eu nunca fui rico, mas já fui pobre.
Não confundir pobre com mísero.
Sou filho de “barnabé” (com muito orgulho).
Meu Pai é Funcionário Público Federal, aposentado.
Houve um tempo em que o funcionalismo público ganhava muito mal, especialmente os federais, independentemente do nível hierárquico do cargo.
Só para ilustrar, logo depois de formado em Direito, bem no início de carreira, uma vez fui até a Praça Ruy Barbosa, 57 – em Porto Alegre, onde funcionava a Justiça Federal e a Procuradoria da República em prédio emprestado pelo governo do Estado. Estavam abertas as inscrições para o concurso, tanto de Juiz Federal como de Procurador da República e fui lá me informar. Quando fiquei sabendo o valor do salário desisti na hora.
A realidade salarial do funcionalismo público federal começou a melhorar após o fim da ditadura militar.
Então tudo era muito difícil para a nossa família, o casal e quatro filhos.
Tínhamos o básico necessário, mas não sobrava dinheiro para nada. Algumas vezes já referi que meu pai não nos leva a jogos de futebol e que até hoje nunca entrei num estádio para assistir uma partida, agora vocês sabem o motivo.
Muitas vezes sofri discriminação pela minha condição financeira, não pude namorar moçoilas pelas quais me afeiçoei na juventude, impedido pela barreira social, as famílias não me aceitavam pela condição de inferioridade econômica.
Meu Pai, nos fins de semana pintava casas e apartamentos para reforçar a renda, um trabalho braçal muito diferente daquele serviço burocrático que ele fazia na repartição pública, sacrificava-se.
Minha Mãe não trabalhava fora, tinha quatro filhos para cuidar, mas trabalhava em casa cortando cabelos das vizinhas, fazia perucas para vender, etc. e tal.
Eles ainda vivem e ambos são ativos, trabalham e produzem aos seus quase oitenta anos.
A Mãe que sempre pendeu para a iniciativa privada, transformou-se numa empreendedora de mão cheia, aos 76 anos de idade pinta quadros, vende muito e bem, tem convites para expor no exterior. É proprietária de imóveis que ela comprou com o suor do seu rosto e que aluga para reforço da aposentadoria. Sem exagero, 50% dos seus ganhos ela doa à caridade e ainda prega o evangelho porta a porta e cuida de um “rebanho” de almas.
Resumindo, há injustiças sociais?
Claro que há, eu senti na carne.
Há pobre preguiçoso?
Claro que há, eu tive vários amigos de infância que, enquanto eu ‘ralava’ encima dos livros nas madrugadas de sábados e domingos, eles estavam balançando a pança em pagodes, escolas de samba etc. e tal, hoje moram na Vila Cruzeiro, no Morro da Cruz. De quem é a culpa?
No Rio Grande do Sul temos o exemplo dos imigrantes europeus que chegaram aqui paupérrimos, doentes, esquálidos, famintos, obviamente falo daqueles que chegaram vivos, pois, muitos morreram nos navios.
Sem um níquel no bolso, mas com vontade de trabalhar, garra e coragem, transformaram este rincão no Estado pungente no que ele é hoje, um exemplo para o Brasil.
Eu aprendi com meus pais a não ficar choramingando pelos cantos e que a melhor maneira de enfrentar e vencer as injustiças sociais é com TRABALHO, estudo, esforço, disciplina e foco.
Ser como o lobo que fixa os olhos no seu alvo e não se devia dele e não como o macaco que se distrai a todo o momento.
"Portanto, eu corro direto para o alvo, com esse propósito em cada passo. Eu luto para ganhar. Não estou apenas esmurrando uma sombra ou correndo de brincadeira." ( 1ª Coríntios 9:26)
Esta é a minha opinião, salvo melhor juízo!
Abraços a todos.
Rogowski
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João-Francisco Rogowski