Meu avô Rudolf Gessinger, cujos
antepassados vieram de Zeltingen-Rachtig, às margens do Mosel, na Alemanha,
tinha uma casa comercial em Boa Vista, bem onde a estradinha se bifurca. É um
casarão, hoje em ruínas. São três módulos: num, a casa de moradia, com
vários quartos; colado outro, que era a loja. Nesta se vendia de tudo: tecidos,
bebidas, cereais, remédios básicos, panelas, utensílios, mil coisas. O terceiro
módulo era o depósito de víveres, fardos de fumo, farinha, milho, arroz etc.
Também servia de salão de baile. Na moradia havia uma sala de visitas, onde
havia piano, acordeon, violinos. Também havia um telefone (número 100), único
em toda a redondeza. E meu avô tinha um carrão, cuja marca não me lembro, mas
era daqueles de filmes dos anos 40. Os negócios fluíam muito bem, vô Rudolf
mandou alguns filhos estudarem fora e, para meu pai, ajudou a montar um
comércio na cidade de Santa Cruz.
Nunca fiquei sabendo porque meu
avô ia a Santa Cruz, na Matriz, assistir à missa. Parece que havia brigado com
o Padre de Boa Vista. Num domingo de Ramos ,em 1953, ao se dirigir a Santa Cruz
para a missa, sofreu um acidente na descida do Grasel, sendo que Vó Rosa
e ele faleceram. A Gazeta noticiou amplamente na ocasião.
Assumiu o comércio meu tio Rudi.
Mas os negócios começaram a declinar e a casa foi vendida. Os novos donos
foram indo e indo e, finalmente, a casa foi fechada. Sem cuidados e
manutenção, aquele casarão imponente não teve tratamento adequado e o telhado
começou a ruir.
Semana passada fui visitar minha
irmã em Santa Cruz, aproveitei para comprar quinze quilos da melhor linguiça do
mundo, a do Schuster, em Pinheiral ( melhor que na Alemanha, onde parece que
agora gostam mais de “fast food”) . Fui com meu filho visitar a
Lissi Bender em sua Wilde Heimat e segui para Boa Vista ver como estava a casa
dos Gessinger. Mein Gott, inabitável. Meu filho de 22 anos me falou:
“pai, vamos comprar essa casa, reformar e fazer um memorial”. Respondi
tristemente que aquela casa tinha morrido, que nossos negócios estão
florescendo em outros lugares, enfim, vamos pensar…
Triste fim teve por igual
nossa centenária casa paterna na rua Tomás Flores, 864. Com o falecimento
da minha mãe e nenhum herdeiro ou descendente querendo nela morar, a casa ficou
vazia. E, penando nessa solidão, acabou por ficar com depressão e doente.
A solução foi vender. Me disseram que foi demolida. Não tenho coragem de passar
por lá. A diferença das casas é que a de Boa Vista quem sabe possa um dia
ressurgir das cinzas...
( publicado em Gazeta do Sul)