O sistema estadounidense só já não entrou em colapso porque os cidadãos ainda cumprem, de regra, os mandamentos legais e , mais ou menos, confiam nos juizes e na polícia. Lá as autoridades não querem saber: as leis têm de ser cumpridas. Essas pequenas desobediências civis, como impedir a passagem por um viaduto ou ponte dão algemas nos pulsos na hora. Mas o crescimento da população descendente de imigrantes recentes vai abrindo fissuras no sistema que só funcionava porque mais ou menos igualitária a condição social do povo ( claro, muito à custa da predação dos demais, coisa trivial que os impérios históricos sempre fizeram).
No caso brasileiro especificamente o esquema clássico de preservação de propriedade, de privilégios, e coisa e tal, era aceito sem rebuços por um lumpesinato sem luzes e sem informação. Duvidar, criticar, significava exclusão ( assim como em pequenas comunas o que se contrapõe ou é cooptado ou é maldito).
Mas agora as meninas da favela também querem ter apareelhos nos dentes, o menino lá da Matias Velho sonha com um carrão. O caminho ortodoxo seria, caso ele fosse esforçado, ir até a boa escola de sua vila, estudar, ingressar numa faculdade pública, ter bolsa de estudo. Como não existe a escola, a merenda é roubada e não há vagas na rede universitária pública, ele vai ter que trabalhar por 600 por mês. E ver na TV os comerciais com mulheres peladas tomando cerveja.
Daí a pensar que isso tudo não está certo é um passo.
O seguinte é não se sentir obrigado a um sistema legal que não lhe dá chance.
Em seguida conclui que tudo isso de Justiça, Polícia etc é uma pantomima para tirarem ele de otário.
Adere esse menino, essa menina, a um sistema , a um código ético que ele entende.
Esse código consuetudinário que lhe dá uma luz e que aplica penas imediatamente e que passou a dominar sua " comunidade" , passa a nortear suas ações.
Continuo outro dia.
Continuo outro dia.