O que houve com os bailes?
Eu
admito, peço perdão, que sempre fui objetivo e prático. O baile era, na minha
concepção pecaminosa, (da qual dava meticulosas explicações no confessionário),
uma mera primícia do amor carnal e do namoro.Tirando fora mãe,irmãs, avó,
tia, senhoras casadas, noivas, com as quais não tinha nenhum interesse em
dançar.O baile, portanto, para minha mente meio fogosa, era um jeito de ,no
ardor dos 17 anos, abraçar a menina dos seus 16, sempre respeitando sua
relutância , o que ela fazia empurrando meu ombro para trás, mas eu
tentando haurir seu perfume de” Miss France” e ouvir seu coraçãozinho batendo e
batendo.
Beijo na
boca, só escondido.
Enfim, hoje há, segundo meu filho mais
novo,aplicativos, que entre outras coisas, localizam, num zaz, tua futura
parceria para um namoro. Nem sabia .
Vamos em frente . As mulheres conquistaram
seus lugares. Viva! Tenho filhas vitoriosas e nada raivosas. Mas essa de uma
senadora dar uma de Maria Bonita, tirando uma pasta das mãos do presidente
do Senado, foi demais. E ainda, ante o pedido de devolução, disse
desafiadoramente “então vem buscar”. Ficou feio. As mulheres, com a
igualdade conquistada, têm que também
aceitar os ônus da convivência. Ou não?
Outra
perquirição. Onde estão as cantorias? Ao tempo em que eu lecionava na Unisinos,
após as aulas nas sextas feiras à noite, nos reuníamos para um churrasco
e - sabem o que?- para cantar. Sim, cantar. Nos anos oitenta, início dos 90,
era comum jantar com alunos, ocasião em que se cantava após a quinta cerveja.
Coisa de louco era quando se entoava o Carinhoso. Na passagem do “ai se tu
soubesses” era uma desafinação só. Mas era bom. Hoje seria quase impossível
isso num restaurante. Atrapalharia os que passam teclando suas infinitas
mensagens pelo celular .
Muito
comuns eram as serestas na praia. Quantas e quantas fazíamos Guido Koehler,
Celso Campos e eu. Hoje não dá mais por causa das cercas elétricas e das portas
trancadas.
O máximo
que estou conseguindo hoje é tocar em casa com meu filho Rudolf. Se há
convidados, raramente um se aguenta quieto até o fim da música. Penso em
estabelecer uma regra nos meus churrascos caseiros. Duas salas: uma para os
tagarelas. Esses só ganhariam mocotó frio com cerveja quente e tomada no bico;
outra para os que apreciam música ao menos 15 minutos. Para esses filé
argentino e chopp importado de München ou aquela Freixenet Brut tiritando de
frio.