Estimadíssimos Confrades.
Como o tema derivou em duas
conversas, quero, em primeiro lugar, comentar o 'trauma' abordado pelo
Mendelski e o Ruy, que foram vítimas, e pelo Eliseu que, sem testemunhar a
questão dos '5ª Coluna', conheceu seus efeitos [sei, com certeza de pelo menos
um depoimento semelhante que vai ficar faltando - o Confrade, associado
empresarial de uma vítima da sanha nacionalista, é um gentleman e
provavelmente optará pelo silêncio].
Crianças e adolescentes
tendem à crueldade, uma das falhas inerentes à condição humana. Assim como o
material de que são feitos os dentes, o
Criador, que lançou o produto com um projeto ainda deficiente, talvez pensasse
em posterior 'recall' ou, quem sabe, botar uma franquia de oficinas, daí que
fez os dentes 'pra dar defeito'.
Voltando à crueldade
praticada, como se viu, contra os descendentes de alemães e alemães, é
imprescindível dizer que os jovens colegas dos nossos amigos foram cruéis como
todo humano jovem [e alguns que envelhecem sem ficar adultos, jamais]. Mas,
porém, contudo, entretanto, todavia... O PRECONCEITO, este, meus amigos, o
preconceito é cultural, é adquirido, é absorvido do meio social em que se
desenvolve(?), evolui(?), cresce(?) o pequeno onívoro [ou 'vegano', o que é
pior]. Ninguém nasce 'preconceituoso', o preconceito nasce da experiência, em
geral, da experiência alheia, do 'ouvi falar'. As origens do preconceito estão
no ressentimento e na inveja, um dos mais graves pecados capitais.
A minha experiência pessoal,
que não posso chamar de trauma, embora marcante do ponto de vista da
'conscientização racial' [que coisa horrorosa] e da vigência do racismo,
ocorreu tardiamente, lá pelos 15 anos de idade. Um colega de aula, cujas
origens não são relevantes para o relato, que sentava ao meu lado diariamente e
compartilhava tanto trabalhos escolares quanto besteiras estudantis das que se
cometem nessa idade... Este colega, chegando pela manhã, ao me saudar, em vez
do sorridente 'bom dia' do cotidiano, lançou um sonoro - "Ô judeu
filho-duma-puta!" [ao qual respondi com um perplexo "ôi
fulano!?"]
Querem saber? Apesar do nome
adotado pelo meu bisavô fiorentino, provenho de uma longa linhagem de 'cristãos
novos'. Fui criado pra ser católico como todos os homens rastreáveis da minha
linhagem paterna - nenhum Praticante - os quais sempre casaram com
mulheres católicas e, na sua grande maioria, carolas de assistir missa
diariamente [como reza a tradição da 'nobreza galega'].
Só aí, despertou em mim a
curiosidade pela questão racial, o sionismo, o anti-semitismo e, muito depois,
veio o rompimento com a 'Santa Madre', à qual reconheço e respeito como à todas
as religiões, sem manter, todavia, representação diplomática.
Se me coubesse, pediria à
todos os senhores [e senhoras], meus confrades [e confreiras], que revisassem
as origens, os 'antecedentes e justificativas', dos seus conceitos e buscassem
eliminar da parte consciente do seu cotidiano da sua 'persona' visível
[redundância?], todos aqueles traços que tenham origem suspeita.
O preconceito, meus
estimados, intoxica a alma e enfeia a figura, conduz à solidão.
Um grande abraço deste seu
limitado irmão... Ivan.
[Mais tarde, enxugadas as lágrimas causadas pelo
discurso, voltarei pra abordar o tema da educação.]