Franklin Cunha
Médico, formado em 1965 na UFRGS. Tem três livros publicados no gênero ensaios: Deusas, bruxas e parteiras (Editora Livraria do Advogado, Porto Alegre,1995).A lei primordial (Editora Age, Porto Alegre, 2005), que ganhou o Prêmio do Livro do Ano, 2005, da Associação Gaúcha de Escritores. A raiz da esperança ( Editora Age,2010, Porto Alegre).
Organizou e colaborou junto com os colegas Blau Souza, Fernando Neubarth e José Eduardo Degrazia em sete edições da série Médicos (Pr)Escrevem, contos, ensaios, história,publicadas pela AMRIGS, Sulina e outras Editoras, 1995-2002.
Tem várias colaborações para a série Nós os Gaúchos, da Editora da UFRGS.
Escreveu ensaio sobre o escritor franco-argentino Paul Grossac, o qual foi editado em forma de cd pela Faculdade de Filosofia e Letras da UFRGS ( organizadora: professora Zilá Bernd, 1996)
Tem mais de 60 textos publicados em Zero Hora, Revista do Instituto Estadual do Livro (IEL) e outras publicações gaúchas, nacionais e internacionais, como a Revista “ Humanidades , cultura e cidadania“, editada em Lisboa por José Luís Gil e da qual faz parte do Conselho Editorial).
É Editor do Jornal MenteCorpo, cujo editor-chefe é o Psicanalista Dr.João Gomes Mariante.
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Prezado Dr. Ruy Gessinger
Conheço Tübengen, bela e asséptica cidade,
banhada pelas límpidas águas do rio Necker. Para termos uma idéia,sua universidade,
foi fundada 30 anos antes da descoberta do Brasil ( em 1470). Há nela uma
filial do Instituto Max Plank por onde passaram vários prêmios Nobel.
As águas e a hisória da cidade e da bela
região da Floresta Negra, nem sempre foram tão límpidas e transparentes
como são hoje.
Na bem conceituada faculdade de medicina,
correm notícias de que houve época em que seus futuros médicos estudavam
anatomia humana em esqueletos de prisioneiros assassinados nos eficientes
fornos crematórios e matadouros dos campos de concentração nazistas.. Na
cadeira de ginecologia, dava concorridas palestras o Herr Professor Hans
Hinselmann.( que conheci em Porto Alegre, em palestra que proferiu em
1963 na Sociedade de Ginecologia do RGS) Ele foi o cientista que descobriu
a etiologia e o consequente tratamento do câncer de colo do útero. Seus
trabalhos científicos só se tornaram possíveis pelo fato de que um
ginecologista, seu sobrinho; Dr. Eduard Wirths, era , na época, médico no campo
de Auschwitz onde o eficiente funcionário amputava o colo do útero
das prisioneiras dos campos e enviava a peça para estudo microscópico
anátomo-patológico ao laboratório do Herr Profesor Hinselman, situado em
Altona, perto de Hamburgo. Como consequência da pesquisa científica do do Dr. Wirths,
morriam de hemorragias e de infecções a maioria das já doentes e consumidas
cobaias-humanas.
Nós brasileiros, podemos admirar e
respeitar a velha civilização germânica, desde que conheçamos a sua
história remota e recente de suas admiráveis conquitas
nas ciências e nas artes, sem esquecer no entanto suas abomináveis
conquistas ( e derrotas) guerreiras que só no século XX resultaram em 80
milhões de mortos e a destruição de milhares de cidades em toda a Europa. E
infinito sofrimento.Vivemos num país admirável que recebeu de braços
abertos e com grande afeto e respeito emigrantes de todas as etnias que aquí
escolheram para viver e constituir suas famílias..Há cerca de 1500
anos, bárbaros godos, visigodos e de outras origens germânicas invadiram,
saquearam e destruiram Roma e sua admirável cultura. O Brasil tem
apenas 500 anos desde que foi invadido pelos portugueses.Estamos ainda
construindo nossa civilizaçao com a esperança de que ela se consolide em
breve tempo.Mas temos de confiar nela e lutar para alcançá-la e para isso temos
que nos organizar em termos de um projeto que proporcione - de acordo com o
lema cristão - " vida, comida e justiça para todos".
Acrescento, para finalizar e lembrar , breve
e incisivo texto do historiador Voltaire Schilling .( filho de
um militar brasileiro descendente de imigranttes alemães) em seu livro Eugenia: a Política de Morte do Nazismo :
“
... a política de extermínio não foi um gesto tresloucado e impensado. A
maioria dos seus agentes estava firmemente convencida do seu rigor científico e
da sua certeza benéfica para a humanidade. Levaram à prática aquilo que fazia
anos era defendido por pensadores de renome, por revistas científicas e por
médicos ilustres. Hitler implementou aquilo que amplos setores científicos
acreditavam ser verdadeiro. Foi o primeiro pacto moderno entre a ciência e a
barbárie”.
Saudaçoes
brasileiras e cordiais
Franklin
Cunha
Médico
CREMERS
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