sábado, 30 de agosto de 2025

A QUEM ME DEU A VIDA

 RUDOLF GENRO GESSINGER

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      “Não espere um avião cair para dizer eu te amo para alguém; não espere um avião cair para perdoar”. São palavras do zagueiro Neto, sobrevivente do desastre aéreo que vitimou quase todo o time da Chapecoense.

        Essa frase me marcou bastante na época. Concluí que homenagens devem ser feitas às pessoas que amamos em vida, pois só assim cumprem o seu propósito.

        Hoje minha homenagem vai para Maristela Genro Gessinger, a mulher que me deu a vida e a quem passo a me dirigir.

Nessa última segunda-feira, completaste 60 anos. Já faz metade da tua vida, portanto, que és minha mãe!

        Por todo esse tempo, sempre fomos amigos antes de mais nada. Tu me ensinaste a ser homem e a ser gaúcho.

        Também me explicaste que, um pouco antes do meu aniversário, tem uma data muito importante: o Dia Internacional da Mulher. É ensolarado o teu sorriso quando te dou parabéns todo dia 8 de março.

        Sem deixar de ser feminina e sempre carregando o instinto de cuidado de uma mãe, foste a silente e eficaz organizadora nas vidas do teu pai, dos teus chefes, do teu filho e do teu marido.

        Quando estudei os conceitos de razoabilidade e de proporcionalidade nas aulas de Direito Constitucional, entendi como tu pensas. Sabes moderar tua força e tens uma paciência infinita.

Faz parte da tua educação repudiar exageros e desperdícios. Não reclamar, mesmo enxergando as coisas de uma forma crítica, foi uma das lições que aprendi mais pelo teu exemplo do que pelas tuas palavras.

        Acho que sempre recebi muito bem tuas dicas e conselhos. Se hoje eu sei analisar documentos; usar a língua portuguesa; dirigir bem; escolher, temperar e assar carnes foi porque melhorei a partir de correções tuas.    

O tempo consumido nas estradas indo para Porto Alegre e de lá voltando custou algum tempo do nosso convívio, mas não significou ausência, pelo menos não para mim. Sempre me senti amado por ti porque acompanhas o que está acontecendo na minha vida, conheces meus amigos e sabes quais são os meus sonhos.

        Tua insistência em eu começar a estudar inglês e em não desistir de tocar violino fez uma diferença imensurável no meu desenvolvimento pessoal: muito obrigado, valeu a pena!

        Te amarei eternamente e serei grato não só por teres me dado a vida, mas principalmente por todos as renúncias que fizeste em prol da minha mais plena felicidade. Isso só me dá certeza de que não existe nada mais puro nem mais forte do que o amor de mãe.

        Seguido a gente vai noite a dentro conversando e esses momentos são tudo de bom. Que façamos isso por muitos anos ainda!

 

sábado, 16 de agosto de 2025

MEMÓRIAS DO DR. DAVID

RUDOLF GENRO GESSINGER    

Esses dias, conversando com minha irmã, percebi que nossos pais estão entordilhando e que os veteranos do nosso tempo já começaram a desaparecer.

Comentei que não vai tardar a sermos nós os velhinhos contadores de histórias para os jovens que ainda não existem.

Na estrada para Porto Alegre, lembranças que podem se tornar boas histórias carinhosamente vieram matear comigo.

Eu deveria ter 12 anos. Estava voltando da escola a pé e, no caminho, cheguei no advogado da família para pegar ou deixar algum documento. 

Era meio dia e eu comeria até o prato, se me deixassem. Percebendo isso, Dr. David me convidou para almoçar.

Ele tinha, na época, mais de 70 anos. Seu escritório ficava na primeira peça à esquerda de quem entrava em sua casa.

O almoço seria polenta, o que nunca tinha visto sair das panelas de minha mãe. Dr. David se maravilhou com minha satisfação ao comer.

Ao longo dos anos, por várias vezes visitei o Dr. David. Quase sempre só resolvia chegar, pois me sentia em casa naquele escritório cheio de livros.

O pomar dele me encantava também. Sua esposa me ensinou a colher as frutas sem arranca-las da árvore.

Nas contravoltas da vida, me tornei advogado. Muito me aconselhei com o Dr. David em tardes que passávamos conversando. 

Sempre me maravilhei com a forma como ele conhecia os fatos, os lugares onde ocorreram e a personalidade das pessoas.

Militar de carreira, Dr. David tinha uma visão sistemática dos processos e do expediente forense. Outra virtude dele era saber traduzir suas constatações em exemplos fáceis de entender.

"A liminar tem que ser concedida ou negada após a primeira leitura da petição, porque a decisão é para ser rápida. Que nem a a la minuta: o próprio nome sugere que a comida tem que ficar pronta ligeiro".

Como toda a arte, a advocacia tem seus segredos. Algumas liturgias do Dr. David adotei na minha prática.

Aprendi a deixar as petições iniciais e recursos dormirem uma noite. No outro dia, releio, altero algum detalhe e protocolo.

A lição disso é que o teu próprio olhar precisa ser reciclado para que vejas de forma mais clara.

A perspectiva é fundamental também.

Pedidos urgentes devem ser revisados no teu cansaço. Assim tu lês com os óculos de quem trabalha no fórum, me ensinou Dr. David.

Nos últimos anos, Dr. David adotou um gato, muito parecido com o Garfield. O "Secretário" gostava de ficar deitado sobre os documentos do escritório. 

Em sua sabedoria, Dr. David me disse que um animal se torna teu amigo quando fazes carinho atrás das orelhas dele. Validei a teoria com o Secretário e, principalmente, com cachorros.

Dr. David valorizava suas amizades. Uma vez, ele me perguntou se eu acreditava que ele ia conversar com o Dr. Aléssio Viero quase todas as manhãs, antes de voltarem cada um para suas lides jurídicas.

Claro que acreditei, respondendo que, se eu passar dos 80 anos saudável que nem ele, visitarei o Rodrigo todos os dias.

Recentemente, quando me separei, busquei orientação na amizade e nos conselhos do Dr. David, que me disse:

"Rapaz, tu ainda vais enroscar a roupa em muito arame por aí".

Minha última mensagem para o Dr. David foi de cumprimentos pelos seus 89 anos, no dia do descobrimento do Brasil, no começo do outono.

Em 26 de julho de 2025,  David Marin Bressan se tornou um dos veteranos do meu tempo que desapareceu desse plano da existência.

Junto com tantas outras lembranças, fica aqui meu testemunho da amizade e da admiração que conservo por um homem que amou seu país, sua família e sua profissão, sendo ídolo para mim e para tantos outros advogados santiaguenses.



sexta-feira, 13 de junho de 2025

TIRAS

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RUDOLF GENRO GESSINGER    

            Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Eros Grau usou em um julgamento colegiado uma célebre e cirúrgica frase sobre a hermenêutica jurídica: “a Constituição não se interpreta em tiras”.

        De forma ampla, o que ele quis dizer é que o Direito não se interpreta a partir de textos isolados, mas a partir de uma leitura sistemática que considere as interfaces das disposições legais espalhadas no Ordenamento Jurídico, no topo do qual reina a Constituição da República.  

         Atualmente, a mais diferencial das habilidades é conectar conhecimentos: saber como cruzar as informações.

O Google nos traz quantas tiras de informação quisermos. Ninguém mais compra enciclopédias físicas, pois se tornaram obsoletas e incapazes de reter em suas páginas as crescentes fronteiras do conhecimento humano. 

        Cinco anos atrás, vivíamos o período de isolamento social que a pandemia do COVID-19 impôs. O jeito de fazer amizades quem sabe não tenha mudado, mas a forma de cultivá-las sem dúvida não é mais a mesma.

        Amizades exigem tempo, disponibilidade e pressupõe confiança. A pandemia nos ensinou a selecionar melhor como e com quem investimos nosso tempo, bem precioso que não para, não espera e não avisa quando vai acabar.

Especialmente entre os mais idosos, a plasticidade de construir novas relações ficou reduzida pelo distanciamento físico entre as pessoas por mais de um ano. Outra barreira que se ergueu nesse período foi o excesso de uso de celular, que gera prejuízos cognitivos ainda maiores nos idosos do que nas crianças.

Amigos são a família que podemos escolher e, portanto, é indispensável que separemos algum tempo para conversar, ouvir de forma ativa e compartilhar experiências.

A propósito, o antigo Direito Grego conceituava família como o conjunto de pessoas que come na mesma mesa e que se aquece com o mesmo fogo. Atualmente, uma visão necessariamente mais plural das relações sociais propõe, inclusive, uma mudança de nomenclatura da ciência que estuda e regula as questões familiares para Direito das Famílias.

No seio da minha família, alterno com minha mãe a posição de churrasqueiro da casa.

Cada peça de carne possui seu ponto de cocção, de forma que a forma de corte e a quantidade de fogo diz quase tudo sobre o método de preparo do churrasco.

Quanto ao fogo, o que assa a carne não é a lavareda e sim o braseiro. Recomendo que seja iniciado o fogo uns 15 ou 20 minutos antes de espetar a carne ou coloca-la acima da grelha.

Também aconselho não economizar em lenha ou carvão, pois se ganha em tempo de preparo e em suculência da carne.

 


terça-feira, 29 de abril de 2025

REFLEXÕES SOBRE PORTO ALEGRE

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RUDOLF GENRO GESSINGER

Antes de ir morar na capital, eu não conhecia praticamente nada de Porto Alegre. Assim como acontece com o Rio de Janeiro, a grande imprensa prefere exaltar fatores negativos - principalmente a violência urbana, mal comum a todas as cidades grandes – a efetivamente informar a população a respeito de o que de relevante ocorre na vida em Porto Alegre.

Por exemplo, não entendo por que seria interessante para nós, em Santa Cruz do Sul, ouvirmos numa rádio de alcance estadual que há um ônibus quebrado na Avenida Protásio Alves, nem que ocorreram, na madrugada, duas mortes na localidade de Buraco Quente, provavelmente relacionadas a disputas territoriais de traficantes de droga.

Essa visão provinciana de quem já se proclamou “a tua voz” pode estar relacionada ao fato de que nossa capital está afastada de outros grandes centros urbanos do país, especialmente considerando que a cidade de porte semelhante mais próxima é Curitiba.

Porto Alegre é uma cidade de serviços e de convenções. Apesar de alguns embelezamentos promovidos por iniciativas público-privadas, como a lindíssima Orla do Guaíba, a vocação da cidade não é turística e provavelmente nunca será. O funcionalismo público domina as oportunidades profissionais, o que me parece contribuir para engessar a mentalidade dos habitantes da capital.

Quem chega do interior obstinado a se destacar tende a  conquistar seu espaço na capital.

Importa ir para Porto Alegre buscar um atendimento médico ou jurídico especializado, fazer um curso de excelência em alguma grande instituição de ensino superior, ou desfrutar da rica gastronomia e dos variados bares que a cidade oferece.

Como eu já tinha escrito em texto anterior, nesse mesmo espaço, as regiões metropolitanas de Porto Alegre e de Salvador tiveram reduções de quase 10% de seus habitantes entre os censos populacionais de 2010 e de 2022. No caso gaúcho, há uma notória e progressiva debandada de gente rumo a Santa Catarina, atrás de objetivos de vida como morar perto da praia e ter boa qualidade de vida.

Os limites estruturais e logísticos do estado vizinho me geram dúvidas sobre a sustentabilidade de todo esse crescimento que temos visto nos últimos anos, mas isso é assunto para um futuro texto próprio.

Reparei que o trânsito de Porto Alegre retomou os níveis pré-pandemia, o que é mais bom do que ruim. Na última semana, o South Summit trouxe bastante movimento para a cidade, como tem sido em todos os anos, se consolidando como uma vitrine cada vez mais interessante para o empreendedorismo de toda a região sul do Brasil.


segunda-feira, 31 de março de 2025

A AVIAÇÃO COMERCIAL FICOU MAIS PERIGOSA?

 

RUDOLF GENRO GESSINGER

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Realmente chama atenção a quantidade de acidentes aéreos nos últimos meses, no Brasil e no resto do mundo.

Desde piá gosto muito de aviões. Leio, estudo e acompanho a aviação por hobbie, de forma que amigos meus começaram a me perguntar se ficou mais perigoso viajar de avião.

A resposta é definitivamente não.

Enfatizando, a aviação comercial dificilmente perderá o seu posto de meio de transporte mais seguro que existe. Sim, mesmo andar a pé é potencialmente mais letal, pois a chance de uma pessoa morrer atingida por um raio é maior do que morrer a bordo de uma aeronave comercial.

        Até vou escrever em algarismos para explicitar melhor como é remota a chance de perder a vida num acidente aéreo: 1 em 11.000.000 (onze milhões).

        Considerando que é improvável, por que tantos aviões têm caído?

        É precipitado tirar conclusões a partir dos noticiários, especialmente de coberturas no local do acidente. Um estudo aprofundado deve ser feito para apurar adequadamente toda a sequência de eventos que levou à tragédia.

Como toda a grande catástrofe, os acidentes aéreos não acontecem simplesmente, pois são resultados de uma cadeia de eventos. As causas mais frequentes são erro humano e falha mecânica, sendo bem objetivo, mas vários fatores são estudados na investigação, que no nosso país é conduzida por um órgão da Força Aérea Brasileira (o CENIPA).

Portanto, quanto a esses últimos acidentes em São Paulo, Washington e Toronto, por exemplo, é mais confiável aguardar a divulgação dos relatórios finais das investigações. O que tenho certeza é que esses três acidentes não têm relação entre si e que não tornarão a aviação comercial menos operacional ou menos segura. Pelo contrário.

        O avanço da tecnologia tanto na navegação quanto nos sistemas de controle dos aviões diminuiu exponencialmente a quantidade de acidentes nas últimas quatro décadas, pois estreitou a margem para erro humano e tornou melhores e mais rápidos os diagnósticos de eventuais falhas mecânicas.

        Fora que o treinamento dos pilotos é rigoroso e rotineiro na aviação comercial, o que aumenta a confiabilidade e a segurança do transporte aéreo. Por mais amplo que seja o uso da tecnologia, ainda é indispensável a figura humana nos controles.

        O senso de oportunidade e conveniência e uma análise mais otimista de determinados números são virtudes que o piloto automático ainda vai demorar para desenvolver.

        A propósito, tem um brocardo da aviação que adotei como filosofia de vida: “Nunca permita que o avião leve você a um lugar onde sua cabeça não tenha chegado cinco minutos antes”.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

AINDA HÁ JUÍZES EM BERLIM?

         RUDOLF GENRO GESSINGER

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            Ruy Armando Gessinger, meu pai, foi o segundo homem natural de Santa Cruz do Sul a tomar posse como Desembargador no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, formado em Direito pela UFRGS. Além de ter sido, na juventude, delegado de polícia e advogado, ele fez carreira como juiz de direito, atendendo as comarcas de Horizontina, Arroio do Meio, Santiago, Ijuí, São Leopoldo e Porto Alegre.

             Nas primeiras duas comarcas, meu pai foi o primeiro juiz. Há cinquenta anos, a subseção da OAB de Santiago foi criada também com a ajuda dele.

         Naturalmente, ao longo de toda a carreira dele aconteceram muitas histórias de julgamentos importantes do qual meu pai participou ou das causas em que ele defendeu quando advogado, ofício que voltou a exercer depois de se aposentar da magistratura. Ele adora – e sabe- contar essas histórias, caprichando nos detalhes.

             Meu pai tratava com lhaneza os advogados. Sempre buscava conciliar as lides, sendo equidistante entre as partes, mas auxiliando que achassem um denominador comum para encerrar a contenda. “Não pode deixar o processo dar cria”, é uma frase que traduz a filosofia que ele tinha ao analisar uma causa.

            É salutar para a evolução da sociedade que o tempo passe, deixando para trás características bonitas ou feias das épocas. Mudanças precisam acontecer, mas não sempre de forma radical ou revolucionária.

          Eu peguei o final da época do processo físico. Muito forcejei pelos balcões dos fóruns Rio Grande do Sul a fora para tirar cópia daqueles cadernões. Era importantíssimo saber o nome de quem te atendia no balcão: fazia a diferença na hora de priorizarem alguma petição tua.

          Em comarcas distantes, era fundamental ter um correspondente. Outro advogado para auxiliar com diligências ou mesmo para fazer uma audiência. A advocacia do interior sobrevivia disso.

          Na sala dos advogados, quase sempre encontrei ambientes agradáveis, onde os colegas se juntavam para tomar um cafezinho e trocar experiências. A digitalização dos processos e a pandemia se encarregaram de praticamente extinguir esses momentos.

          As revoluções vêm. Às vezes não para melhor, mas para sempre. Há também os retrocessos disfarçados de revolução.

          Nos últimos meses, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a entidade que deveria fazer o controle de qualidade do Poder Judiciário em todos os âmbitos, tem feito um lamentável esforço para acabar com o direito de os advogados fazerem sustentações orais nos Tribunais. É uma postura, no mínimo, contra as bases da cidadania.

             Não sei se ainda há juízes em Berlim; jamais haverá advocacia calada.

                   

         

 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

CREDIBILIDADE DA INFORMAÇÃO

 RUDOLF GENRO GESSINGER

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Considerando o reboliço que houve na semana passada em volta de uma possível taxação do pix, eu não poderia começar a coluna sem comentar a respeito desse assunto.

Inicialmente, não há nenhuma tarifa ou tributação incidente na operação de pagamento por meio de pix.

O que existe é uma comunicação por parte das instituições financeiras à Receita Federal caso sejam realizadas movimentações superiores a cinco mil reais por mês em contas bancárias de que sejam titulares pessoas físicas ou que ultrapassem quinze mil reais mensais, no que diz respeito às pessoas jurídicas.

Transmissão de informações entre bancos e governo, grosso modo, nada de nova tributação... Por enquanto!

No meio dos anos 1990, foi instituído um tributo incidente sobre transações financeiras de modo geral. Chamava-se Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, ou CPMF, a tarifa que se pagava pelo simples ato de transferir dinheiro para alguém.

A CPMF não deixou saudades e a posição oficial do governo federal é de que sua cobrança não será retomada.

É o que se tem por verdade até o fechamento dessa coluna.

O que mais me impressionou ao longo da tormentosa semana passada foi que informações colidentes a respeito do tema da tributação do pix foram publicadas em massa, gerando confusão e revolta insustentáveis em muitas pessoas. Por pouco não houve uma convulsão social.

Uma empresa mineira de inteligência de dados e consultoria empresarial – Quaest – divulgou uma pesquisa que apontou a desconfiança de 67% dos brasileiros de que o governo federal pode começar a tributar o pix, ainda que pronunciamentos oficiais do Presidente da República em exercício e do Ministro da Economia tenham sido em sentido contrário.

Em outras palavras, as pessoas têm dificuldade em saber o que é verdade e o que é desinformação. A própria imprensa precisa reaprender a se filtrar para fazer seu papel com responsabilidade e transparência, de forma que o público sinta credibilidade nas informações que recebe.  

Uma boa dose de crítica por parte de quem consome a informação também é indispensável para evitar paralogismos: não é porque conseguimos enxergar claramente o sol que ele seja exatamente do tamanho que o vemos.

Por isso, caro leitor, muito cuidado com as matérias que os algoritmos trazem entre as notícias do Google. Ali aparecem as informações que devem prender a atenção do usuário. O intuito é esse.

A inteligência artificial logo aprenderá a apurar a veracidade das informações filtrando os conteúdos que têm credibilidade; a todos nós cabe a mesma tarefa.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

A TEMPORADA COLORADA

RUDOLF GENRO GESSINGER

 O futebol profissional é negócio. Porque negócio, segue os pressupostos para o sucesso no empreendedorismo: gestão, planejamento e, permeando ambos, investimento.

A paixão é a motriz não só do esporte, mas de toda forma de entretenimento. Entretanto, é impossível fazer futebol sem investimentos que demandem bastante dinheiro.

No caso do Sport Club Internacional, a temporada de 2024 teve amplificadas – e adiantadas pela Liga Forte Futebol – receitas de cotas de televisão. Com o dinheiro em caixa, se estabeleceu um planejamento a curto prazo para sair do incômodo jejum de mais de quarenta anos: seria formado um time estrelar para ser campeão brasileiro.

Os reforços mais badalados não chegaram a jogar juntos e não corresponderam individualmente, tanto por questões físicas quanto técnicas. A enchente tirou do prumo um time que ainda não tinha encontrado sua formação titular. A troca no comando técnico também atrasou a reação que fez a torcida sonhar em ser tetracampeã nacional.

Mas, mais uma vez, faltou fôlego para disputar o título nas rodadas finais. Mesmo assim, fez-se uma das maiores sequências de invencibilidade do colorado: 16 jogos.

Em razão dos fracassos acima listados e de outras esculhambações, a dívida do clube subiu para oceânicos R$ 693 milhões.

Note-se que a injeção de dinheiro da Liga Forte Futebol foi aplicada em desobediência aos pilares do empreendedorismo, pois se geriu mal um recurso precioso fazendo um investimento caro, a curto prazo, e arriscado demais. Em 2024, o Inter deu um all in e perdeu.

Como se não bastasse, o Conselho Deliberativo não aceitou uma sugestão boa oferecida por uma direção ruim: a emissão de debêntures. Essa alternativa funcionaria impropriamente como um empréstimo, pois os juros pagos pelo dinheiro dos sócios seriam mais baixos do que os praticados na praça.

O produto da venda de Gabriel Carvalho serviu somente para evitar perdas mais expressivas. O incêndio é grande e recusei encher meu bico de água para combatê-lo. Sequer respondi ao e-mail enviado aos sócios para anteciparem 12 mensalidades em troca de camisas de jogo ou outros brindes ilusórios.

Sem café no bule, o Inter volta das férias sem nenhum reforço anunciado e sem perspectivas de trazer novas estrelas, não aproveitando o atrativo de uma Libertadores da América por disputar, já na fase de grupos.

Eu ficaria muito feliz e aliviado se a direção declarasse que o objetivo para a temporada de 2025 é sobreviver.

Seria um gesto de humildade e de sensatez. Nós, colorados, estamos machucados de tantas desilusões.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

SOBRE A TRIBUTAÇÃO

RUDOLF GENRO GESSINGER


Inicialmente, esclareço que não pretendo ignorar a existência do dever fundamental de pagar tributos, ou incentivar que não sejam pagos. É curioso, contudo, que não conheço ninguém que fique feliz ao pagar o IPVA, por exemplo.

Maioria das pessoas faz de tudo para pagar a menor quantia possível de tributos, pois a carga tributária do Brasil é uma das maiores do mundo (atinge 33,7% de toda a riqueza produzida por bens e serviços no país). Por isso, não falta serviço para os contadores.

O Brasil é uma federação, um conjunto de várias unidades estaduais, cada qual com seus municípios. Assim sendo, os tributos que custeiam a atividade estatal são arrecadados pelo Município, pelo Estado ou pela União, a depender da competência tributária de cada ente federativo. A União é a destinatária de maioria dos valores pagos a título de tributos, enquanto os Municípios têm as menores arrecadações.

O tributo é gênero do qual é espécie o imposto. Recentemente, o Governo Federal anunciou que fará alterações na cobrança do imposto de renda, de competência da União.

Em síntese, a ideia é aumentar a arrecadação ao isentar os mais “pobres” e cobrar mais dos “super-ricos”, novo conceito que se refere às pessoas que ganham mais de cinquenta mil reais por mês. Vale lembrar que ainda não foi regulamentado o Imposto sobre as Grandes Fortunas, previsto no texto original da Constituição da República.

Mas é salutar para a economia tributar os super-ricos ou as grandes fortunas? Experiências de outros países indicam que a resposta é não.

França e Argentina, mais recentemente, investiram nessa política e enfrentaram grandes fracassos, com ricos saindo desses países e arrecadações muito abaixo do orçamento dos governos. Objetivamente, os resultados foram insatisfatórios tanto para os governos quanto para os contribuintes.

Super-ricos têm acesso a soluções jurídicas para equilíbrio, organização e, pior ainda para o país, ocultação de patrimônio no exterior. A falta do dinheiro que não é investido por eles dentro do país é compensada pelo aumento dos preços das mercadorias, piorando a situação da camada da população que mais paga tributos proporcionalmente ao que ganha: a classe média.

Se mantido o cenário atual, tudo indica que o Brasil terá de encontrar outra solução para equilibrar as contas públicas. Uma reforma tributária é necessária, mas há que se discutir no Congresso Nacional mudanças mais profundas e duradouras.

Deve ser amadurecida a ideia de o Brasil fortalecer seu federalismo, destinando aos municípios maioria da receita que vem do pagamento de tributos.  

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

A NATUREZA SEGUE GRITANDO

 RUDOLF GENRO GESSINGER

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        Esse é o terceiro texto que escrevo nesse nobre espaço a respeito dos eventos climáticos que têm atordoado todos, especialmente nós brasileiros, nos últimos tempos.

         Já nos parecem distantes os dias que não pudemos ver o céu. Foi na primeira semana de setembro que as queimadas no Pantanal e na Amazônia enfumaçaram não só grande parte do Brasil, mas também países vizinhos.

          Belo Horizonte, por exemplo, chegou a ter o ar dez vezes mais poluído do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que representou potencial risco à saúde das pessoas. A prefeitura local chegou a sugerir à população que usasse máscaras faciais para que se protegessem das toxinas soltas no ar. Veja-se a que ponto chegou!

Em Porto Alegre, ainda não foram realizados a contento os reparos necessários nos diques de contenção do guaíba e nas bombas de drenagem. Afora os lugares que ainda precisam ser limpos e reconstruídos, o horror que foi o mês de maio pode voltar a assombrar a capital gaúcha a qualquer momento.

Não sei se as queimadas pararam ou só diminuíram a ponto de a fumaça se diluir mais ao seco norte do país. Simplesmente parou de se falar nesse assunto.

          Nessas últimas semanas de dias lindos, com os jardins florescendo sob o sol ameno da primavera, ist alles blau!

Mas em paralelo ao nosso alívio momentâneo, a natureza segue gritando. As viroses e os surtos de covid que têm ocorrido regionalmente deixam claro que há um desequilíbrio ecológico, pois assim surgem e se propagam as zoonoses.

          Deixamos se perder o costume de passar álcool em gel nas mãos, bem como de higienizar bem os produtos que compramos no supermercado. A propósito, passou da hora de se cobrar pelas sacolinhas plásticas.

Uruguai e Chile cobram o equivalente a cinquenta centavos de real a sacolinha. Que aqui fosse quinze centavos, já ajudaria as pessoas a criarem consciência de levarem sacolas de casa para fazerem suas compras, prática comum na União Europeia há bastante tempo.

Vi muitas pessoas com suas próprias canecas na Oktoberfest: é um gesto ambientalmente corretíssimo. A poluição que se evita ao descartar menos plástico é uma contribuição fácil de se fazer em pequenas atividades do cotidiano e faz diferença no âmbito doméstico.

A atitude de cada um faz diferença para termos o lugar onde vivemos limpo e saudável. Não temos um “planeta B” para o caso de esgotarmos os recursos naturais da Terra a um ponto de não retorno. A natureza não só é linda e importante, ela é necessária para a existência e continuidade da nossa vida.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

QUESTÕES SOBRE AS “BETS”

 RUDOLF GENRO GESSINGER


Menos de um ano atrás, foi publicada uma lei federal estabelecendo as primeiras regulamentações ao que foi chamado de apostas de quota fixa.  Na prática, foram legalizadas no Brasil as casas de apostas online, conhecidas popularmente por “bets”, que se proliferaram no mercado nacional, auferindo lucros muito expressivos nos últimos meses.

Não sou contra a abertura do mercado; pelo contrário, defendo a menor burocratização para se empreender e a redução da altíssima carga tributária suportada pelos empresários.

Contudo, as “bets” se tornaram células cancerígenas na economia brasileira, uma vez que dezenas de bilhões de reais estão saindo do país enquanto os brasileiros – especialmente os socioeconomicamente desfavorecidos – estão se endividando além de um ponto de recuperação. Os números são colossais: beneficiários do Bolsa Família gastaram somente no último mês de agosto três bilhões de reais em apostas online.

Maioria desse valor é depositado nas “bets” por meio do pix ou por cartão de crédito, o que é mais preocupante em termos de inadimplemento, pois sujeita pessoas já hipossuficientes aos maiores juros do mercado.

Enquanto o endividamento das famílias brasileiras sobe, o Congresso Nacional instalou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a atuação das “bets” no país. Suspeita-se que existam organizações criminosas atuando com lavagem de dinheiro, evasão de divisas, entre outras irregularidades.

Vale lembrar que, ao longo do ano passado, o Ministério Público do Estado de Goiás instaurou a Operação Penalidade Máxima, cujas investigações explicitaram um grande esquema de manipulação de resultados em jogos de futebol profissional, mediante pagamento de propina a jogadores.

Em paralelo à CPI, alterações à já obsoleta “lei das bets” visam a uma melhor regulamentação para operação das empresas de aposta online no Brasil a partir do ano que vem. O Ministério da Fazenda já abriu cadastramento para “bets” operarem regularmente no país, mediante o cumprimento de determinadas regras e requisitos.

Claramente, o Brasil está passando por um problema muito sério e que não se resume aos prejuízos financeiros: estamos diante de uma emergência de saúde pública, a qual exige a criação de políticas públicas de âmbito federal.

Acreditando que apostar pode ser um investimento de alto retorno, quem tem pouca renda gasta o que não tem e normalmente perde. Há notícias de viciados em aposta que perdem o emprego, a família e a própria vida no desespero para recuperar seus prejuízos.

A saúde dessas pessoas merece maior atenção.

 

 

 

sábado, 19 de outubro de 2024

COMPROMETIMENTO

RUDOLF GENRO GESSINGER

A vida exige que tu te comprometas com teus projetos. Precisas fazer acordos, honrar a palavra, vencer os prazos.

Por vezes, contudo, é mais fácil se comprometer com os outros. Tua mãe precisa de algo, teus amigos, teu filho, a empregada. A cada tanto alguém vai te demandar e isso é corolário de assumir responsabilidades. O mais trabalhoso é se comprometer com tuas próprias ideias, dar sequência.

Um mandamento que aprendi pelas pessoas que me criaram foi que não podes deixar serviço pelo meio. Comer tudo que está no prato, se servir aos poucos, não precisas te embuchar.

Enquanto responsáveis, precisamos nos comprometer. Precisamos entrar em um acordo conosco sobre o que queremos para o futuro.

Se não for possível para ti abrir mão de nada pelo futuro, teu destino é ver o presente e suas circunstâncias se apagando. Não desejar nada melhor à frente tende a te deixar à deriva, como um plástico boiando no mar.

Se só olhares para o passado, teres crenças sobre a vida das quais não consegues abrir mão, não viverás mais dentro do presente – o único tempo que existe - quanto menos vislumbrarás o futuro.

Olhar o amanhã por vezes é ter esperança. É lutar por um ideal.

Se não existirem desafios, já morreste e não sabes. “Há mortos que morrem devagar”, acho que foi no Foucault que li esse trecho precioso.

Essa frase se prova verdadeira na imagem de um toco. Antigamente árvore, hoje meio ou completamente seco, apodrecendo. Árvore em pé, por menor que tenha ficado, mas morta por dentro.

 Se passaste por momentos difíceis sem que tenhas superado o esforço do trajeto, já foste algo e agora és uma sombra. Se não tens nenhuma expectativa sobre o futuro, teus sonhos acabam e passas a viver congelado num tempo que não existe mais.

Tu simplesmente não consegues te comprometer com teu futuro. És resultado de algo que não consegues mudar, sendo refém das circunstâncias e das decisões dos outros. Se tu não queres escolher, certamente alguém te imporá o que fazer.

Quem não molda seu futuro é agente passivo da vida.

Poderias ser mais se... Maldito se. Se não fossem traumas, se não fosse teu medo de mudar, se não fosse o apego que tens pelo teu passado. “Se” não faz diferença nenhuma.

Quem vive de “se” se contenta com o “quase”, porque o que tu podes ser nunca vai ser resultado do Se tivesses feito alguma coisa a respeito. Quando te comprometes com algo, tu o fazes. Todos os dias, por menor que seja o progresso.

Pelo teu amanhã. Nem que o amanhã acabe amanhã, fizeste algo a respeito.

Somos resultado de ações, não de suposições.

sábado, 10 de agosto de 2024

DESMETROPOLIZAÇÃO

RUDOLF GENRO GESSINGER         

www.gaz.com.br/desmetropolizacao/

          

          No início para o meio do século passado, a metropolização – fenômeno contrário ao que dá o título desta crônica – impulsionou o êxodo rural conforme o Brasil se industrializava. A população de nosso país acabou por se tornar majoritariamente urbana e a maior diversidade de empregos que o fortalecimento das indústrias criou, direta e indiretamente, amontoou pessoas em volta das crescentes capitais brasileiras.

        A explosão demográfica entre os anos 1950 e 1970 acabou por prejudicar o urbanismo das capitais, pois houve crescimento desorganizadamente acelerado das cidades, muitas vezes sem o adequado planejamento, de forma que os limites entre dois municípios vizinhos acabaram não se tornando claros. O encontro de duas cidades em um único núcleo urbano se chama conurbação.

        Como consequência da conurbação, se formaram as regiões metropolitanas.  

        O último censo demográfico brasileiro, realizado no ano de 2022, registrou consideráveis reduções populacionais nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador. Esta última região metropolitana teve decréscimo de quase 10% de seus moradores em relação à quantidade apurada censo demográfico de 2010.

        Mobilidade urbana, custo de moradia, segurança pública e qualidade de vida são os fatores mais clássicos que atraem as pessoas para viverem em municípios menores. Recentemente, a consagração do teletrabalho em muitas profissões alavancou o fenômeno da desmetropolização.

        No interior do Rio Grande do Sul, diversas cidades melhoraram visivelmente sua infraestrutura, com melhores hospitais e educação de qualidade, mas ainda falta emprego. Mesmo assim, os jovens ficam mais tempo, pois há opções de lazer, acesso a bens de consumo, seja pelo comércio local ou pela facilidade que se tornou comprar qualquer produto pela internet com frete grátis ou consideravelmente barato.

        Particularmente, eu entendo que viver no interior propicia a criação de vínculos mais profundos e duradouros, pois existe maior proximidade entre as pessoas. Em regra, te atendem com bom humor, te recebem muito bem em casa, se arranja tempo para conversar com algum amigo ou conhecido que cruzar por ti na rua e tudo se ajeita mais fácil na tranquilidade em que se espicham os dias.

Em suma, observo que quem vive no interior se organiza melhor, escuta mais e não vive esgotado pela rotina que as pessoas normalmente levam numa região metropolitana.

        Caso o leitor se interesse em se aprofundar no assunto, recomendo a obra de Milton Santos chamada A Urbanização Brasileira. É interessante e fácil de ler.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

DUZENTOS ANOS DE ORGULHO

RUDOLF GENRO GESSINGER

    "A celebração do bicentenário é uma homenagem e um agradecimento aos nossos antepassados alemães”. Assim disse em uma entrevista para a Vale TV o presidente da Comissão Oficial do Bicentenário da Imigração Alemã, Rafael Koerig Gessinger, meu irmão.

        Não se trata somente de um momento de festividade pela chegada de uma data marcante no aspecto temporal, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul fomenta e protege um patrimônio cultural que ajudou a moldar a identidade do povo gaúcho ao longo desses duzentos anos.

        Em 25 de julho de 1824, as 39 pessoas falantes da língua alemã – na época, a Alemanha ainda não era Estado unificado – chegaram num remoto território gaúcho com esperança e muito trabalho para construir uma vida melhor.

Exatamente pela necessidade de abrir picadas nos matos do vale do Rio Pardo para construção das moradias, lavouras, igrejas e escolas, foi chamado de Alt Pikade, de Picada Velha e depois de Picada de Santa Cruz o hoje pujante município de Santa Cruz do Sul.

Como ensina Martin Dreher, a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em 1824 possuía uma única escola mantida a partir dos cofres públicos: o Colégio Militar de Porto Alegre. Honrando a fibra característica do povo alemão, os imigrantes que aqui chegaram contribuíram para o avanço da alfabetização no Rio Grande do Sul, criando em cada picada novas escolas, com grande contribuição da Igreja Luterana.

Em outros estados do Brasil, a imigração alemã foi marcante no Espírito Santo e mais significativamente contribuiu para formação de Santa Catarina, que conta com cidades em que a culinária, a música, a arquitetura e as celebrações alemãs são atrações turísticas relevantes, casos dos municípios de Blumenau e Pomerode, por exemplo. 

Também é notável e riquíssimo em termos culturais como o regionalismo alemão também se posicionou em diferentes lugares do Rio Grande do Sul.

Panambi, que até hoje tem programas de rádio transmitidos no idioma alemão, teve seu território povoado por imigrantes vindos de Württemberg, no Alto Reno. Em São Lourenço do Sul se tende a falar o idioma alemão no dialeto pomerano. Outras diferenças linguísticas se notam entre as regiões do Vale do Rio dos Sinos, de Igrejinha, de Lajeado e assim por diante.

        Para quem se interessar mais pelo trabalho que a Comissão do Bicentenário da Imigração Alemã e suas subcomissões têm desenvolvido, o site da Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul possui uma página que contém um manancial de conteúdo, cujo link colaciono a seguir: https://cultura.rs.gov.br/noticias-6581cd59ef762.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

FUTEBOL EM DECLÍNIO

 

RUDOLF GENRO GESSINGER


Vocês têm visto como está baixo o nível do futebol na Eurocopa? Até o fechamento desta coluna (antes das semifinais), os quatro artilheiros possuem três gols cada, sendo que foram marcados dez gols contra em toda competição. São jogos sem muitas alternativas de jogadas de ataque e de defesas exageradamente abertas e esculhambadas, como a da Itália.

Não que a Copa América esteja enchendo os olhos, afinal historicamente não é o que acontece. Nos jogos que terminaram empatados e foram para os tiros livres da marca do pênalti, foi entregue alguma emoção ao espectador. Na disputa, os goleiros perdedores também brilharam defendendo cobranças.

Na Eurocopa, a prorrogação era só mais 30 minutos de suplício para quem jogava e para quem assistia.  

Esboçada a caricatura, pintemos o fundo do quadro.

O futebol, enquanto produto, deve(ria) ter como foco entregar entretenimento para seu consumidor. Logicamente é importante vencer, mas não sacrificando o espetáculo.

Não ignoro que o futebol se tornou mais físico que nos anos 1980, por exemplo, época marcada por times técnicos como a inesquecível Seleção Brasileira de 1982. Para dar espaço a uma musculatura presa para aguentar a carga de jogos, saíram o drible, a técnica e o tempo de treinamento para cobrar uma falta com perfeição.

Os goleiros são os únicos jogadores com prerrogativa de serem atendidos pelos médicos em campo, interrompendo a sequência da partida. Não é concebível, entretanto, que a cada grande defesa o goleiro se contorça no gramado e chame atendimento médico para “ganhar” tempo.

Circunstancialmente, é uma estratégia para esfriar o ímpeto do adversário, mas usada com muita frequência, só torna o jogo chato, picotado. Nenhum acréscimo devolve a naturalidade do jogo, que os goleiros consomem fazendo cera.

Aliás, será que não poderíamos repensar a extensão do jogo? E se fossem dois tempos de trinta minutos ou três de vinte? Seria condizente com uma época em que aceleramos tudo no mínimo para a velocidade 1.5.

No basquete dá certo jogar em tempos curtos.

A essência popular do futebol, que germinou e fez florescer o esporte, está há tempo minguando.

A começar pelos campos: é preciso uma organização semiprofissional para juntar vinte e duas pessoas para jogar futebol de campo, em qualquer horário que seja. Mesmo no Society é uma luta para fechar dois times, fora que não existem quadras a menos de 10 reais por jogador.

Sem a grama sintética que arrebenta joelhos e tornozelos, beach tennis e padel, por exemplo, têm se mostrado mais atrativos para quem quer praticar um esporte no tempo livre.