RUDOLF GENRO GESSINGER
https://www.gaz.com.br/dia-do-orgulho-gaucho/
Não foram amansadas pelos livros de história as pessoas que dizem que o gaúcho é o único povo que comemora uma guerra que não venceu.
No 20 de setembro, se comemora a
identidade cultural que nos distingue enquanto povo que não se conforma com
autoritarismos nem com arbitrariedades.
Na verdade, depois de quase uma década
de conflito, a maior guerra civil da história do país resultou no que os farroupilhas
buscavam: menor tributação do couro e do charque e alguma integração da então
Província de São Pedro com o extinto Império do Brasil.
A revolta com as explorações do
Império foi retratada na bandeira que os farroupilhas carregavam na ponta de
suas lanças: as cores verde e amarela da Coroa rompidas por uma faixa diagonal
vermelha.
Muito antes de chegarem ao nosso
Estado os imigrantes europeus, incontáveis negros e índios derramaram seu
sangue nas coxilhas defendendo a terra que ganhava contornos de pátria. A
bravura desses homens se tornou símbolo de união do povo, que mostrou sua força
na enchente de 2024.
Provavelmente, maioria dos farrapos
não compreendiam exatamente por que estavam lutando. Aqueles homens, entretanto,
eram unidos pelo cavalo, pelo lenço e pela empolgação destemida que só o
espírito de revolução proporciona.
A cor do lenço, aliás, diferenciava os
partidos da época. Os conservadores usavam lenço branco e acabaram sendo
identificados como ximangos. Os maragatos vestiam lenço vermelho e, dentro de
suas veias, galopeava a revolta separatista que deu início à guerra.
Hoje em dia, entendo que a distinção
histórica não faça mais tanto sentido para o símbolo cultural do lenço, pois
qualquer uma das duas cores é aceita como parte da pilcha gaúcha.
Meu avô materno, quando ia nos bailes,
vestia pilcha escura e lenço branco. Quando piá de 7 anos, ganhei um poema e um
lenço branco do imortal Antônio Augusto “Nico” Fagundes. Esses dois fatores
influenciaram na minha vestimenta na semana farroupilha e em outras ocasiões
que atraem o uso da pilcha.
Mas não pense o leitor que tiro a
poeira das minhas botas somente em setembro. O que se usa somente uma vez por
ano são as decorações natalinas, pois existe somente um dia do Papai Noel: 24
de dezembro, e pronto.
O 20 de setembro é mais do que o “Dia
do Gaúcho”, como o resto do Brasil chama com boa dose de razão. Todos nós,
independente de origem, etnia, ideologia, comemoramos o dia do orgulho gaúcho.
Se é gaúcho pelas atitudes. Ser gaúcho
é ser trabalhador e ter fibra, assim como é conservar as liturgias da cultura e
amar nosso chão.
O gaúcho é um povo a serviço do
Brasil.