sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

SOBRE A TRIBUTAÇÃO

RUDOLF GENRO GESSINGER


Inicialmente, esclareço que não pretendo ignorar a existência do dever fundamental de pagar tributos, ou incentivar que não sejam pagos. É curioso, contudo, que não conheço ninguém que fique feliz ao pagar o IPVA, por exemplo.

Maioria das pessoas faz de tudo para pagar a menor quantia possível de tributos, pois a carga tributária do Brasil é uma das maiores do mundo (atinge 33,7% de toda a riqueza produzida por bens e serviços no país). Por isso, não falta serviço para os contadores.

O Brasil é uma federação, um conjunto de várias unidades estaduais, cada qual com seus municípios. Assim sendo, os tributos que custeiam a atividade estatal são arrecadados pelo Município, pelo Estado ou pela União, a depender da competência tributária de cada ente federativo. A União é a destinatária de maioria dos valores pagos a título de tributos, enquanto os Municípios têm as menores arrecadações.

O tributo é gênero do qual é espécie o imposto. Recentemente, o Governo Federal anunciou que fará alterações na cobrança do imposto de renda, de competência da União.

Em síntese, a ideia é aumentar a arrecadação ao isentar os mais “pobres” e cobrar mais dos “super-ricos”, novo conceito que se refere às pessoas que ganham mais de cinquenta mil reais por mês. Vale lembrar que ainda não foi regulamentado o Imposto sobre as Grandes Fortunas, previsto no texto original da Constituição da República.

Mas é salutar para a economia tributar os super-ricos ou as grandes fortunas? Experiências de outros países indicam que a resposta é não.

França e Argentina, mais recentemente, investiram nessa política e enfrentaram grandes fracassos, com ricos saindo desses países e arrecadações muito abaixo do orçamento dos governos. Objetivamente, os resultados foram insatisfatórios tanto para os governos quanto para os contribuintes.

Super-ricos têm acesso a soluções jurídicas para equilíbrio, organização e, pior ainda para o país, ocultação de patrimônio no exterior. A falta do dinheiro que não é investido por eles dentro do país é compensada pelo aumento dos preços das mercadorias, piorando a situação da camada da população que mais paga tributos proporcionalmente ao que ganha: a classe média.

Se mantido o cenário atual, tudo indica que o Brasil terá de encontrar outra solução para equilibrar as contas públicas. Uma reforma tributária é necessária, mas há que se discutir no Congresso Nacional mudanças mais profundas e duradouras.

Deve ser amadurecida a ideia de o Brasil fortalecer seu federalismo, destinando aos municípios maioria da receita que vem do pagamento de tributos.  

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

A NATUREZA SEGUE GRITANDO

 RUDOLF GENRO GESSINGER

  https://www.gaz.com.br/a-natureza-segue-gritando/

  

        Esse é o terceiro texto que escrevo nesse nobre espaço a respeito dos eventos climáticos que têm atordoado todos, especialmente nós brasileiros, nos últimos tempos.

         Já nos parecem distantes os dias que não pudemos ver o céu. Foi na primeira semana de setembro que as queimadas no Pantanal e na Amazônia enfumaçaram não só grande parte do Brasil, mas também países vizinhos.

          Belo Horizonte, por exemplo, chegou a ter o ar dez vezes mais poluído do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que representou potencial risco à saúde das pessoas. A prefeitura local chegou a sugerir à população que usasse máscaras faciais para que se protegessem das toxinas soltas no ar. Veja-se a que ponto chegou!

Em Porto Alegre, ainda não foram realizados a contento os reparos necessários nos diques de contenção do guaíba e nas bombas de drenagem. Afora os lugares que ainda precisam ser limpos e reconstruídos, o horror que foi o mês de maio pode voltar a assombrar a capital gaúcha a qualquer momento.

Não sei se as queimadas pararam ou só diminuíram a ponto de a fumaça se diluir mais ao seco norte do país. Simplesmente parou de se falar nesse assunto.

          Nessas últimas semanas de dias lindos, com os jardins florescendo sob o sol ameno da primavera, ist alles blau!

Mas em paralelo ao nosso alívio momentâneo, a natureza segue gritando. As viroses e os surtos de covid que têm ocorrido regionalmente deixam claro que há um desequilíbrio ecológico, pois assim surgem e se propagam as zoonoses.

          Deixamos se perder o costume de passar álcool em gel nas mãos, bem como de higienizar bem os produtos que compramos no supermercado. A propósito, passou da hora de se cobrar pelas sacolinhas plásticas.

Uruguai e Chile cobram o equivalente a cinquenta centavos de real a sacolinha. Que aqui fosse quinze centavos, já ajudaria as pessoas a criarem consciência de levarem sacolas de casa para fazerem suas compras, prática comum na União Europeia há bastante tempo.

Vi muitas pessoas com suas próprias canecas na Oktoberfest: é um gesto ambientalmente corretíssimo. A poluição que se evita ao descartar menos plástico é uma contribuição fácil de se fazer em pequenas atividades do cotidiano e faz diferença no âmbito doméstico.

A atitude de cada um faz diferença para termos o lugar onde vivemos limpo e saudável. Não temos um “planeta B” para o caso de esgotarmos os recursos naturais da Terra a um ponto de não retorno. A natureza não só é linda e importante, ela é necessária para a existência e continuidade da nossa vida.