Eu vim com meus pais da colônia para a cidade depois de morarmos algum tempo em Boa Vista,distrito de Santa Cruz. Meus pais queriam ir para a cidade para que seus filhos estudassem. Éramos só minha irmã Lia, eu e bem depois minha irmã Cleonice, já falecida. Eu tinha 5 anos de idade.
Meu pai se estabeleceu num local perto da então Sudan.
Depois ele acertou na loteria e: hosannas! comprou duas casas na Rua Thomas Flores, 876. Recentemente essas casas foram demolidas. A casa de moradia era de número 864. A outra 876, onde era o armazém.
Vendia-se de tudo. Mas o inexorável aconteceu. Chegou , devagar, o que acabou com os pequenos comércios. Os supermercados.
Mas antes disso meu pai estava bem.
No balcão sempre estava Gazeta de Santa Cruz, se não me engano era esse o nome.
Só depois se transformou para o nome atual.
A Gazeta de então tinha também reportagens internacionais. Eu , com uns 13 anos, me inteirava dos problemas da India, do Nehru, das questões de diversos países, tudo estava na Gazeta. Não se precisava comprar o Correio do Povo ou o Diário de Notícias.
Havia notícias internacionais, mas também nacionais e estaduais. Também, é lógico, os “ potins sociais” do caríssimo Michels.
As tragédias dos Narico, o episódio triste da morte de um Delegado de Polícia e por ai ia.
Tudo isso eu lia sofregamente na Gazeta.
Quando se acendeu nos EUA o problema da segregação racial, entreguei um artigo contra essa prática aos 15 anos. Meu artigo foi publicado na época.
Recentemente
o caríssimo Borowski o localizou e a
Gazeta o repercutiu no ano passado.
Hoje nosso amado jornal está moderníssimo. Acho que a direção fez bem em manter as questões locais, mescladas com colunas e artigos muito importantes.
Atualmente eu, por exemplo, leio o jornal pelo celular .
Mas ainda é muito charmoso o exemplar físico.
Há quem deprecie o jornal de papel. Discordo. Há ainda uma população que quer ler com calma, sublinhar e recortar .
Em suma: a Gazeta me ensinou a ler , a pensar, a escrever e a recordar.