quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

CERTEIRA OPINIÃO DE ROSANE DE OLIVEIRA

 Sou seguidora convicta da máxima de que a minha liberdade termina onde começa a de outra pessoa. Temos falado muito desse preceito quando o assunto é vacina, porque a pessoa não é obrigada a se vacinar, mas no momento em que coloca em risco a vida de outras pessoas deve ser impedida de frequentar certos lugares. Da mesma forma, ninguém pode ser impedido de fumar, mas não pode fazê-lo em local fechado, dentro de um ônibus ou de um avião. Nesta temporada de praia, o sinônimo mais acabado de desrespeito são as caixinhas e caixonas de som.  


Passei o final de ano em Torres, uma praia da qual gosto muito e onde uma das minhas irmãs mora há mais de 30 anos. Já no primeiro dia, na hora de escolher um lugar para instalar cadeiras e guarda-sol, falei para minha filha:

— Vamos andar mais um pouquinho, porque não quero ficar perto dessa caixa de som tocando música ruim.

Minha filha me tirou as ilusões:

—  Desista, mãe. É impossível achar lugar que não tenha essas caixas de som.

Aquela sexta-feira e os dois dias seguintes me mostrariam que ela estava coberta de razão. Apesar da brisa, do mar azul e do sol perfeito, aquelas horas que deveriam ser de contemplação, de ouvir o barulho das ondas, foram de suplício. Porque além dos veranistas que levam suas JBL para a areia, há os vendedores ambulantes que passam oferecendo as ditas caixinhas, e claro, tocando músicas que ferem meus ouvidos. No sábado, um casalzinho se puxou: instalaram suas cadeiras e uma caixa de som de mais ou menos meio metro de altura e azar de quem estava por perto. Na linha “os incomodados que se retirem”, bati em retirada às 11h, o que minha dermatologista recomenda fazer para não ficar muito tempo no sol.

Para piorar, quando um acha que o vizinho está atrapalhando sua música, levanta o volume. Outro faz o mesmo, e o que se tem é uma antissinfonia de músicas sem qualquer sofisticação, letras bagaceiras e vozes esganiçadas. Preciso deixar claro que não gosto de sertanejo (que é só o que toca na praia), mas acharia igualmente errado se fosse Chopin, Piazzolla ou MPB, para citar três exemplos do que escuto no carro ou em casa. Respeito quem gosta de música sertaneja (minha filha ouve e até canta algumas), mas por que não usar fone de ouvido? Não é justo obrigar seu vizinho de cadeira a ouvir o que ele não pediu e não gostaria de ouvir.  

Você deve achar que comecei 2022 muito mal humorada, mas comentei no Gaúcha Atualidade sobre a praga das caixinhas de som na praia e descobri que não estou só. Recebi dezenas de mensagens de ouvintes dizendo que esse inferno está também longe do Litoral. Há cidades em que não se pode tomar um chimarrão ou um ar fresco na praça porque os marmanjos estacionam seus carros com o som a todo volume e fazem essa mesma batalha antimusical. Eu chamaria a Comissão de Direitos Humanos.